Uma rede de apoio além do Outubro

Conheça a importância de ajudar organizações cor de rosa durante o ano inteiro

Redação Beta
Published in
10 min readOct 5, 2021

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O câncer de mama é o segundo tipo de câncer que mais afeta a população feminina no mundo. De acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer — Inca, o Rio Grande do Sul é o quarto estado brasileiro com mais casos da doença — com uma taxa estimada de 42,95 casos para cada 100 mil mulheres. Os casos são mais expressivos a partir dos 40 anos, apesar de pessoas jovens também serem afetadas em menor proporção, incluindo homens.

Por conta do tratamento, muitas mulheres perdem seus cabelos, e nessa fase o empoderamento é muito importante. Algumas buscam por perucas, outras aprendem a se amar com a nova aparência. O importante é não desistir de lutar. É a partir dessa ideia que surgem ONGs, institutos, campanhas e outras atividades que contribuem com a autoestima.

Existem inúmeras redes de apoio às mulheres com câncer no mundo. Para dar uma noção dessa amplitude, a FEMAMA — Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, sozinha possui mais de 70 ONGs associadas e tem mais de 1 milhão de cidadãos representados. Por esse motivo, a Beta Redação conversou com algumas redes de apoio do estado do Rio Grande do Sul para informar os leitores sobre os serviços.

Amigas do Peito, Associação Força Rosa e as secretarias de políticas para as mulheres como a SEPOM de São Leopoldo, trabalham a partir de doações e outros projetos para empoderar as mulheres que, além da batalha pela cura, precisam estar bem consigo mesmas.

Fases do tratamento do Câncer (Fotos: Arquivo Pessoal/ Elaine Maria Wames Nedel)

Relatos de quem vivenciou

Cuidadosa, incentivadora de exames de rotina e toque, a arquiteta Elaine Maria Wames Nedel, de 47 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama no dia 30 de junho de 2020 — já com a biópsia em mãos. A descoberta ocorreu em seus exames de rotina, com o surgimento de um pequeno cisto que confirmou a doença: “No meu caso, como descobri bem no início, não era perceptível ao toque, mas em alguns casos o câncer é visível. Por isso, se tocar, se olhar e seguir uma rotina anual de exames é essencial para não ser pega de surpresa com um câncer em estágio avançado’’, explica Elaine.

Segundo ela, o maior desafio após o diagnóstico foi a incerteza: “No início você não sabe o que vai acontecer, se vai ter tratamento, se vai se curar, se vai morrer ou viver, qual será a reação dos filhos e como eles ficarão se perderem a mãe tão cedo. Mas graças a Deus um diagnóstico precoce tem um tratamento seguro e com uma sobrevida bem longa”, expõe.

Quando o tratamento começa, mais desafios aparecem. De acordo com os médicos, Elaine não deveria se preocupar com os cabelos. No entanto, essa mudança repentina traz muito impacto na autoestima. “A partir da terceira sessão de quimio branca, começaram as quedas. Perder uns fios já é ruim, mas perder grandes chumaços é terrível”, descreve. Para conseguir amenizar a situação, Elaine optou por cortar o cabelo curto, pois seus dois filhos pequenos estavam incomodados, mas logo foi necessário mudar o visual novamente.

“Aos poucos eu fiquei só com uma franja cobrindo a careca, mas no final tive que raspar a cabeça toda”, revela rindo ao se lembrar do ocorrido. Já que estava sem cabelos, passou a utilizar touca, bandanas e lenços. “De peruca eu me sentia artificial, então não usei. Eu comprei ou fiz meus acessórios, porque tinha condições e não achei justo tirar de alguém que precisava, mas como achei muito legal os projetos, eu doei mais de 50 toucas para crianças e mulheres em tratamento”, revela Elaine.

Como descobriu a doença durante a pandemia, Elaine evitou sair além do necessário, indo apenas para suas sessões de quimio presencialmente. Por isso, buscou apoio virtual nas conversas com mulheres, livros e lives. “Há entidades como a Força Rosa em São Leopoldo que mantém várias atividades semanais e diárias, um trabalho bem bonito”, conta.

Força Rosa

Membros voluntários da Força Rosa (Foto: Acervo/Associação Força Rosa)

Fabricia Lindenmeyer Jaeger, de 56 anos, é coordenadora da Associação Força Rosa. O motivo? Em 2005, ela descobriu a doença e como também é fisioterapeuta, começou a acompanhar de perto as pacientes que tiveram câncer de mama e as sequelas decorrentes das mastectomias. “Achei que deveria , até como uma forma de retribuição pela minha recuperação, ajudar outras mulheres que estivessem passando por este problema”, relata.

Foi assim que ela entrou em contato com a Prefeitura de São Leopoldo, através da secretaria da mulher, para ingressar em um grupo de apoio. Com o crescimento das atividades, uma identidade própria e independente das questões políticas foi necessária e, assim, nasceu a Associação Força Rosa.

A Associação trabalha com diversos profissionais voluntários que contribuem para tornar mais leve este momento difícil, devolvendo a autoestima para muitas mulheres. Atualmente a ONG sobrevive apenas de ações de arrecadação.

“Tivemos vários desafios. Talvez hoje, o maior esteja sendo concluir a nossa sede para atendermos mais mulheres com câncer de mama. A rede de apoio é fundamental. A paciente convive com pessoas que estão passando pelo mesmo problema que ela. Está sentindo a mesma dor, o mesmo medo, a mesma angústia. É no grupo de apoio que ela consegue dividir a carga”, enfatiza. Mas também existem outras formas de ajudar. Através de campanhas de arrecadação de chapéus, perucas e lenços e campanhas de conscientização.

A Força Rosa vem ajudando muitas mulheres. E é a partir das palestras e depoimentos em escolas, igrejas, empresas, lojas, indústrias e associações, que elas divulgam a importância do autoexame, da mamografia e ecografia mamárias para que o câncer seja descoberto cedo.

A Associação tem diversas atividades oferecidas pelos profissionais voluntários (Fotos: Acervo/Associação Força Rosa)

“Nosso sonho é que todas as mulheres tenham acesso à saúde básica, que os exames preventivos sejam mais acessíveis, que quando uma mulher seja diagnosticada, possa imediatamente fazer o seu tratamento. Que consigam receber todo o cuidado e atenção que precisam neste momento. A mulher é o esteio da família. Uma vez adoentada, toda a família fica doente. Não podemos ficar com as mãos amarradas. Por isso as ONGs e associações precisam ser valorizadas e apoiadas. Sentimos que somos uma gota neste oceano, mas temos a certeza de estarmos fazendo a nossa parte. Precisamos concluir a nossa sede. Lá poderemos ampliar ainda mais nossos atendimentos. Precisamos do apoio de toda a comunidade”, conclui Fabricia.

Futura casa da Associação ainda esta em desenvolvimento (Foto: Acervo/Associação Força Rosa)

SEPOM

Conforme a Secretária Margarete Simon Ferretti, da Secretaria de Políticas para Mulheres (SEPOM), o intuito é continuar ajudando as redes de apoio como a Força Rosa e o Instituto da Mama (IMAMA), por meio de doações, campanhas e arrecadações. “Temos um trabalho através da rede de enfrentamento e a campanha de arrecadação de cabelo, de tampinhas de garrafa e de lenços é fundamental. A gente está tentando conscientizar a comunidade da relevância sobre esse tema para levantar a autoestima das mulheres”, revela.

Em 2019, a Secretaria fez uma campanha forte chamada “Cabelaço” — atividade que realiza corte de cabelos gratuitos em voluntários com o propósito de encaminhar para a produção de perucas do Imama — que contou com inúmeros parceiros. Com a pandemia, ações como essa precisaram ser modificadas, mas esse ano há novas projeções. “Nós estamos nos dedicando nesse mês para arrecadar mais cabelos para a confecção das perucas. Nesta semana a campanha será lançada nas redes da prefeitura e vamos usar todo o espaço possível para fazer essa divulgação. Quanto mais a gente divulgar, mais coisas vamos arrecadar”, complementa.

Calendário de Projeção para o Outubro Rosa da Sepom. (Imagem: Sara Nedel Paz/Beta Redação)

Amigas do Peito

Criada a partir de uma especialização em micropigmentação e um sonho da Profissional Márcia Brasil, a ONG reuniu um grupo de amigas com o objetivo de contribuir com o resgate da autoestima de pessoas que precisaram remover a mama após a mastectomia. Junto com seus amigos, Márcia elaborou um projeto para atenderem voluntariamente mulheres mastectomizadas com pigmentação de redesenho em Aréolas Mamárias*, sem nenhum custo.

Equipe da Ong Amigas do Peito (Foto: Acervo/Amigas do Peito)

De acordo com a empresária e idealizadora da ONG, o seu primeiro contato com procedimentos de reconstrução de aréolas mamárias ocorreu em sua especialização. “Até então não sabia que era possível. Fiquei tão impressionada que acabei sonhando que tinha muitas mulheres esperando para receber esse procedimento e eu não ia dar conta de atender sozinha. Quando eu acordei meu marido disse: ‘quem sabe um dia tu realize seu sonho.’ E eu fui a São Paulo fazer uma especialização e o primeiro dia de curso era pigmentação em aréolas. Lá eu conheci algumas gaúchas que estavam vendo esse trabalho pela primeira vez, uma das meninas me desafiou e perguntou o que me impedia de realizar esse sonho. Foi quando eu falei que eu só iria fazer isso se tivesse mais pessoas para fazer a mesma coisa, de forma gratuita. Ela e as outras meninas toparam. Daquele dia em diante, surgiu a Amigas do Peito”, conta.

Após a formação do grupo, Márcia foi atrás de parceiros e investidores na cidade de Cachoeirinha e conseguiu realizar em 2017 a primeira ação com atendimento de dez mulheres gratuitamente. Ela revela que o maior desafio continua sendo ter mais pessoas para receberem esse procedimento. Pois embora haja especialistas, o número de mulheres que querem receber o procedimento ainda é baixo, porque elas não sabem da existência desse trabalho gratuito. “Alguns médicos que realizam cobram mais de R$ 2.000 para realizar essa técnica. E quando se fala que é um procedimento sem custo, as pessoas acham que não será feito por um bom profissional. É um grande desafio”, destaca.

As ações são voltadas para quem não pode pagar um serviço particular. (Imagem: Divulgação/Amigas do Peito)

O serviço da ONG é oferecido especificamente para pessoas que já fizeram todo o seu tratamento através do atendimento do SUS. “Nosso trabalho é a finalização, porque o SUS oferece até mesmo a colocação de prótese mamária, mas não a pigmentação da aréola e mamilo. A ideia é dar esse conforto estético. Quando elas têm um redesenho do mamilo é como se pudessem se olhar no espelho e se sentir inteiras novamente”, argumenta.

Mesmo sendo um serviço pós câncer, Márcia lembra que é muito importante que as pessoas prestem atenção a qualquer alteração do corpo. Pode ser o formato da mama, do bico do seio, da presença de um nódulo ou qualquer outra mudança. Quando o alerta aparecer, procure um médico o mais rápido possível.

“O câncer não tem dia e não tem mês. É preciso estar atento a qualquer alteração e fazer os exames regularmente. Sempre ouvimos no Outubro Rosa: se olhe e se toque. Mas acredito que antes disso é preciso saber o que olhar e o que tocar. Essa informação ainda fica muito vaga e cheia de tabus. Mas é importante, sim, saber fazer um autoexame corretamente”, conclui a especialista.

Material de dicas e divulgações do projeto. (Imagem: Divulgação/Amigas do Peito)

Homens e mulheres devem aprender a conhecer seus corpos. Em caso de suspeita, procure apoio médico. O câncer tem cura! Quanto antes descobrir, mais fácil de tratar. Lembramos que existem incontáveis redes de apoio, então não se sinta sozinha. O Outubro Rosa é uma data para lembrar sobre a importância da prevenção, mas as redes seguem funcionando o ano todo. Caso você queira ajudar, procure as mais próximas da sua cidade.

Visite o site da FEMAMA | Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama | Câncer de mama

Quer ajudar as instituições dessa matéria:

Força Rosa:
Venda dos cartões de chá: (51) 999197818
Vaquinha de construção casa ROSA: vaka.me/899932
Outras ações estão disponíveis através do Facebook e Instagram

Amigas do Peito:
Doações e cadastro para voluntariado podem ser feitos através do site Amigas do Peito RS
Quer saber mais sobre o projeto? Entre em contato: contato@amigasdopeitors.com.br

*O termo aréola designa a pele mais escura ao redor do mamilo. Já auréola, embora seja comumente utilizado para referir a anatomia humana, trata-se de um círculo luminoso ou colorido ao redor de um astro.

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