Uso excessivo de dispositivos móveis prejudica desempenho escolar
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) faz uma série de recomendações para crianças e adolescentes
É comum ver famílias reunidas, mas crianças fixadas na tela de um celular ou tablet. Mas será que os pais sabem até que ponto os filhos podem utilizar a tecnologia? Ou até mesmo o quanto isto prejudica o desempenho escolar dos filhos?
Segundo a psicóloga Emanuele Klein, do Núcleo de Atendimento Especializado (NAE), de Estância Velha, que integra a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), não há um tempo determinado para o uso de dispositivos digitais para as crianças. Porém, alerta, deve-se ter cuidado para que o tempo de uso não seja excessivo. Ela avalia que uso da tecnologia deve ser produtivo para a criança, de forma que os recursos disponíveis nos aparelhos digitais possam contribuir para o desenvolvimento cognitivo e emocional.
A psicóloga afirma também que a utilização de dispositivos digitais atrapalha o desempenho escolar caso o estudante utilize recursos que não façam parte do planejamento das aulas.
Em casa, revela a profissional, o uso do celular pode atrapalhar a concentração no momento de fazer os temas ou, até mesmo, acabar postergando a atividade. “Pode acontecer da criança fazer os temas rapidamente e com pouca concentração, incorrendo em erros por querer terminar logo a lição para voltar a utilizar o aparelho”, explica.
O papel dos pais
Conforme Emanuele, os pais são os primeiros exemplos da criança. “Sabemos que os pais também utilizam em demasia a internet e os recursos digitais, porém, devem se automonitorar para usar apenas o tempo necessário, seja para o trabalho ou para fins pessoais”, acrescenta. Além disso, devem controlar para que este período não seja extenso, privilegiando o contato e o convívio com os filhos.
A psicóloga também oferece dicas para os pais estabelecerem limites em relação ao uso do celular. Segundo ela, o ideal é fazer combinações com a criança, deixando claro que ela pode usar o celular. Contudo, a criança não deve passar muito tempo conectada às mídias, pois a infância é um período extremamente importante para adquirir conhecimentos e experimentar situações no ambiente real.
Emanuele ensina que devem ser estabelecidos momentos para as atividades escolares e para o lazer. “O lazer precisa ser diversificado e a internet apresenta recursos que auxiliam no desenvolvimento da criança. Porém, o brincar e o contato físico são extremamente importantes para que a criança se desenvolva de forma saudável”, esclarece.
Uso consciente no ambiente escolar
Para a orientadora educacional do Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre, Alessandra Silva Paschoal, os dados da SBP não são novidade. Essas informações são repassadas às famílias, educadores e alunos em palestras realizadas na escola por especialistas. “Em diferentes ocasiões, contamos com a presença de psiquiatras e psicólogos que abordaram o tema, oferecendo orientações quanto ao uso consciente da tecnologia”, relata.
O uso do celular, como outros aparelhos eletrônicos, é regulado pelo Art. 203 do Regimento Escolar, que trata das Normas de Convivência do colégio. A orientação é que os estudantes não utilizem objetos ou equipamentos que prejudiquem o bom desenvolvimento nas aulas. De acordo com Alessandra, em algumas situações, especialmente na pluridocência, que corresponde aos anos finais e Ensino Médio, há autorização para o uso orientado do celular, dedicado exclusivamente para pesquisas e trabalhos de interação com os conteúdos abordados em aula. “É cada vez mais recorrente o uso pedagógico dos recursos tecnológicos”, pontua.
Conforme Alessandra, o uso do celular na escola é tratado como ferramenta de acesso à rede. “Buscamos promover o uso consciente da internet, tanto em casa quanto no ambiente escolar. Nesse sentido, o Colégio Marista Rosário realiza bate-papos e palestras voltadas ao uso produtivo da internet”, informa.
Além destes encontros, o colégio oferece o Serviço de Orientação Educacional (SOE), que promove ações permanentes de acompanhamento dos estudantes em seus movimentos de inserção nas redes sociais e nas mídias. “Este projeto, chamado de Nós na Rede, faz uma brincadeira com as palavras, referindo-se também aos “nós” que impedem uma boa comunicação e que causam mal-entendidos”, comenta.
Segundo Alessandra, a intenção da iniciativa é refletir, juntamente com a comunidade escolar, sobre os cuidados necessários ao bom relacionamento no ambiente virtual, eliminando os ruídos que interferem as relações.
Já na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Marechal Cândido Rondon, em Estância Velha, a diretora Kélen Calgoroto não tinha conhecimento sobre as informações da SBP. Contudo, ela relata que o uso de aparelhos móveis é proibido até o quinto ano. “Do sexto ano até o nono ano eles podem fazer o uso pedagogicamente, ou seja, podem usar em sala de aula quando os professores solicitam pesquisas”, conta.
Kélen disse ainda que a escola foi contemplada com o Programa Educação Conectada, do Mistério da Educação, e recebeu uma verba federal para facilitar o acesso dos estudantes à internet.
Conforme a diretora, a escola acredita na importância do uso da tecnologia, mas é preciso que os alunos saibam usar de forma correta o celular. “Caso eles usem sem permissão o telefone é recolhido e entregue para os pais”, conclui.