Uso excessivo de dispositivos móveis prejudica desempenho escolar

Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) faz uma série de recomendações para crianças e adolescentes

Stephany Foscarini
Redação Beta
5 min readOct 16, 2019

--

É comum ver famílias reunidas, mas crianças fixadas na tela de um celular ou tablet. Mas será que os pais sabem até que ponto os filhos podem utilizar a tecnologia? Ou até mesmo o quanto isto prejudica o desempenho escolar dos filhos?

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) afirma que a tecnologia influencia o comportamento das crianças, chegando a alterar hábitos que geram prejuízos à saúde. (Arte: Stephany Foscarini/Beta Redação)

Segundo a psicóloga Emanuele Klein, do Núcleo de Atendimento Especializado (NAE), de Estância Velha, que integra a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), não há um tempo determinado para o uso de dispositivos digitais para as crianças. Porém, alerta, deve-se ter cuidado para que o tempo de uso não seja excessivo. Ela avalia que uso da tecnologia deve ser produtivo para a criança, de forma que os recursos disponíveis nos aparelhos digitais possam contribuir para o desenvolvimento cognitivo e emocional.

SBP faz uma série de recomendações para que os pais acompanhem o uso da tecnologia pelos filhos. (Arte: Stephany Foscarini/Beta Redação)

A psicóloga afirma também que a utilização de dispositivos digitais atrapalha o desempenho escolar caso o estudante utilize recursos que não façam parte do planejamento das aulas.

Em casa, revela a profissional, o uso do celular pode atrapalhar a concentração no momento de fazer os temas ou, até mesmo, acabar postergando a atividade. “Pode acontecer da criança fazer os temas rapidamente e com pouca concentração, incorrendo em erros por querer terminar logo a lição para voltar a utilizar o aparelho”, explica.

O papel dos pais

Conforme Emanuele, os pais são os primeiros exemplos da criança. “Sabemos que os pais também utilizam em demasia a internet e os recursos digitais, porém, devem se automonitorar para usar apenas o tempo necessário, seja para o trabalho ou para fins pessoais”, acrescenta. Além disso, devem controlar para que este período não seja extenso, privilegiando o contato e o convívio com os filhos.

A psicóloga também oferece dicas para os pais estabelecerem limites em relação ao uso do celular. Segundo ela, o ideal é fazer combinações com a criança, deixando claro que ela pode usar o celular. Contudo, a criança não deve passar muito tempo conectada às mídias, pois a infância é um período extremamente importante para adquirir conhecimentos e experimentar situações no ambiente real.

Emanuele ensina que devem ser estabelecidos momentos para as atividades escolares e para o lazer. “O lazer precisa ser diversificado e a internet apresenta recursos que auxiliam no desenvolvimento da criança. Porém, o brincar e o contato físico são extremamente importantes para que a criança se desenvolva de forma saudável”, esclarece.

Uso consciente no ambiente escolar

Para a orientadora educacional do Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre, Alessandra Silva Paschoal, os dados da SBP não são novidade. Essas informações são repassadas às famílias, educadores e alunos em palestras realizadas na escola por especialistas. “Em diferentes ocasiões, contamos com a presença de psiquiatras e psicólogos que abordaram o tema, oferecendo orientações quanto ao uso consciente da tecnologia”, relata.

O uso do celular, como outros aparelhos eletrônicos, é regulado pelo Art. 203 do Regimento Escolar, que trata das Normas de Convivência do colégio. A orientação é que os estudantes não utilizem objetos ou equipamentos que prejudiquem o bom desenvolvimento nas aulas. De acordo com Alessandra, em algumas situações, especialmente na pluridocência, que corresponde aos anos finais e Ensino Médio, há autorização para o uso orientado do celular, dedicado exclusivamente para pesquisas e trabalhos de interação com os conteúdos abordados em aula. “É cada vez mais recorrente o uso pedagógico dos recursos tecnológicos”, pontua.

Estudantes do Colégio Marista Rosário utilizam tablets para realizar pesquisas em sala de aula. (Fotos: Patrícia Santos/Divulgação)

Conforme Alessandra, o uso do celular na escola é tratado como ferramenta de acesso à rede. “Buscamos promover o uso consciente da internet, tanto em casa quanto no ambiente escolar. Nesse sentido, o Colégio Marista Rosário realiza bate-papos e palestras voltadas ao uso produtivo da internet”, informa.

Além destes encontros, o colégio oferece o Serviço de Orientação Educacional (SOE), que promove ações permanentes de acompanhamento dos estudantes em seus movimentos de inserção nas redes sociais e nas mídias. “Este projeto, chamado de Nós na Rede, faz uma brincadeira com as palavras, referindo-se também aos “nós” que impedem uma boa comunicação e que causam mal-entendidos”, comenta.

Segundo Alessandra, a intenção da iniciativa é refletir, juntamente com a comunidade escolar, sobre os cuidados necessários ao bom relacionamento no ambiente virtual, eliminando os ruídos que interferem as relações. ​

Já na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Marechal Cândido Rondon, em Estância Velha, a diretora Kélen Calgoroto não tinha conhecimento sobre as informações da SBP. Contudo, ela relata que o uso de aparelhos móveis é proibido até o quinto ano. “Do sexto ano até o nono ano eles podem fazer o uso pedagogicamente, ou seja, podem usar em sala de aula quando os professores solicitam pesquisas”, conta.

Kélen disse ainda que a escola foi contemplada com o Programa Educação Conectada, do Mistério da Educação, e recebeu uma verba federal para facilitar o acesso dos estudantes à internet.

Conforme a diretora, a escola acredita na importância do uso da tecnologia, mas é preciso que os alunos saibam usar de forma correta o celular. “Caso eles usem sem permissão o telefone é recolhido e entregue para os pais”, conclui.

--

--