Vanazzi: “Nossa economia vai crescer mais por um acerto estratégico que fizemos”

Na série de entrevistas com concorrentes à prefeitura de São Leopoldo, a Beta Redação conversa com Ary Vanazzi, do PT

Émerson Santos
Redação Beta
20 min readOct 27, 2020

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Ary Vanazzi (PT), prefeito de São Leopoldo e candidato à reeleição. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ary José Vanazzi tem 61 anos e nasceu em Coronel Freitas, Santa Catarina, em 22 de outubro de 1958. Filiado, desde 1980, ao Partido dos Trabalhadores (PT), é candidato à reeleição ao Executivo de São Leopoldo nas eleições municipais de 2020. O nome da coligação encabeçada por Vanazzi é Nosso Trabalho Constrói o Futuro, composta pelos partidos PC do B, PT, PTB, PDT, Republicanos e PSB, e o vice da chapa é o atual vereador Ary Moura (PDT).

Vanazzi é professor, graduado em História pela Universidade La Salle, mas tem longa trajetória política. Foi eleito vereador de São Leopoldo nas eleições de 1988 com 784 votos e reeleito, em 1992, com 1.177 votos. Nas eleições de 1998, foi candidato a deputado federal e conquistou 34.661 votos, ficando na suplência. Em 2 de janeiro de 2001 foi efetivado como deputado, mas licenciou-se três dias depois para exercer o cargo de secretário especial da Habitação do Estado, durante o governo de Olívio Dutra (PT), até 5 de abril de 2002, quando voltou para a Câmara dos Deputados.

Foi reeleito deputado federal em 2002 com 73.277 votos. Em 2004 foi eleito prefeito de São Leopoldo pela primeira vez, com 57.591 votos, e renunciou ao mandato de deputado. Foi reeleito prefeito, em 2008, com 89.158 votos. Por fim, em 2016, na sua terceira disputa pelo Executivo leopoldense, foi novamente eleito prefeito, com 33.850 votos.

A entrevista com Vanazzi para a cobertura especial das Eleições 2020 foi produzida pela Beta Redação com suporte institucional da Unisinos. A pauta teve a colaboração da comunidade universitária, que, em consulta por meio virtual, apresentou 37 sugestões de perguntas, das quais cinco foram selecionadas e editadas para apresentação a todos os candidatos.

Confira, a seguir, a entrevista concedida por videoconferência no dia 13/10.

A primeira diretriz para a saúde apresentada em seu plano de governo traz a necessidade de revogação do teto do financiamento federal para a saúde pública. Se isso não ocorrer, o que o senhor pretende fazer para adequar os serviços às necessidades da população?

Essa diretriz geral é em função do ponto de vista da luta política, da concepção que nós temos sobre o serviço público. O governo federal estabelece um teto de gastos, o que limita, e muito, o atendimento aos serviços públicos na saúde, assistência social, educação. É o primeiro elemento de luta política, derrubar o teto de gastos, porque nós temos como entendimento que é preciso atender a população, independente do valor que você tenha. A população não pode deixar de ser assistida. Então, nós somos contra o congelamento do teto de gastos. Os nossos adversários não têm isso como princípio. Eles vão ter menos investimentos e vão deixar de atender a população. Nós vamos brigar para que se revogue e que se mantenham os serviços necessários para a população na área da saúde.

Mas nós temos um plano de atendimento, mesmo com o teto de gastos, que é ampliar a nossa rede básica de saúde. Nós construímos cinco postos [de saúde] no primeiro mandato e vamos fazer mais cinco no segundo. Isso tem uma razão muito simples: nós precisamos, para implementar definitivamente a universidade de Medicina na cidade de São Leopoldo, em parceria com a Unisinos, de uma rede básica de saúde que dê conta do protocolo assinado com o Ministério da Saúde e com o município. Então nós precisamos ampliar, com o recurso público, em parceria com a universidade, e muitas vezes também buscando investimentos em parcerias com a iniciativa privada, a rede básica de saúde. Essa é a primeira questão fundamental. E a segunda, para atender o protocolo do Ministério da Saúde, além de uma rede básica, a gente precisa ter um hospital em condições. Então, é um conjunto de ações do governo, preocupado em atender a demanda da sociedade, preocupado também em atender as necessidades para que se institua definitivamente o curso de Medicina, um hospital-escola, com o atendimento social e básico da nossa população. Essa é a ideia geral que trabalhamos dentro do nosso programa de governo.

“Temos um plano de atendimento, mesmo com o teto de gastos, que é ampliar a nossa rede básica de saúde”

Eu tenho dito o seguinte: nós não teremos uma escola de Medicina apenas para formar profissionais. Esse é um elemento importante, mas temos também a ideia da pesquisa, da ciência e da produção de equipamentos para o futuro. É muito maior do que somente o curso, e a sociedade vai se dar conta daqui oito ou 10 anos, quando tivermos o curso plenamente funcionando, centenas de profissionais sendo formados e o Parque Tecnológico produzindo equipamentos, pesquisas, ciência. Essa é a revolução pela qual a cidade está passando, e nós estamos preparando a cidade nesse contexto. O poder público está focado nessa visão, nesse olhar de futuro. É um negócio extraordinário, já consigo ver milhares de coisas que vão acontecer e fazer com que a cidade dê um salto de qualidade extraordinário, em todas as suas áreas. Desde que não se interrompa o trabalho, claro, e não diminuam a importância desse conjunto de coisas que estão acontecendo, ainda timidamente, mas que serão revolucionárias ali na frente, no ponto de vista econômico, social, da saúde.

As propostas voltadas especificamente para a educação ocupam menos de duas das 52 páginas que compõem o plano de governo da sua coligação. Quais as dificuldades que São Leopoldo enfrenta na área da Educação e como fazer com que ocorram avanços significativos nos próximos quatro anos?

A primeira questão que temos aqui é novamente o congelamento do investimento público. Esse é um limitador muito grande também na Educação. A nossa ideia é chegar nos 200 anos da cidade sem nenhuma criança fora da escola infantil. Nós vamos trabalhar, tanto na construção de espaços públicos para atender essa demanda, como também na qualificação dos convênios que nós temos hoje. Nós já reduzimos bastante [o número de crianças fora da escola]. E é possível fazer isso? É possível, porque eu fui um dos prefeitos, em nível nacional, que teve posição muito firme na defesa do Novo Fundeb, que o governo federal quis vetar. Graças a nossa luta política, das prefeituras, das bancadas federais, do campo democrático e popular, nós conseguimos aprovar isso. E hoje eu posso afirmar que o Novo Fundeb nos dá condição de resolver o problema da educação infantil.

Agora, precisamos de gestores públicos preocupados com a educação pública, porque uma coisa é ter os recursos, outra é ter comprometimento com a defesa e a valorização da educação pública. Essa é a primeira questão. A segunda é que nós conseguimos, nesse último período, com projetos plantados lá em 2010 e 2011, um processo de evolução na questão da aprendizagem das nossas crianças. Com o aumento da miséria e da fome, nós estamos construindo um suporte maior para a escolas, em torno de 50% da nossa rede, que atendem a parcela da população com maiores dificuldades econômicas. Estamos trabalhando com contraturno escolar, escolas integrais, uma série de elementos que elevam a capacidade de aprendizagem dos nossos alunos, principalmente na escola pública, onde temos maiores problemas sociais.

“A nossa ideia é chegar nos 200 anos da cidade sem nenhuma criança fora da escola infantil”

Trabalhamos intensamente também na qualificação dos nossos professores, e nisso temos que continuar evoluindo. Hoje, me orgulho muito de que a grande maioria dos nossos professores têm curso superior, e até doutorado, e esse foi um processo de muito investimento do poder público no nosso mandato anterior e nesse também. Então, o município, hoje, tem funcionários e professores qualificados e uma rede preparada para atender essa demanda.

Por fim, no nosso programa de governo, temos um elemento estratégico, que é a vontade de transformar o município de São Leopoldo num case tecnológico. Em 2012 demos início às feiras tecnológicas nas nossas escolas. Já naquele ano tivemos feiras em oito escolas e terminamos 2019 com todas as escolas desenvolvendo projetos de tecnologia, desde as escolas infantis. Evoluímos para que o Parque Tecnológico assumisse essa parte também, fazendo um trabalho coletivo. Tenho certeza de que em 2020 seria um sucesso, mas tivemos a pandemia.

Então, estamos trabalhando muito para transformar o município num case que envolva aprendizagem, qualificação dos profissionais e uma informatização tecnológica da rede pública municipal. E a pandemia nos trouxe essa condição, de aprender e trabalhar muito a informatização e a qualificação das nossas escolas, aproveitando o Parque Tecnológico. Nós temos um dos maiores parques tecnológicos da América Latina e temos que aproveitar isso, para que possamos envolver e qualificar a rede e evoluir, não só na questão do ensino às crianças, mas também as escolas e a nossa rede municipal.

Qual é o nosso problema maior? É de que quando saem do ensino básico para o ensino médio, o Estado não oferece isso. Então, nós temos um vácuo enorme, um fosso monstruoso para a nossa juventude. E como nós pretendemos superar isso? Trazendo parcerias com a iniciativa privada, parcerias como a com o SESI, em que nós aprovamos uma escola de formação profissional em tempo recorde para oferecer às nossas crianças que saem das escolas municipais para o segundo grau. Eu acho que esse é o grande desafio do município, trabalhar isso com a iniciativa privada e com as escolas particulares, mas também forçar o Estado para que faça sua parte nesse processo.

Um dos quatro eixos abordados pela sua campanha é a sustentabilidade e o projeto de transformar São Leopoldo em uma cidade sustentável. Quais são especificamente as suas propostas para alcançar esse objetivo?

A nossa cidade, com muito orgulho, é uma das que têm o maior índice de preservação ambiental no espaço urbano. Hoje, em torno de 20% do nosso espaço urbano são áreas de preservação ambiental. Isso é uma coisa magnífica para o futuro. As cidades só terão investimento, crescimento industrial, crescimento econômico, se observarem esse elemento. E nós temos observado muito, desde 2005.

Nós temos cinco ou seis parques públicos, Parque Imperatriz, Parque Pedro Maria, Matinho do Padre Reus, enfim, além de toda a política ambiental voltada para essa ideia. Nós temos clareza absoluta de que uma cidade só se transformará numa grande cidade se incorporar, no seu processo de desenvolvimento, a questão ambiental. Hoje, a grande indústria busca se instalar em cidades que têm esse cuidado com a questão ambiental, saneamento básico, uma cidade integrada, e nós temos desenvolvido isso com muita potencialidade.

Frente a isso, nós também somos uma cidade que recuperou a questão do saneamento básico. Nós tínhamos construído a estação de tratamento e esgoto na Feitoria, que foi abandonada pelo governo anterior, já que seu princípio não era esse, mas nós recuperamos a estação, construímos uma nova na Vicentina, e temos uma captação de recursos de R$ 45 milhões para construir uma terceira na Vicentina. Nós podemos chegar em 2024 com 75% do esgoto tratado na nossa cidade, com coisas já feitas e com coisas aprovadas para fazer. É possível, desde que seja descongelado, de novo, o orçamento da União, que limita os investimentos públicos. Mas nós já temos recursos captados para isso.

“Quando trabalhamos com a coleta seletiva, com a educação ambiental, estamos construindo uma cidade sustentável”

Então, nós trabalhamos, no ponto de vista da sustentabilidade ambiental, com manutenção e fiscalização de áreas de preservação, com investimento pesado em saneamento básico e redução das perdas de água. Nós estamos trocando toda a rede de abastecimento de água do centro da cidade, que tem 90 anos, e isso significa dizer que vamos ter uma redução nas perdas e uma maior qualidade na distribuição de água, tudo com menor captação de água do Rio dos Sinos. Além disso, nós trabalhamos muito a educação ambiental. Em 2012 nós tínhamos cinco Ecopontos, foram destruídos, e nós recuperamos quatro. Então, quando trabalhamos com a coleta seletiva, com a educação ambiental, estamos construindo uma cidade sustentável.

Tudo isso se torna atrativo para os investimentos industriais e econômicos. Empresas como Stihl, Taurus, Gedore, Higra, estão dentro desse processo de integração da cidade. Elas têm áreas de preservação internas, política de resíduos. Mas não são somente as grandes empresas, as pequenas também já fazem isso. Isso nos elevou à condição de uma das principais cidades do país, numa relação com a União Europeia, com o Banco Mundial, com os grandes sistemas ambientais do nosso país, da América Latina e do mundo. Nos dá muito orgulho, ganhamos muitos diplomas e nos tornamos referência internacional. A cidade hoje está num outro patamar, e vai ser um lar muito melhor no futuro, por tudo aquilo que estamos fazendo.

Na sua campanha o senhor disse já estar pensando no pós-pandemia e construindo projetos para que a economia local saia dessa situação com o mínimo de prejuízos possível. Quais são esses projetos?

Nós fomos um dos poucos municípios do Brasil que montaram, desde maio, um grupo de trabalho, porque nem o governo federal fez, nem o governo estadual. Montamos um grupo de trabalho com técnicos da Unisinos, na área da Economia e Pesquisa, com a Fundação Getúlio Vargas, com todos os setores produtivos da cidade, como o setor imobiliário, construção civil, metalmecânico, moveleiro, economia solidária, tecnológico, e fizemos um grande diagnóstico, fantástico, sem gastar um centavo, é bom deixar registrado. Tem quem fale em contratar consultoria, gastar dinheiro com essas porcarias.

Detectamos, nesse diagnóstico técnico, três caminhos. O primeiro, que vai ter uma importância estratégica mundial na Economia é a questão da Tecnologia, e nós temos um dos maiores parques tecnológicos da América Latina. O segundo é a questão da construção civil, e nós temos aqui, hoje, uma das maiores construções civis da região, com recursos captados, projetos pré-aprovados. O terceiro é a questão de serviços. Esses três eixos é que vão fazer a cidade ultrapassar muitos municípios da região no ponto de vista econômico em 10 anos.

E o que estamos fazendo a partir desse diagnóstico? No campo da tecnologia temos alterações de legislações para fazer, ampliações do Parque Tecnológico e a disponibilização de áreas a fim de consolidar empresas que estão vindo para a cidade, que querem vir ou que estão incubadas e não têm para onde ir. Nós vamos oferecer imóveis para que esse núcleo possa ter lugar para se instalar, começar a produzir, com uma legislação mais flexível, e estamos pensando, inclusive, em algum incentivo fiscal para esse campo tecnológico.

Em relação à construção civil, que já tem muitos recursos captados, estamos montando rapidamente um grupo de trabalho de desburocratização e de agilidade na aprovação de investimentos. Teremos, nos próximos três ou quatro meses, muitos projetos aprovados e muitos recursos sendo investidos na construção civil. Nos próximos dois anos, para gerar empregos, talvez mais de R$ 1 bilhão. E na questão de serviços a mesma coisa: dar agilidade, desburocratizar e informatizar esse processo. Esse diagnóstico nos leva a acreditar que até o primeiro semestre do ano que vem nós teremos uma economia pujante, a cidade, talvez, que vai crescer mais rápido na região.

“O comércio vai se recuperar rapidamente e os comerciantes estão levando um susto, inclusive, pelo volume de vendas num momento como este”

Mas tem um elemento anterior a isso que é muito mais importante. Nós fomos a única cidade que não fechou o setor industrial no forte da pandemia, todo o país fechou. Em Porto Alegre, as indústrias ficaram fechadas um mês. E por que nunca fechamos? Porque diagnosticamos que as empresas não eram os maiores focos de transmissão do vírus, mas sim o comércio. Elas trabalharam com 30% da capacidade, depois 50%, e hoje já trabalham com 100%. Isso fez com que as empresas metalmecânicas e tecnológicas assinassem contratos milionários, até 2024 ou 2026… Tem indústrias que já estão duplicando sua capacidade de produção por causa dos contratos que fizeram, já que as empresas de outras cidades estavam fechadas, todo mundo procurou São Leopoldo.

A Stihl está contratando assustadoramente, a Taurus e a Irga também. Nós, hoje, já estamos recuperando os empregos perdidos, estamos aumentando a nossa receita, por essa decisão acertada que tomamos lá em maio. A nossa economia está crescendo enormemente, rapidamente, e vai crescer muito mais por um acerto estratégico que fizemos lá atrás, de não fechar a indústria, acompanhar e ajudar a indústria a funcionar.

E no que isso está influenciando hoje? Eu disse aos comerciantes que eles vão vender mais em novembro, dezembro e janeiro do que venderam em 2019, pelo número de empregos que geramos, pelos investimentos públicos que fizemos. O comércio vai se recuperar rapidamente e os comerciantes estão levando um susto, inclusive, pelo volume de vendas num momento como este. Porque nós sabíamos o que estávamos fazendo, sabíamos que isso nos daria um retorno e estamos colhendo isso agora. Muitos não reconhecem porque não fazem a leitura correta, mas nós, gestores públicos, que temos responsabilidades, cuidamos da saúde, mas também cuidamos da economia. Por isso que sempre dizíamos que as duas coisas andam juntas, mas cada uma no seu tempo… Teve um tempo em que teve que cuidar da vida da população, e teve um tempo em que teve que cuidar da vida e da economia. Hoje, as duas andam juntas e as duas estão se recuperando rapidamente.

Tanto que nossa cidade teve um aumento de 12% nas receitas, mesmo com a crise econômica em que estamos vivendo, e nos últimos quatro anos a nossa economia cresceu 30%. Nenhuma cidade viveu isso. Além disso, somos a cidade que menos perdeu e que mais está gerando empregos no último bimestre. Esses são dados e números exatos, trazidos pelo Novo Caged e pelo próprio IBGE.

O senhor foi alvo de ações que o acusam de improbidade administrativa nos últimos anos — e que, inclusive, chegaram a suspender sua candidatura na eleição passada. Como explica esses processos aos eleitores?

Eu sempre digo o seguinte: todos os meus processos envolvem a gestão pública municipal, não têm nada a ver com corrupção ou desvio de dinheiro. Isso deve ser esclarecido sempre. Não tem um prefeito no Brasil que não responda dezenas de processos, porque ser gestor público traz decisões a serem tomadas, onde o órgão fiscalizador pode ter outro olhar, e ele questiona. Ele exige da gente uma resposta, uma defesa, e isso faz parte da democracia, isso é normal e isso não assusta a gente, porque são atos de gestão, atos administrativos, são decisões tomadas.

Eu, por exemplo, respondo processos que não têm nada a ver comigo… Um secretário deu horas extras para um cidadão e eu respondo, porque a legislação federal coloca essa responsabilidade sobre o prefeito municipal. Boa parte desses processos que respondo são de longa duração e em todos eles tenho feito minha defesa, tenho convencido nas instâncias superiores de que aquilo que nós fizemos foram decisões tomadas para atender uma necessidade da população ou são erros cometidos em instâncias inferiores à nossa, mas que precisamos responder e ter esse cuidado. Sou muito tranquilo em relação a isso.

Mas é claro que sempre é feito uso político disso, ainda mais na era em que vivemos, das fake news, mentira e covardia política. Isso é usado com maldade e irresponsabilidade. Sempre vamos fazer nossa defesa e provar que, de fato, não temos nenhum crime onde os cofres públicos foram lesados ou coisa parecida. E a Justiça faz a sua parte. Os órgãos fiscalizadores têm que fazer sua parte, temos que respeitar isso, e eu respeito muito.

“Todos meus processos envolvem a gestão pública, não têm nada a ver com corrupção ou desvio de dinheiro”

Agora, nós, prefeitos, não podemos deixar de atender ninguém. O governo federal deixa de atender, o governo do Estado também, porque eles não estão nas cidades. Aqui eu não posso deixar de atender as pessoas que vão no hospital… Tem ou não tem dinheiro, tem ou não tem médico, tenho que atender. Eu não posso deixar de atender as crianças que precisam de creche, porque se eu não atender, sou acionado juridicamente, não importa se tenha ou não tenha dinheiro. Se a pessoa precisa de remédio, eu preciso comprar. O gestor público, que tem compromisso e responsabilidade, não fecha os olhos para as situações graves que a população enfrenta. Quem bate na minha porta, eu atendo. Essa é a diferença, eu faço. Porque eu sou prefeito para atender a população. Crime é não atender a população, isso é crime. Deixar alguém morrer por falta de cirurgia, por falta de remédio, deixar uma criança desassistida, isso é crime. E esses crimes eu tenho certeza que não cometi na minha vida de gestão pública, e nem vou cometer, porque tenho responsabilidade com o cidadão que precisa do Estado.

Então, se tu encontrar um prefeito que não tem um processo, ele nunca foi na prefeitura e nunca atendeu ninguém. Todos os gestores públicos respondem por isso, pela forma como está organizado o Estado, o que é justo e que concordo plenamente. A grande maioria dos processos que respondo, já superei e provei que era justo fazer aquilo, que precisava ser feito. Mas numa época de eleição isso é tratado politicamente e isso é ruim, algumas pessoas são desonestas e inflam isso, distorcem. Eu não sou desonesto com meus adversários… Se ele tem um processo, falo a verdade sobre esse processo. Eu não posso mentir para tirar um proveito político. Isso é desonestidade política ou falta de caráter. Eu nunca fiz isso.

QUESTÕES DA COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA

Tendo em vista o cenário da pandemia do novo coronavírus, qual seu planejamento para o retorno às aulas nas escolas municipais e infantis em 2021?

Nós construímos um grupo de trabalho com a Secretaria de Educação, Secretaria Geral, PGM, Conselho Municipal de Educação, Sindicato dos Professores, e mais os CPMs dos colégios, onde estamos debatendo o calendário do ano que vem. Estamos olhando para o quadro atual, mas pensando no futuro, e é evidente que isso envolve uma série de fatores que ainda vão acontecer. Ainda assim, vamos ter um estudo para apresentar em dezembro para que a prefeitura possa pensar o calendário de 2021 com segurança. Nós, hoje, temos a convicção de que as aulas poderão voltar no ano que vem, mas para isso precisamos ter uma série de regras constituídas pela Vigilância Sanitária, governo do Estado e Ministério da Educação. Não é apenas uma ação do município. O que me assusta é que o governo do Estado não está preocupado com isso até hoje, enquanto nós já temos um grupo de trabalho pensando nos equipamentos que serão necessários, como isso pode funcionar. Mas seguimos aguardando as orientações dos governos federal e estadual.

“As aulas poderão voltar no ano que vem, mas para isso precisamos ter uma série de regras”

Todas as decisões tomadas até aqui na educação não saíram da cabeça do prefeito, foram construídas coletivamente com a comunidade escolar, com a sociedade de modo geral, com pesquisas e estudos. Dentro desse debate estabelecemos um convênio com a Universidade de Pelotas, a mesma que fez estudos para o Ministério da Saúde e para o governo do Estado. Então, nós temos uma base técnica extraordinária para trabalhar a partir de debates estratégicos. Vamos deixar isso pronto e, se tivermos a oportunidade, se a população nos der o direito de governar a cidade, com certeza, no ano que vem, o que for decidido será decidido com muita segurança.

Quais são os seus planos para o Hospital Centenário?

Um dos nossos planos para o Hospital Centenário é consolidar essa parceria com a Unisinos, na questão da universidade de Medicina. Nós, até agora, tomamos todas as medidas necessárias para constituir esse hospital-escola, inclusive, a partir da busca da certificação encaminhada em 2018, e que ainda não ocorreu porque o Ministério da Saúde suspendeu as novas certificações. Vamos também qualificar e ampliar o espaço físico do hospital.

“Vamos construir uma parceria público-privada para a construção de um grande complexo hospitalar junto ao Hospital Centenário”

Nós queremos constituir o Hospital Centenário como um hospital regional, queremos aprofundar esse processo. E torná-lo um hospital de um papel estratégico, ampliando suas próprias especialidades. Isso nos leva a construir, melhorar e qualificar ainda mais a relação do Hospital Centenário com a nossa rede pública de saúde. Vamos ampliar e qualificar toda a nossa rede pública. Depois, a partir do momento em que tenhamos resolvido a questão da universidade de Medicina, hospital-escola, vamos construir uma parceria público-privada para que haja a construção de um grande complexo hospitalar nesse espaço físico que o município tem junto ao Hospital Centenário. Temos várias tratativas a respeito disso com grupos empresariais e de investimento, e isso não avançou justamente porque há uma crise econômica nacional e internacional.

O senhor tem propostas específicas para a juventude leopoldense? Se sim, quais?

O nosso governo sempre teve propostas e uma preocupação muito grande com a juventude, tanto é que desde o nosso primeiro mandato temos uma coordenadoria que tem produzido políticas públicas para a juventude na área da qualificação, da cultura, do lazer, começando pelas escolas. Nós temos um projeto extraordinário que é fazer com que as nossas escolas sejam capazes de elevar o índice de aprendizagem, de ensino, para que a nossa juventude possa sair da escola já com perspectivas bastante seguras para o futuro.

“Tornamos o espaço público, gratuito, um espaço de convivência e de reaproximação com a juventude”

Nós construímos um projeto novo, o Vem pra Praça, onde é estabelecido um espaço de diálogo, formação, qualificação e lazer para a nossa juventude. Tornamos o espaço público, gratuito, um espaço de convivência e de reaproximação do poder público com a juventude. Temos também uma preocupação muito grande com a formação e a qualificação dos nossos jovens para o mercado de trabalho. Temos tratado isso com a universidade e com as escolas, a partir de convênios com a própria universidade e com entidades empresariais, criando fundos para apoiar essas iniciativas de forma que a juventude possa, de fato, ter uma participação mais efetiva, qualificada e um desempenho melhor (no mercado de trabalho).

Outro elemento é trabalhar a aproximação da juventude com o poder público a fim de evitar que se perca no meio do caminho. A nossa segurança tem tratado esse tema com a prevenção à violência, criando programas de aproximação à juventude. E também o respeito à questão da diversidade, o respeito e a construção do espaço democrático para que a juventude possa participar e se sentir sujeito do processo histórico. Esses são os elementos que nós estamos trabalhando e construindo nesse último período e queremos aprofundar, melhorar e qualificar no próximo mandato.

Quais ações o senhor tomará para fomentar e apoiar os micro e pequenos empreendedores do município?

53% da nossa receita são serviços. Os serviços são prestados geralmente para os pequenos e microempreendedores, então, estes têm papel muito importante na nossa receita. O que fizemos desde o primeiro governo? Criamos o microcrédito e um espaço de qualificação e de agilidade na questão da liberação dos pequenos empreendimentos. Nós vamos criar também um banco de terras para poder estimular esses setores que precisam de espaço para se instalar, para que possam construir o seu espaço de produção, saindo da ideia de gastar recursos com aluguel.

“Vamos estimular que o que se produz aqui seja comprado e consumido em nossa própria cidade”

Nós encaminhamos um projeto muito importante, junto com o Banrisul, para que possamos criar um microcrédito, com um fundo garantidor construído com recursos públicos. Nós temos um processo de acompanhamento e assessoria, junto ao Sebrae, com órgãos técnicos e vários convênios, para formar, qualificar, ajudar na política de gestão, na administração, no gerir o próprio negócio. Nós também temos uma política de criar a ideia de que a produção desses micro e pequenos empreendedores deva circular e ser preferência na compra do mercado interno. Isso quer dizer que vamos estimular no próximo governo que o que se produz aqui seja comprado e consumido em nossa própria cidade. Estimular essa relação entre produção e mercado na nossa cidade.

A gente também tem criado as feiras populares, um espaço de venda e comercialização destes produtos, e no futuro queremos criar, no Centro de Vendas, um espaço de feiras regionais, nacionais e internacionais na área da tecnologia, mas também na área desses pequenos e médios empreendedores, que têm relação muito grande com a cadeia produtiva da economia nacional. E como nós temos muitas grandes indústrias aqui, boa parte do micro e pequeno empreendedorismo trabalha de forma terceirizada. Então, a ideia é de, no próximo mandato, constituir um núcleo de permanente debate, para que se tenha uma sinergia econômica entre todos esses setores. Nós já estamos fazendo isso no atual governo: montamos um grupo de trabalho que está discutindo os principais perfis econômicos, que tem um diagnóstico de quais são os elementos que vão despontar pós-crise. Esse diagnóstico está nos dando muitos elementos para fazermos mudanças na legislação, facilitar a aprovação de projetos, o licenciamento. Estamos construindo um marco regulatório, muito centralizado, para agilizar e diminuir a burocracia, facilitando a vida do povo.

Que ferramentas e medidas pretende adotar para ampliar o acesso da população às decisões de governo?

Nós criamos várias questões quanto a isso. Nós criamos conselhos municipais, fortalecemos os que nós tínhamos, que são constitucionais, e criamos outros que são muito importantes. Os conselhos, hoje, tanto na área econômica, quanto na área da saúde, da assistência social, do meio ambiente, educação, se constituíram em conselhos com poder de debate, de construção de alternativas e propostas. Então, os conselhos municipais de todos os setores são muito importantes na nossa cidade.

Nós construímos, também, o Fórum Econômico, o Comitê do Bicentenário, o Fórum Como Sair da Crise Pós-Pandemia, o Conselho Municipal de Segurança Pública. Então, nós construímos vários conselhos que passam os grandes debates [para a população]. Construímos mais de 40 conselhos municipais das praças públicas que fazem a gestão sobre a recuperação dos espaços públicos, temos o orçamento participativo, temos vários instrumentos e elementos de diálogo, como o Conselho da Mulher, Conselho da Juventude, Conselho do Idoso. Temos fortalecido e reconstituído esses conselhos, que são espaços muito importantes.

“Construímos mais de 40 conselhos das praças, temos o Orçamento Participativo, vários instrumentos de diálogo”

Além disso, nós temos também as conferências realizadas, como a Conferência da Igualdade Racial, da Habitação, LGBT, das Mulheres, da Segurança. Todas essas conferências que nós criamos são espaços de construção de uma plataforma de ações e propostas de governo e fiscalização e controle das políticas públicas. Temos também o Conselho de Fiscalização do Processo de Gestão Pública. Então, nós temos muitos canais, e a nossa proposta é fortalecer esses canais e ampliar os espaços de decisão desses conselhos, uns consultivos, outros deliberativos.

Esses são elementos extremamente importantes, além da relação com as instituições. Nós sempre estabelecemos uma relação muito séria com as instituições, as entidades empresariais, sociais, comunitárias, com todas as entidades constituídas na sociedade. Nós temos tido um profundo respeito e diálogo sobre as propostas e demandas que o governo apresenta. Então, são muitos espaços que foram fortalecidos, recuperados, e foi delegado a eles responsabilidade na decisão, execução, controle e fiscalização. Essa é a ideia que nós trabalhamos e vamos aprofundar e valorizar muito no próximo período.

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