Um novo olhar através da foto

O uso da fotografia inclusiva como forma de conscientização

Dankiele Tibolla
Redação Beta
4 min readSep 26, 2017

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Pâmela, que tem uma doença degenerativa, posa para as lentes de Ivna (Foto: Ivna Sá)

Fotos que inspiram, fotos que provocam um olhar mais simples e a uma reflexão do quanto a vida é linda. Fotos que tornam a deficiência um detalhe que enriquece a fotografia inclusiva. O uso da foto como forma de inclusão e conscientização vem ganhando força e se tornando um grande aliado daqueles que buscam se incluir na sociedade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência (PCDs).

É tentando contribuir de alguma forma que alguns fotógrafos estão inovando e criando projetos fotográficos com pautas sociais. É o caso da fotógrafa e publicitária Tamara Wagner, de Porto Alegre, que criou o Projeto Borboleta.

Caio e Valentina em fotos para o Projeto Borboleta (Foto: Tamara Wagner)

O projeto é um olhar diferenciado sobre crianças com deficiências, possibilitando a inclusão social destas e de suas famílias, montando uma rede de apoio, trocas e informação. “O Borboletas surgiu de uma vontade de fotografar crianças com Síndrome de Down. Então tive a ideia de unir famílias com crianças, não somente com a síndrome, mas com qualquer deficiência, num piquenique no parque. Esse evento ganhou o nome de “Uma Tarde Especial no Parque”, conta a fotógrafa.

Para Tamara, a fotografia é uma das principais ferramentas de inclusão. “Através da fotografia, eu mostro que elas são crianças acima de sua deficiência e têm direitos como qualquer outra, que são lindas, especiais e únicas como todo mundo”, elucida.

Caio Lacerda, 12 anos, portador de paralisia cerebral, ganhou a oportunidade de ser fotografado pelas lentes de Tamara. Claudia Lacerda, mãe de Caio, realizou o sonho de ver seu filho sendo fotografado, pela primeira vez, como qualquer outra criança.

“Ter meu filho fotografado pelo Projeto Borboletas foi a realização de um sonho de quase 10 anos. Eu sempre achei meu filho lindo e assim como fiz com meu primogênito, sonhava em ter fotos, books que registrassem seu desenvolvimento. Mas, pelas condições da paralisia cerebral, eu nunca tinha conseguido. Tentei algumas vezes, mas os fotógrafos não tinham paciência”, conta Claudia.

Caio no ensaio fotográfico (Foto: Tamara Wagner)

A mãe acredita que a fotografia inclusiva lhe trouxe a oportunidade de mostrar o filho a todos. “Poder mostrar ao mundo que, em primeiro lugar, esta é uma criança como qualquer outra, nós faz acreditar que eles realmente possam deixar de ser invisíveis a tantas ações sociais e possam ser vistos além de suas deficiências: são crianças”, finaliza.

Para a fotógrafa e jornalista mineira, Ivna Sá, a fotografia tem um papel muito importante, que é o de conscientizar as pessoas ditas “normais” que o portador de deficiência é alguém com os mesmos direitos que nós.

“A grande maioria das pessoas — como eu também era — é completamente ignorante nos assuntos relacionados à inclusão. E como fotógrafa eu posso usar do meu talento, da minha técnica e apresentar ao mundo, com o poder das imagens, todas essas possibilidades. Um exemplo claro foi a fotografia de uma mãe que é cega e que cuida de sua filha de 10 anos desde pequena, sozinha. Ela faz tudo em casa, desde descascar uma laranja com maestria a trocar uma lâmpada”, explica Ivna.

Maria Aparecida, que é deficiente visual, e sua filha Karina (Foto: Ivna Sá)

Paula Lacerda viu nesses ensaios e através do Projeto Borboleta, uma oportunidade de registrar a vida de sua filha Valentina, 7 anos, portadora de paralisia cerebral, “A fotografia possibilita um olhar especial e consegue enxergar a essência da criança. Este trabalho ajuda bastante a divulgar o quanto elas podem ter uma vida normal. Valeu muito a pena. Todos nós nos divertimos muito e o resultado foram estas fotos maravilhosas”, conta.

A sereia Valentina (Foto: Tamara Wagner)

Para Ivna, a felicidade que essas fotos proporcionam vai muito além de retratar a inclusão.

“A primeira pessoa que eu fotografei foi a Pâmela, de 25 anos, que nasceu com uma doença degenerativa e já passou por vários transplantes. Sua vida é um milagre vivo. A partir da Pâmela, surgiram novos desafios como a fotografia de mulheres cegas. E nessa experiência, foi fantástico o trabalho que realizamos de memória sensorial e audiodescrição para que ela pudesse “ver” as fotos. O que posso dizer é que a fotografia inclusiva foi um divisor de águas na minha carreira”, revela Ivna.

No vídeo, Rafaela, que é deficiente visual, “enxerga” suas fotos em um audiolivro feito por Ivna (Video: Ivna Sá — Para Mulheres)

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