Um batalhador da inclusão através do esporte

Alessandro Garcia
Redação Beta
Published in
4 min readOct 30, 2018

As vivências de um pioneiro e campeão do paraciclismo no Rio Grande do Sul que luta para desenvolver a modalidade no Estado

Rodrigo Schu é atleta de paraciclismo (Arquivo pessoal)

Rodrigo Schu, 33, é um jovem triunfense comprometido com o desenvolvimento do paraciclismo no Estado. Atual campeão Gaúcho da categoria Paraciclismo H3*, ele se divide entre as demandas de um atleta de alto nível e ambição de tornar o Rio Grande do Sul um polo da prática desta modalidade esportiva.

O paraciclismo é uma categoria derivada do ciclismo, destinada a pessoas portadoras de deficiência motora. É subdividido em diversas categorias, que variam de acordo com o equipamento utilizado e o tipo de lesão do atleta. A prática se dá com a utilização de handbaike (uma espécie de triciclo pedalado com as mãos) e bicicletas adaptadas.

Rodrigo tem levado adiante a mensagem de inclusão do paraciclismo no Estado, envolvendo-se não só em competições, mas também no treinamento e recrutamento de novos atletas. Como ele mesmo refere, “a gente está criando um cenário de paraciclismo no Rio grande do Sul, mudando a vida de outras pessoas e elevando a inclusão através do esporte. Isso é o que vale a pena ser contado”.

*Atletas com função parcial de tronco, com membros superiores funcionais, mas não aptos a utilizar uma handbike sem o encosto reclinado, por falta de segurança durante curvas. (Confederação Brasileira de Ciclismo, Classificação no Ciclismo)

Rodrigo treina em média cinco horas diárias (Arquivo pessoal)

Repórter: Como começou tua história no paraciclismo?

Rodrigo: Eu jogava, e ainda jogo com menos frequência, basquete na RS Paradesporto em Porto Alegre. Na época, eu pesava 130 kg e precisei melhorar meu condicionamento físico. Então busquei algum exercício cardiorrespiratório que me ajudasse nessa tarefa. Foi quando encontrei a handbike e, a partir daí, achei meu lugar no mundo. Descobri o que amo fazer.

Repórter: Qual o papel que a família e os amigos exercem na tua carreira?

Rodrigo: Sempre recebi muito apoio da minha família. Tanto que hoje minha mãe é minha treinadora e minha equipe é composta por minha irmã e meu cunhado. Meus amigos também são parte fundamental, pois eles viajam comigo e me acompanham nas competições. Todos são peças importantes na minha carreira.

Repórter: Quais foram as maiores dificuldades no início da tua jornada de atleta?

Rodrigo: A maior barreira, no início, foi não existir a categoria de paraciclismo no Estado. A única competição oficial que tinha handbike incluída era a Maratona Internacional de Porto Alegre. Foi onde, numa soma de esforços com a Federação Gaúcha de Ciclismo , conseguimos inserir duas categorias de paraciclismo no Campeonato Gaúcho de Ciclismo: a Paraciclismo H, que abrange todos os competidores em handbikes, e a Paraciclismo C, destinada para as bicicletas adaptadas. Esse é um feito que me dá muito orgulho.

Repórter: Quais os desafios que, ainda hoje, enfrenta?

Rodrigo: Hoje, os desafios são relacionados a patrocínio e a busca por viabilizar minha continuidade no esporte. A handbike é um equipamento de valor alto, de manutenção e reposição de peças igualmente caros. Não temos condições de pagar um treinador profissional, então os dados de performance são todos gerados e analisados por nossa equipe. Esse é o desafio: correr atrás de gerar condições.

Repórter: Quais as conquistas que mais te orgulham?

Rodrigo: O que mais me orgulha é ter sido o pioneiro do paraciclismo no Estado. Estar conseguindo dar notoriedade e expandir a modalidade no RS, por meio de um trabalho árduo de divulgação e conquista de novos competidores. Nos últimos dois anos já tivemos competições exclusivas de Paraciclismo promovidas em parceria com a Federação Gaúcha e a Confederação Brasileira de Ciclismo. Isso me orgulha muito.

Repórter: Competir em alto nível exige alterações na tua rotina?

Rodrigo: Muitas. Eu era um sedentário de 130 Kg. Hoje, após uma rotina intensa de treinamento, estou na casa dos 80 Kg. Minha alimentação é direcionada para os treinos, com suplementos e horários regrados. É uma rotina frenética de dormir e acordar dolorido e, mesmo assim, ir treinar. O ciclismo impõe a exigência da prática diária. Se você fica um dia sem pedalar perde rendimento. Eu treino cerca de cinco horas por dia.

Repórter: Quais são as tuas metas para o futuro?

Rodrigo: Ainda nesse ano quero conseguir comprar uma bike de carbono para, ano que vem, disputar uma medalha no campeonato nacional. Também pretendo competir na próxima Maratona de Chicago. Estou trabalhando para viabilizar esses projetos.

Repórter: Que mensagem tu deixa para motivar as pessoas a seguirem seus sonhos e objetivos?

Rodrigo: Meu objetivo nesse aspecto é combater o esteriótipo de fragilidade do portador de deficiência. Não somos coitadinhos. Somos atletas de alto nível. A única barreira que existe entre a gente e um objetivo é a nossa mente. Não há limitações físicas. Tem uma frase que vi num filme do Robin Hood que levo comigo: “Lutem e lutem novamente até cordeiros virarem leões”. É nesse sentido que eu digo que a gente tem que baixar a cabeça e trabalhar duro, daí o resultado vem.

Posso ajudar?

Rodrigo Schu viabiliza sua participação em competições por meio de financiamentos coletivos e doações. Também oferece cotas de patrocínio para empresas e interessados em colar sua marca nas suas vitoriosas incursões. O atleta pode ser contatado pelo seu perfil no site Facebook ou através de sua Fanpage (@schuhandbike). Também pode ser acionado via telefone e WhatsApp no número (51) 9 9726- 2348.

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