CRÍTICA: Uma intrigante história mal desenvolvida

Apesar da boa trama de “A Maldição da Casa Winchester”, uma mudança de foco poderia melhorar o resultado final

Tiago Assis
Redação Beta
3 min readMar 16, 2018

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A tentativa de dar protagonismo ao psiquiatra Eric Price (Jason Clarke) é o primeiro erro de uma sucessão de equívocos durante o filme A Maldição da Casa Winchester, que estreou no início do mês e segue em cartaz nos cinemas. Nem mesmo a direção dos irmãos Michael e Peter Spierig (Spierig Brothers), que em 2017 fizeram um surpreendente trabalho em Jogos Mortais: Jigsaw, foi capaz de salvar o filme de um roteiro sem muita fluência.

Logo no início de A Maldição da Casa Winchester, de forma clichê o espectador fica a par de uma cena que vai ser repetida em todos os momentos de terror ao decorrer da produção, deixando claro o baixo nível de criatividade em torno da história.

Enquanto Sarah Winchester (Helen Mirren) toma conta das cenas em que se faz presente, a dúvida que começa a surgir é: “ela não deveria ser a protagonista do longa?”. Durante os 100 minutos de filme, outros inúmeros pontos poderiam ser aproveitados. Pela forma que foi construída, a trama se torna maçante e parece durar muito mais tempo.

Helen Mirren, apesar da boa atuação, não conseguiu salvar a produção. (Foto: Splendid Film GmbH)

Sarah Winchester é viúva e herdeira de William Wirt Winchester, fundador da famosa fabricante de armas Winchester Repeating Arms Company. Ela acredita que sua casa, que está sempre em obras, é assombrada por espíritos de pessoas que foram mortas pelos rifles Winchester. Ela tem motivos para acreditar que, caso a residência tenha sua construção concluída, essas almas a matarão. Por isso, operários trabalham 24 horas por dia, todos os dias, erguendo novas partes da casa.

Ao mesmo tempo, o psiquiatra Eric Price é contratado para verificar se Sarah tem saúde mental adequada para comandar a empresa, que está em meio a um conflito judicial pela sua gestão. Assim, Price começa a passar mais tempo na mansão, onde enfrenta uma batalha que mistura o imaginário e a realidade.

Essa trama, inspirada em uma história real, tem os atributos básicos de um clássico filme de terror: personagens misteriosos, jumpscares (cenas de susto) como principal arma do medo e uma mansão assombrada.

Mesmo assim, a história perde o foco, já que apenas uma das inúmeras visões que compõem a lenda é abordada. Várias perguntas ficam sem respostas, e justamente essas poderiam ter agregado muito valor à produção caso fossem desmistificadas.

O filme tem como ponto alto seu local mais explorado: a mansão. A residência é muito bem filmada, com takes desenvolvidos para dar percepção de grandeza e mistério. Possui também um figurino bem reproduzido, remetendo de forma fiel à época (final do século XIX e início do século XX). A fotografia poderia ser melhor produzida nos principais momentos do filme. A trilha sonora não tem grande destaque, mas também não prejudica o desenrolar da trama.

Os personagens em segundo plano possuem uma atuação abaixo da média, o que afeta também o brilho dos protagonistas. Assim, a obra pode ser descrita como apenas mais um dos tantos filmes de terror que prezam por cenários de época, mas que se perdem ao focar apenas em jumpscares como ferramenta para assustar.

A produção é muito prejudicada pela baixa iluminação, que serve para dar um tom maléfico à produção, já que muitos erros do filme são disfarçados nesses momentos. Essa escolha pela tenebrosidade aparece em todo o filme. Porém, em alguns momentos, seria melhor dar brilho às cenas para situar o espectador sobre tempo e local. A grandeza e a riqueza de detalhes da casa, por exemplo, poderia ser melhor explorada com essa mudança.

Em uma escala de zero a dez, uma nota quatro fica justa para essa produção. É uma história que intriga, mas que não se desenvolve. Se tivesse explorado melhor suas próprias perguntas criadas ao longo da trama, a produção poderia não ser esquecida em um ou dois meses.

Veja abaixo o trailer de A Maldição da Casa Winchester:

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