Urbanismo Colaborativo: cidadania, sustentabilidade e inclusão
Iniciativas de São Leopoldo inspiram as pessoas a colaborar com a qualidade de vida no espaço urbano
Do efêmero ao tático: conheça a startup Interventura
Foi em busca de estratégias inovadoras, engajamento cívico e apropriação coletiva que surgiu em 2016 a Interventura Urbanismo Colaborativo. As idealizadoras do projeto voluntário foram as arquitetas e urbanistas Júlia Rolim, Jéssica Neves, Carline Carazzo, e a fotógrafa Lidiane Bortoli. Recém-formada, Júlia Rolim não queria deixar o seu trabalho de conclusão de curso de lado e resolveu colocar algumas ações em prática. O trabalho começou organicamente, com intervenções efêmeras no parque linear na Rua da Praia, em São Leopoldo. A ideia era fomentar iniciativas da sociedade civil em prol de melhorias no espaço urbano e no patrimônio histórico.
“A requalificação de espaços urbanos e uma cidade feita para pessoas é sim uma cidade mais segura. Onde há mais gente na rua, eu tenho mais segurança”, acrescenta Júlia. Além disso, contribui para a segurança das ruas as fachadas ativas, a presença de comércio, calçadas adequadas, arborização, iluminação e espaços convidativos.
Foi então que as empreendedoras começaram a trabalhar na realização de ações de conscientização e engajamento, através de intervenções efêmeras, de apenas um dia. Ainda na fase de voluntariado, o projeto chegou a ter 10 pessoas trabalhando. Com o aumento da demanda, e cada vez mais pessoas conhecendo a Interventura, passou a ser mais do que um trabalho voluntário. Teriam que decidir se o projeto se tornaria uma ONG ou uma empresa. Foi assim que a Interventura se tornou uma startup de soluções urbanas que trabalha com quatro pilares: patrimônio histórico, cidadania, espaços públicos e sustentabilidade.
Hoje a empresa realiza ações de urbanismo efêmero e tático. As transformações nos espaços são feitas com a intenção de gerar um primeiro impacto de consciência, informação e educação. Além disso, a Interventura oferece alguns serviços como revitalização de locais, palestras, oficinas e workshops. Hoje, quem oportuniza esses espaços e a experiência são empresários de São Leopoldo que buscam o bem-estar das pessoas. O trabalho pode ser feito de duas formas: o empresário procura a startup em busca de revitalização de um espaço do entorno e para os seus clientes, ou as arquitetas analisam locais específicos e apresentam a ideia para os empresários locais.
“O nosso objetivo é gerar transformação, isso que nos move. Impactar pessoas, mostrar que ter um espaço de qualidade, uma cidade com menos caos e mais sustentável traz melhoria de vida”, explica Júlia.
De frequentadores a cuidadores: Loucos pelo Parque Linear Mauá
Outro grupo em São Leopoldo que se destaca na área de urbanismo colaborativo é o projeto Loucos Pelo Parque, que surgiu em março deste ano. Formado por frequentadores do Parque Linear Mauá, que fica debaixo de parte dos trilhos do trem, os hoje voluntários do projeto utilizam o parque para exercícios e lazer e se organizaram pela necessidade de se ter um local mais agradável para os moradores do centro da cidade.
“O espaço é amplo, plano, tem calçamento. Porém estava abandonado, com muito mato, lixo, as pracinhas estavam subutilizadas. A situação era meio precária”, comenta Isabela Franco Schreiber, arquiteta e voluntário do projeto.
O Parque Linear Mauá fica entre as estações Unisinos e São Leopoldo. A área atendida pelo projeto atualmente é de cerca de 800 metros, mas a intenção é que cresça e alcance cada vez mais pessoas, para que mais áreas possam ser revitalizadas.
Não é difícil de identificar os Loucos Pelo Parque: todos os sábados, os integrantes do grupo promovem ações no centro da cidade. Hoje, o projeto conta com mais de 20 voluntários fixos, além de pessoas que se envolvem em atividades pontuais. Sem ajuda do poder público, os materiais de todas as revitalizações vem de doações, como as lixeiras, sacos de lixo, tintas, bancos e plantas.
Para Robson Teixeira, usuário do parque, as ações geram a sensação de pertencimento e isso faz com que as pessoas passem a preservar. “Eu já fazia caminhadas aqui no parque antes do pessoal começar com essas intervenções, e agora, percebo que mais pessoas estão frequentando, cuidando e participando das ações”, diz.
Segundo a arquiteta Isabela, se fala muito em ocupação e no sentimento de pertencimento nas periferias, mas no centro das cidades é difícil de ver esse tipo de ação. “Os voluntários entendem que esse local for bem ocupado, fica mais seguro e bonito para todo mundo. A gente vê que todas as melhorias que foram feitas continuam no local, as pessoas estão cuidando”, conta a arquiteta.
Para a voluntária e estudante de psicologia, Maria Odete Costa, as pessoas passam a ter um sentimento diferente quando utilizam o local revitalizado. “Nós, que frequentamos o parque, temos carinho por ele. Ninguém joga lixo no chão, nem rouba nada. É preciso ter consciência e cuidar do nosso patrimônio”, diz.