Um pulmão verde em meio à cidade
Complexo Parque Imperatriz, em São Leopoldo, é composto por uma área de quase 700 hectares
Por Luana Ely Quintana e Amanda Wolff
Uma floresta vasta e abundante que abriga dois biomas existentes no Rio Grande do Sul — a Mata Atlântica e o Pampa — resiste em plena área urbana de São Leopoldo. O Parque Natural Municipal Banhado da Imperatriz está localizado à margem do Rio dos Sinos, sendo uma área importante de preservação entre os parques da região.
De acordo com a chefe do Centro Permanente de Educação Ambiental (CEPEA), Yara Regina Stockmanns, trata-se de uma floresta aluvial. Isto é, sujeita às cheias do Rio dos Sinos. Com gestão da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semmam), o Complexo Parque Imperatriz é composto por uma área de 694 hectares de proteção integral formada, principalmente, por planície de inundação do Rio do Sinos, o próprio rio e os seus banhados; além da área do Jardim Botânico, com 14 hectares.
"O parque possui uma inestimável função ecológica no curso do rio, reduzindo o impacto das cheias e promovendo a clarificação das águas e a regulação do fluxo hídrico do Rio dos Sinos, além de uma vivência de contato direto com a natureza”, explica Yara.
Yara esclarece que o parque é contemplado com duas sub-bacias: a do Arroio Sem Nome, que percorre a Região Leste (Feitoria Velha) e deságua no Banhado da Imperatriz, dentro do parque; e a do Arroio Kruze, na Região Sudeste (Morro do Paula, São Borja, Santo André, Rio Branco, Pinheiros e São José), desaguando no Rio dos Sinos, ao lado da captação de água do Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae), junto à zona de amortecimento do Parque Imperatriz.
Proteção ambiental
Dentro do complexo também está presente uma estrutura essencial que compreende áreas de acervo de espécies vegetais significativas para preservação: o Jardim Botânico. Segundo o chefe do Departamento de Jardim Botânico, Unidade de Conservação e Herbário da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semmam) do município de São Leopoldo, Eduardo Soares Rossetto, há plantas em risco de extinção. "São oito espécies em situação de risco, lembrando que quando falamos em extinção há níveis diferentes, alguns mais dramáticos e, outros, menos”, destaca.
Visando fornecer informações sobre o estado das espécies e subespécies; chamar a atenção do público para a importância da biodiversidade; e influenciar políticas nacionais e internacionais foi criado, em 1964, pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), o maior catálogo sobre o estado de preservação de plantas, animais, fungos e protozoários: a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas.
A lista classifica as espécies em nove grupos, definidos através de critérios que incluem a taxa de declínio da população — entendida como o número de indivíduos por espécie –, o tamanho e a disposição da população, a área de distribuição geográfica e o grau de fragmentação.
No Parque Imperatriz há bromélias tanque e bromélias gigantescas, que fazem parte do grupo de plantas epífitas — uma relação de inquilinismo entre duas plantas ou algas, na qual uma vive sobre a outra, utilizando-se apenas de apoio e sem dela retirar nutrientes ou estabelecer contato com o solo. No mesmo grupo, ainda há duas espécies de orquídeas, a Cattleya tigrina e a Cattleya intermedia, que existem naturalmente no local e se reproduzem lá.
“Já conseguimos colocar mais de 40 plantas de volta ao seu habitat natural, criando elas em laboratório”, afirma Rossetto. A Cattleya tigrina é a flora mais ameaçada do Parque e, segundo ele, ainda não foi possível fazer a sua recomposição à natureza.
De acordo com o chefe do Departamento de Jardim Botânico, há também espécies de peixes e anfíbios ameaçados. “De mamíferos e répteis não temos nenhum ameaçado, porque só restam as espécies mais comuns que conseguem, mais ou menos, conviver em ambientes ocupados pelas pessoas”, conta. Esse é o caso de espécies como o tatu, ouriço, gambá e, recentemente, houve a evidência visual da existência de um graxaim no local .
Estudos realizados pela Semmam, em 2011, revelaram que pelo menos 67 espécies de aves foram avistadas na área, totalizando 11% das espécies presentes no Rio Grande do Sul. Entre elas, encontram-se biguá, garça-branca-grande, caturrita, pardal, andorinhas, martim-pescador, joão-de-barro, sabiá-laranjeira, tico-tico e azulão.
No final de 2020, o plano de manejo do parque foi atualizado, contando com várias saídas de campo com profissionais de ciências naturais. Segundo Rossetto, a ajuda das universidades da região para aumentar os estudos e produzir informações mais precisas sobre o parque é crucial, pois esse é um trabalho muito difícil. “A gente depende da parceria com essas instituições de pesquisa”, complementa.
A importância do parque na zona urbana
“Se a gente for olhar no mundo, no estado e no país, é difícil ter um parque verde desse jeito”, pontua Rossetto. O parque de São Leopoldo chama a atenção pela qualidade da conservação ambiental em meio à zona urbana.
“Nós estamos no meio da zona metropolitana de Porto Alegre, que é uma das maiores zonas de adensamento urbano do nosso continente… Não tem como mensurar a importância do parque. Ali temos qualidade da água, controle de cheias e outros serviços ecológicos que ainda nem nos demos conta da sua existência”, destaca Rossetto.
Espaços de lazer
Localizado na Avenida Imperatriz Leopoldina, nº 900, aberto de terças a domingos, das 9 às 17 horas, o Parque Municipal Imperatriz possui acesso gratuito às áreas de lazer e é aberto para população.
Segundo a bióloga Carolina Rangel, áreas de preservação ambiental, como o Parque Imperatriz, localizadas em meio urbano, são importantes pois estimulam a população das cidades a terem um contato maior com a natureza. Isso traz benefícios para a qualidade de vida das pessoas e para a conservação dos ambientes naturais.
Espaços de lazer e trilhas ecológicas são elementos atrativos e importantes em Unidades de Conservação, aproximando o público do meio natural e tornando-o parte dele. Conforme Carolina, o Parque Imperatriz presta diversos serviços ecossistêmicos com impacto econômico, social e na saúde das pessoas, as quais devem tomar consciência e unirem-se para preservar esse e outros ambientes de proteção ambiental.
“Afinal, a conservação é feita por pessoas, e promover a participação social em atividades de educação ambiental e na divulgação e construção do conhecimento sobre a flora e fauna locais é fundamental para a conservação das mesmas”, finaliza.