Vegana da cabeça aos pés

Criação de e-commerce foi uma alternativa vegana e sustentável para inserção no mercado da moda

Milene Magnus
Redação Beta
5 min readMay 23, 2018

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O estilo de vida vegano descarta toda e qualquer exploração animal no seu dia a dia, principalmente em respeito à vida desses animais. Segundo The Vegan Society — a mais antiga entidade vegana do mundo, da Inglaterra — , o veganismo é o emprego de “uma dieta baseada em vegetais, evitando todos os alimentos de origem animal, como carne (incluindo peixes, moluscos e insetos), laticínios, ovos e mel — assim como produtos como couro e qualquer testado em animais”.

A Revista Forbes publicou, em março, um artigo revelando que os Estados Unidos tiveram impressionantes 600% de crescimento no número de pessoas que se identificam com o veganismo nos últimos três anos. Ainda segundo o relatório, aproximadamente 70% da população mundial está reduzindo ou excluindo o consumo de carne.

Calçados confeccionados no atelier de Marcos dos Santos, em Sapiranga, para Urban Flowers. (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

Existe uma associação entre o veganismo e o vegetarianismo — que é a exclusão de todo tipo de carne da alimentação, segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira. Entretanto, a partir da definição adotada pelo site Seja Vegano — portal do Vista-se para incentivar pessoas a aderirem ao estilo vegano — , percebemos que deixar de comer carne não é a única renúncia. A moda também requer um consumo consciente. Pensando nisso, Cecília Weiler, 21 anos, de Campo Bom, decidiu abrir um negócio vegano: a Urban Flowers, e-commerce de calçados e roupas veganas e sustentáveis.

Quando iniciou sua trajetória em vendas pela internet, Cecília, com 16 anos, revendia diversas marcas em seu site, por influência do pai, que trabalha no ramo de venda de roupas. Mas, depois de entender como funcionava a produção de todas as roupas que ela revendia, a empresária buscou uma alternativa para o estilo de vida que levava.

Em meio à garagem de casa, Cecília colocou em prática os planos da marca vegana. Começou produzindo calçados simples. Com o crescimento da marca, precisou contratar auxílio.

No berço calçadista do estado, convencer produtores locais de que o mercado vegano é crescente e lucrativo foi difícil. “Imagina uma guria de 16 anos explicar para um produtor de mais de 30 anos de experiência profissional, confeccionando com couro há muitos anos, que ela quer tudo aquilo que ele não faz e que isso é rentável. Essa foi a parte mais difícil do negócio”, explica Patrick Lenz, namorado e sócio de Cecília.

O descrédito da Urban Flowers foi, aos poucos, dando espaço aos bons resultados da marca. Assim, o crescimento precisou da ampliação de sua produção. A busca por ateliês que atendessem suas necessidades e passassem credibilidade à direção da empresa fez com que as cidades de Sapiranga, Campo Bom, Ivoti e Novo Hamburgo estejam, hoje, juntas produzindo para a empresa.

Produção dos calçados em ateliê na cidade de Sapiranga. (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

O estigma de que o estilo de vida vegano é caro tem se alastrado. “O foco da empresa é trazer produtos veganos com custo acessível, desconstruindo a ideia de que esse mercado tem alto custo”, conta Patrick. Os calçados podem ser adquiridos, em média, entre R$ 89 e R$ 129. Já as roupas não ultrapassam os R$ 100. As camisetas estampadas da marca podem ser compradas por R$ 49,90 no site. Muitas são as pessoas que se surpreendem com os preços oferecidos pela empresa, segundo o sócio de Cecília. Ainda assim, a qualidade do produto também é uma preocupação da empresa.

Produzidos no ateliê de Marcos dos Santos, 51 anos, em Sapiranga, os calçados femininos são confeccionados por quatro funcionários. Corte de tecido, molde do solado, desenho do sapato e a finalização do calçado são os processos do ateliê, nos fundos da casa de Marcos — que tem mais de 30 anos de experiência com produção de calçados. Celonir Castro, 67 anos, e Aristeu Pereira, 58 anos, são funcionários de Marcos desde o início da parceria com a Urban Flowers. Cláudio Oliveira, 63 anos, há um ano também atua na fabricação das peças sustentáveis. Ambos trabalhavam com calçados antes de ingressar no ateliê.

“A gente percebe que ajuda a reciclar os tecidos. Com muita coisa que iria fora, estragaria dentro de grandes empresas, nós conseguimos produzir os calçados. E o pessoal tá se preocupando mais, né? Tu vê vários potinhos de ração pra cachorro espalhados pelas ruas. Eu acho legal”, conta Marcos dos Santos.

Celonir dando forma aos calçados da Urban Flowers. (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

A ampliação da marca já é uma expectativa da direção da empresa. Bolsas, mochilas, carteiras e afins são produtos estudados para serem lançados nas próximas temporadas. A produção das bolsas, entretanto, já começou com pretensão de lançamento nos próximos meses. “Nós queremos fazer um teste com os clientes para ver como seria a venda de outros produtos”, revela Patrick. Cerca de 30% dos clientes da empresa são clientes ativos na plataforma. Clientes esses que estão espalhados por todo país.

Ainda com a expansão da marca, a Urban Flowers também tem a responsabilidade de auxiliar e investir em pequenos produtores, segundo Eduardo Weiler, pai de Cecília. “Nossa preocupação é de, mesmo com o crescimento da marca, não buscar uma produção excessiva. Tu vê que ali (no ateliê) eles trabalham com amor. E é com isso que a gente se preocupa”, conta Eduardo.

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Milene Magnus
Redação Beta

Jornalista formada pela Unisinos. Apaixonada por contar histórias, por esportes, por moda.