Uma homenagem à arte cinematográfica do terror

Lorenzo Panassolo
Redação Beta
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6 min readNov 1, 2019

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2ª edição do FantasNóia mostra o crescimento do gênero na cidade e incentiva a arte e cultura

O que começou como um evento para celebrar os filmes de fantasia se tornou o primeiro e único festival de curtas e produções audiovisuais de Novo Hamburgo. Desde domingo (27), a 2ª edição do FantasNóia contou com palestras e uma mostra com 17 curtas-metragens de terror selecionados entre 43 inscritos oriundos de cinco estados brasileiros.

Na noite de quarta (31), data em que é comemorado o Halloween, ocorreu o último dia de programação do festival, movimentando a Casa de Artes de Novo Hamburgo. E com a parte mais importante do FantasNóia: a divulgação dos vencedores das dez categorias do festival de curtas-metragens de terror.

O festival que, em sua primeira edição, contou com quatro curtas e dois longas, agora cresceu. “Estamos todos muito felizes com esta segunda edição. Foi um salto muito grande, em termos de tamanho e ambição. O FantasNóia nasce como uma pequena mostra, e no seu segundo ano já se converte em um festival de curtas-metragens somado a uma mostra de longas”, afirma Henrique Abel, idealizador e curador do festival.

O FantasNóia foi realizado pela Secretaria Municipal da Cultura (Secult) e integrou o projeto Novo Hamburgo Polo Audiovisual. Para o secretário de Cultura do município, Ralfe Cardoso, o FantasNóia é parte de uma construção que vai oportunizar que futuras gerações considerem produzir filmes e vídeo e, depois, fazerem suas escolhas. “Isso faz parte de todo um universo, do que a gente imagina em relação ao cinema, games e plataformas digitais”, afirma.

Para o secretário, as lições mais importantes do festival foram o empenho e a dedicação de todos os envolvidos para o evento acontecer. “Essa é uma oportunidade de uma cidade que ousa de alguma forma, e que ousa na mão de algumas pessoas”, declara.

Vencedor do prêmio de melhor filme é estudante da Unisinos

A premiação mais esperada da noite era a categoria de melhor filme exibido durante os dias do FantasNóia. O estudante Lucas Reis conquistou a categoria com o filme do gênero de horror: “Who’s that man inside my house?”.

“Fico muito feliz, principalmente por ver a evolução que o FantasNóia teve da primeira para a segunda edição. Além disso, todo o reconhecimento para o filme é muito gratificante, visto o trabalho pesado que realizamos para produzi-lo, além de todas as dificuldades que encontramos. É algo muito bom de se sentir quando atingimos esse reconhecimento”, declara e jovem que pretende se formar em Publicidade e Propaganda na Unisinos,.

Who’s that man inside my house? foi eleito o melhor filme exibido durante a programação do FantasNóia II (Foto: Lorenzo Panassolo/Beta Redação)

Lucas revela que a produção de sua autoria possui viés político. “Who’s é um filme de horror alegórico que retrata uma vivência minha no período eleitoral do ano passado, quando sentíamos a presença de um mal que muitos não conseguiam enxergar, mas que era extremamente perigoso. O filme flerta com esse período, mas muitas pessoas relacionaram o filme com outras interpretações e visões, o que me deixa imensamente feliz e mostra que o filme não se limita somente a um tipo de mensagem”, afirma.

Who’s that man inside my house? foi produzido em 2019 e possui 10 minutos e 5 segundos de duração. (Foto: Arquivo Pessoal)

O júri do FantasNóia foi composto por André Conti, professor do curso de Produção Audiovisual da Universidade Feevale, Ulisses da Motta, cineasta, professor e crítico de cinema, e Tatiana Goldberg, artista visual. “A comissão do festival foi concebida para reunir profissionais da área, com ampla experiência e domínio técnico da arte da produção audiovisual”, declara Henrique.

Para o idealizador do festival e grande fã de cinema de horror e ficção, a qualidade dos trabalhos que estavam expostos no FantasNóia surpreendeu. Porém, Henrique destaca quais lhe chamaram mais a atenção. “Como observador externo ao meio da produção audiovisual, destacaria os curtas “Judas”, “Como Segurar uma Nuvem no Chão”, “Casulos”, “3:31”, “Necropolis”, “Eternidade”, “Who’s That Man Inside my House”, “A Triste Figura” e “Raimundo Quintela — O Caçador de Vira Porco”. Eu diria que foram os meus favoritos entre todos”, afirma.

Clássico zumbi rouba a cena do último dia

Após o anúncio dos vencedores do Festival de Cinema Fantástico de Novo Hamburgo, o público presente assistiu ao longa-metragem A Noite dos Mortos Vivos, produção de George Romero, de 1968. O filme de terror em preto e branco conta a história de um grupo de pessoas que tenta sobreviver em uma casa após a radiação provocada pela queda de um satélite fazer com o que os mortos saiam de suas covas como zumbis.

Ensinamentos e projeções

O diretor e vencedor do prêmio de melhor filme da segunda edição do FantasNóia, Lucas Reis, declara esperar que o mandado do atual governo termine para que a cultura e o talento nacional sejam cada vez mais incentivados. “O cenário do cinema nacional com as atuais políticas implementadas é incerto. Tenho projetos de curtas, longas e série, mas a realização deles só será possível caso haja políticas públicas. É muito desgastante e frustrante dar o dinheiro que você não tem para um projeto e convidar profissionais da área para trabalhar de graça. Não é assim que o mercado de cinema deve funcionar”, finaliza.

Em sua fala durante o festival, o secretário da Cultura de Novo Hamburgo também criticou o atual governo do país e sua postura. “Eu penso que todo o sangue que vale é o sangue da brincadeira. Mas apenas o das nossas brincadeiras do audiovisual. Não dá para brincar em um país que brinca com o AI-5 de novo. Então, esse é o nosso limite. Essas barbaridades deixam de acontecer se há arte e cultura”, declara.

O futuro do FantasNóia depende da vontade das pessoas de realizarem o festival. Para Henrique, a terceira edição do evento se consolidou com o trabalho realizado neste ano. “Acreditamos que o desafio inicial está superado, o de colocar o FantasNóia em um lugar permanente no calendário cultural da cidade e da região. A segunda edição do festival afirma isso de forma definitiva. Para a terceira edição, somos movidos pela mesma motivação deste ano, que é de conceber um evento ainda maior, mais atraente, representativo e inclusivo”, declara.

Premiações do FantasNóia II por categorias:

· Melhor filme: Who’s That Man Inside my House?, de Lucas Reis | Porto Alegre — RS

· Melhor Som: Um Estranho no Escuro, de Matheus A. | Rio de Janeiro — RJ

· Melhor Montagem: Ne Pas Projeter, de Cristian Verardi | Porto Alegre — RS

· Direção de Arte: Como Segurar uma Nuvem no Chão, de Marco Aurélio Gal | São Paulo — SP

· Melhor Música: Um Estranho no Escuro, de Matheus A. | Rio de Janeiro — RJ

· Melhor Fotografia: Ne Pas Projeter, de Cristian Verardi | Porto Alegre — RS

· Melhor Atriz: Lais Machado (Onze Minutos, de Hilda Lopes Pontes | Salvador — BA)

· Melhor Ator: Carlos Betão (O filme de Carlinhos, de Henrique Filhos | Salvador — BA)

· Melhor Direção: Judas, de Joel Caetano | São Paulo — SP

· Menção Honrosa Maquiagem: Who’s That Man Inside my House?, de Lucas Reis | Porto Alegre — RS

· Menção Honrosa Cultura Brasileira: Judas, de Joel Caetano | São Paulo — SP

· Menção Honrosa Social: Onze Minutos, de Hilda Lopes Pontes | Salvador — BA (por abordar a violência com mulheres)

· Menção Honrosa Fantasia: Casulos, de Joel Caetano | São Paulo — SP

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