Varejo aposta no FGTS para aumento nas vendas do final do ano

Comerciantes miram os R$ 500 do saque imediato para aquecer o faturamento nas lojas

Arthur Menezes
Redação Beta
4 min readDec 4, 2019

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Varejo se prepara para fim de ano movimentado. (Foto: Arthur Menezes/Beta Redação)

O dinheiro extra do saque de parte do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é a expectativa para esquentar as vendas durante as datas comemorativas de final de ano. O otimismo é tanto que a Confederação Nacional do Comércio (CNC) aposta que o Natal de 2019 será o melhor dos últimos seis anos. O que se espera é que o faturamento real tenha aumento de 4,8% em comparação a 2018, descontada a inflação.

O movimento em agências da Caixa Econômica Federal e lotéricas para sacar os R$ 500 iniciou em setembro, mas ainda tem gente retirando o dinheiro das contas ativas e inativas. Seduzir o consumidor a investir esse recurso nas compras de Natal é a meta atual do varejo. E ainda há possibilidade de ser melhor. O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, fala em revisar a projeção para 5%.

Cenário tão promissor tem muita relação com a injeção de cerca de R$ 40 bilhões na economia até março do próximo ano, vindos dos recursos retidos do FGTS. Dinheiro que a jornalista Daniele Balbinot, 43 anos, irá investir em presentes para a família neste Natal. “É um valor que não contava, estava parado. Nada mais justo do que aproveitar um pouco”, justifica. “Ainda tenho mais retido. Estou pensando se vale a pena optar pelo saque-aniversário.”

Crise? Que crise?

A comerciante Emily Nascimento, dona de uma loja de roupas femininas em Nova Santa Rita (RS), viu o movimento entre as araras aumentar bastante desde a liberação do FGTS. Ligada na tendência, investiu no estoque para o Natal. “Capto pelos comentários das meninas que agora o ‘dindin’ caiu e dá para comprar”, comenta. E quem não tem dinheiro também não deixará de adquirir, na opinião de Emily. “Acho que não existe essa crise que falam. Colocam no cartão de crédito, parcelam, mas não deixam de levar.”

A comerciante Emily Nascimento está confiante em um final de ano positivo. (Foto: Arthur Menezes/Beta Redação)

A percepção de Emily não está errada. Levantamento do Núcleo de Pesquisa do Sindilojas Porto Alegre aponta que os consumidores pretendem desembolsar em torno de R$ 164 por presente, com itens variando entre R$ 90 e R$ 247. O total gasto com todos os presentes deve ficar em R$ 526, em média. A projeção da entidade é que sejam movimentados R$ 458 milhões no comércio gaúcho nesse Natal que, além do 13º salário, tem no FGTS a grande aposta para incrementar as vendas.

Depois da Black Friday

Pesquisa da Fecomércio-RS mostra que, na Black Friday, muitos consumidores antecipam as compras, especialmente de eletroeletrônicos, o que movimentou as lojas físicas e virtuais na última semana. Entre os entrevistados da pesquisa, realizada antes da data, 50,9% relataram que iriam fazer compras no período. Com relação às compras de Natal, 43,9% do total afirmaram que esse era o objetivo durante a sexta-feira de promoções. E, com parte do FGTS em mãos, ficou mais fácil. “O lojista precisa entender o comportamento do consumidor e adaptar-se”, observa o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.

E as dívidas?

Apesar da tentação de usar a grana extra para as compras de Natal, há os mais contidos, que irão reservar o valor do saque imediato para pagar dívidas. É o caso do estudante de pedagogia Bernardo Wartchow, 36 anos. Ele retirou os R$ 500 em novembro e pagou a parcela de um empréstimo. “Quero me livrar das contas mais pesadas. Vou usar o 13º para isso também”, conta. Segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 37,4% dos brasileiros inadimplentes devem até R$ 500. As dívidas variam de R$ 500 a R$ 1 mil (15,9%) e de R$ 1 mil a R$ 2,5 mil (20,34%).

Impulso em 2017

A liberação para o saque de contas do Fundo de Garantia movimentou a economia brasileira em 2017. À época, quem tinha saldo pôde retirar dinheiro das contas inativas (que não recebiam mais depósitos e não podiam ser movimentadas pelo trabalhador exceto nos casos específicos previstos, como financiamento imobiliário). A intenção era impulsionar o consumo em um cenário de recessão econômica e de alto endividamento da população. Há dois anos, segundo a Caixa Econômica Federal, foram liberados R$ 44 bilhões para 25,9 milhões de trabalhadores. O resultado foi o PIB daquele ano em 1,1%, resultado positivo depois de dois anos de recessão. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo das famílias avançou 1% em 2017, depois de ter recuado 4,3% em 2016.

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