Venda de automóveis novos e usados registra aumento gradativo em 2022

Governo reduz em 24,75% o IPI para aumentar número de emplacamentos

João Teixeira
7 min readSep 5, 2022
Negociações estão cada vez mais raras nas concessionárias (Imagem: Divulgação / Freepik).

A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) registrou uma evolução gradativa na venda de automóveis novos e usados para o último mês. Dados extraídos do relatório da Fenabrave, apontam alta de 12,6% em agosto, totalizando 346.505 unidades emplacadas. Com o resultado, o setor consolida a recuperação e neutraliza a queda em relação ao mesmo período de 2021. No início de 2022, o setor chegou a apresentar retração superior a 15%, enquanto hoje a queda diminuiu para 0,03%. Na comparação realizada entre junho de 2021 e junho de 2022, o mercado já apontava crescimento nas vendas de 0,22%.

Com o objetivo de crescimento no volume de emplacamento para um resultado equivalente ao obtido em 2021, o governo anunciou um aumento no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), para automóveis novos de 24,75% a partir de 1º de agosto. Em 25 de fevereiro, o setor teve redução de 18,5%. A expectativa é o crescimento de mais de 4%, chegando a um total de mais de 2.060.000 unidades.

Assim como os automóveis novos, de acordo com a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), os usados apresentam um crescimento gradativo de 3,3% ao que foi registrado em junho, com média diária de transferências de 55.449 veículos. No acumulado de 2022, mercado chega a representar uma queda de 18%.

Para carros zero quilômetro, em um relatório divulgado pela Fenabrave, a falta de insumos como plástico, borracha, alumínio e o vidro impossibilitaram a fabricação em massa dos automóveis. Fenabrave destaca que além da dificuldade nas montadoras, o transporte dos componentes estava falho e o dólar sempre em alta. Estes foram os motivos que levaram ao acréscimo de valor no produto final, mas com a diminuição e a normalização pós pandêmica, todo setor voltou a movimentar o mercado automotivo — mas com quantidade reduzida na fabricação de condutores e subcondutores. O transporte marítimo também voltou a normalidade.

Segundo dados extraídos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em 2018, um Gol Trendline 1.0 zero quilômetro custava R$ 40.963, sendo que os brasileiros possuíam R$ 954 de salário mínimo. Já no ano de 2022, um Gol 1.0 zero quilômetro não sai por menos R$ 71.009, sendo o salário mínimo de R$ 1.212. Mesmo com o aumento de 27,05% na remuneração, não foi suficiente para facilitar ou cobrir o aumento de 73,35% no preço final.

Valor dos automóveis aumentou em 73,35% nos últimos quatro anos. (Gráfico: João Teixeira/Beta Redação)

Já para o mercado de carros usados, a Fenauto explica que a distorção nos valores ocorreu devido a pandemia doe coronavírus e pela falta de semicondutores no mercado, assim como o aumento no Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e a inflação. De acordo com dados da Tabela Fipe, o New Fiesta 1.6 Style usado custava R$ 52.010 em 2018. Em agosto de 2019, seu valor era de R$ 47.020. No mesmo mês de 2020, sua Fipe caiu 7,94%, chegando em R$ 43.563. Já em 2021, a tabela apresentava o valor de R$ 51.456, um aumento de 9,43%. Por fim, em agosto de 2022, novamente pode-se observar um acréscimo de 7,02%, elevando o valor a R$ 55.066.

Gráfico apresenta índice da valorização de 16,45% de 2021 à 2022. (Gráfico: João Teixeira/Beta Redação)

Em entrevista gravada, presidente da Fenabrave do Rio Grande do Sul, Paulo Siqueira, destaca que a expectativa para o ano de 2022 é a repetição do cenário de 2021 em termos de volumes e quantidades, onde foram emplacados 1.557.952 carros novos no Brasil inteiro. O mercado brasileiro, que possui capacidade instalada de cinco milhões de veículos por ano, apesar de possuir um crescimento mínimo no número de vendas de carros novos, ainda sente o prejuízo da desorganização sistêmica e logística das montadoras.

“Existem dois fatores da inflação no valor do veículo zero quilômetro, a baixa oferta e a falta de insumos”, afirma presidente da Fenabrave.

Siqueira relata que as oscilações do petróleo, que compõe 30% de um automóvel, também evidenciaram a alta nos valores, assim como o frete marítimo. Segundo o presidente, “a fabricação dos automóveis respondem por longas cadeias produtivas”. O mercado automotivo tem uma participação de 25% no Produto Interno Bruto (PIB) de qualquer economia organizada ao redor do mundo. No Brasil, representa 5%.

Paulo acentua que os carros novos e usados possuem diversos aparatos de tecnologia, segurança e conforto modernos que validam o aumento no preço final do produto. Os impostos possuem volume maior que 40% no valor final do produto, impactando negativamente na venda dos segmentos.

O economista, Rodrigo Portolan, enxerga o aumento na venda de veículos e a expectativa ao acompanhar diariamente os dados informados pelas organizações Fenabrave e Fenauto. A tecnologia embarcada, alta no dólar, como já foi citado anteriormente, impostos e o valor dos insumos precificam o produto.

Rodrigo esclarece que os tributos para veículos nacionais variam de 30% a 48,6%. Já os importados são taxados com alíquotas maiores, entre 60,6% e 78,6%. Na aquisição de um veículo são impostas taxas de ICMS, IPI, COFINS e PIS, além do IPVA, seguro obrigatório e licenciamento.

Portolan salienta que a alta no diesel e a queda na gasolina também influenciam o mercado. “Devemos notar que a Fipe baixou em alguns segmentos, como exemplo podemos observar as caminhonetes a diesel.”, salienta Rodrigo.

O economista também que mesmo se houver alta demanda de veículos, em ambos os setores, novos e usados, a tendência do mercado é ceder, mas não voltará a bater os números do anos anteriores. Ao estarmos em ano de eleições, Rodrigo destaca para a possibilidade do mercado entrar em baixa novamente.

Portolan ainda explica que os juros para comprar um carro usado fica em torno de 3% até 4,5% ao mês, enquanto para veículo novos, a taxa mensal de juros está de 1,5% até 2%.

Experiência na hora da compra

O comprador e revendedor de automóveis usados do município de Farroupilha no Rio Grande do Sul, Gilberto Brustolin, relata que o mercado está muito inflamado. Brustolin tinha o costume de comprar carros todos os meses e revendê-los. Com o aumento nos valores, não é mais possível fazer as transações.

Ao tomar conhecimento do crescimento gradativo do mercado, tanto de carros novos quanto usados, Gilberto enxerga esperança no decréscimo de valores nos próximos meses. “É improvável saber como o mercado poderá proceder, mas o aumento no número de vendas já é um indicativo que o mercado pode apresentar queda nos preços.”, relatou. Como revendedor de veículos percebe que as pessoas não se importam mais em adquirir produtos usados e que o motivo são as filas de espera para o carro zero quilômetro.

“É incrível imaginar que o carro zero quilômetro não é mais uma preferência na hora da compra”, afirma Gilberto.

Ao final da entrevista, o comprador e vendedor de veículos afirma que comprar um carro novo possui uma série de benefícios, desde o atendimento, o suporte e a garantia, mas que as empresas vendedoras de carro usados estão se adaptando ao padrão para acompanhar as montadoras.

No mês de agosto, Jerônimo Portolan Filho, adquiriu uma Volkswagen Nivus zero quilômetro. Foram meses de procura até encontrar a SUV que desejava. Viveu a experiência de comprar o primeiro carro novo com sua esposa.

O comprador conta que não precisou reservar o veículo, bastou ir até a concessionária e retirá-lo pois havia uma a pronta entrega. Caso contrário, teriam que fazer a reserva e aguardar mais de 30 dias. Além do mais, Jerônimo reclamou que os valores estão extremamente elevados para a condição de vida de muitos brasileiros. “Foi pago R$ 120 mil, não é para qualquer bolso, e trocando uma ideia com conhecidos, a maioria fala isso.”, relata ele.

De acordo com ele, a SUV que comprou possui acessórios e os opcionais extremamente interessantes — 6 airbags, ACC, multimídia, carregador por indução — e que muitas vezes um carro usado, por ser mais antigo, poderia não possuir. Jerônimo e a esposa buscavam um carro automático, com um pouco de tecnologia e economia de combustível. O comprador conta que “acertamos, poderíamos ter optado por um usado na faixa de R$ 100 mil que ficaria até mais viável para pagar, mas tudo acabou se encaixando, o atendimento, o modelo, forma de pagamento e a rapidez.”.

Gilberto Postali é outro que adquiriu recentemente um automóvel. Realizou a compra de um Chevrolet Cruze usado. Postali comenta que a experiência de compra não é ruim. Apesar dos valores serem considerados, para o padrão de vida brasileira, elevados, existe uma compensação na garantia do veículo e na tecnologia. “Hoje em dia a tecnologia facilita o uso do veículo e é cada vez mais necessária”, afirma.

O comprador relata que o carro novo é vantajoso pois seu tempo de durabilidade é maior, mas pontua que a compra do carro usado é extremamente vantajosa para quem não tem condições de comprar um carro novo porque assim como o zero quilômetro, caso apresente algum tipo de problema, possui garantia de três meses. “Não tem porque não comprar um carro usado hoje em dia, as revendedoras são obrigadas a dar três meses de garantia e por muitas vezes você adquire carros mais completos que muitos que vem direto das montadoras.”, finaliza.

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