Venda de veículos novos segue em queda no Brasil e números ainda estão distantes do período pré-pandemia
Falta de componentes e guerra na Ucrânia são alguns dos fatores que impactam os licenciamentos no país
A pandemia de Covid-19 começou em março de 2020 e apesar de já terem se passado quase três anos, há ainda uma série de fatores que seguem impactando a economia brasileira. Um desses setores é o de venda de automóveis novos.
Em 2019, último ano sem pandemia no Brasil, o número de automóveis zero quilômetro vendidos foi de 2,79 milhões. Um ano depois, com a chegada do vírus, os licenciamentos caíram para 2 milhões, ou seja, uma queda significativa de 26,2%. Já em 2021, os números voltaram gradativamente a subir e chegaram em 2,1 milhões.
Neste ano, o acumulado de vendas de veículos novos de janeiro a outubro foi de 1,6 milhão. O número é 3,2% menor se comparado com o mesmo período do ano passado e também fica bem abaixo dos período pré-pandemia, quando 2,55 milhões de carros foram licenciados.
O que explica a baixa venda de veículos?
A chegada da pandemia fez com que o mundo parasse e, consequentemente, as fabricantes de veículos também. Depois, quando a produção pode voltar a ser normalizada, as marcas ainda tiveram que lidar com a falta de componentes. O principal deles é o semicondutor, utilizado para produzir chips que integram diversos aparelhos eletrônicos e até automóveis.
O que acontece é que esses fatores colaboraram para que a produção de veículos diminuísse, assim como a disponibilidade de automóveis nas concessionárias. No entanto, a demanda continuou a mesma nesse período, assim como mostra uma pesquisa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em conjunto com a Webmotors. O levantamento, que entrevistou 4.240 pessoas, mostra que 75% queriam comprar e ou trocar de carro ainda em 2021. Por isso, os preços subiram.
A história ainda se repetiu com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. Isso porque algumas peças importantes para a fabricação de carros são importados daqueles países. Além disso, com o aumento do dólar, o custo do aço e do vidro, por exemplo, também ficou mais alto.
O Presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, explica que o setor automotivo não é o único afetado por esses transtornos.
“A indústria é global e acaba impactando no sistema de logística. As pessoas precisam entender que a pandemia foi questão de saúde, mas acabou provocando uma desorganização no sistema global, e não só no setor automotivo”, diz.
Entre essas adversidades há ainda alguns problemas locais que também afetam a venda de veículos. Em outubro de 2022, o número de automóveis novos comercializados foi 6,7% menor do que em setembro, quando 194 mil veículos haviam sido vendidos. De acordo com o Presidente da Anfavea, as manifestações bolsonaristas impactaram nos resultados.
“O ritmo diário de vendas vinha mantendo viés de alta, mas foi interrompido por conta das manifestações do último dia do mês, o que afetou todos os nossos indicadores. Sem essa questão, a média diária ficaria em torno de 9,5 mil unidades, mas ficou em 9 mil, um pouco abaixo dos 9,2 mil de setembro”, disse complementa Márcio.
Qual é o carro zero quilômetro mais barato do Brasil?
Esses fatores fizeram o valor do carro zero quilômetro mais barato do Brasil passasse a ser quase três vezes maior. Em 2019, o Caoa Chery QQ, que acabou saindo de linha, ocupava esse posto e custava R$ 28.740. Hoje, o automóvel novo com o menor custo do mercado é o Fiat Mobi, que tem preço de R$ 65.890. Há quase três anos, o hatch era vendido por R$ 32.890, um aumento de R$ 33 mil.
Isso faz com que diversas pessoas repensem na hora de comprar um carro novo. Um exemplo disso é do autônomo José Henrique, que pretende ficar com seu veículo ainda por um bom tempo.
“Os acontecimentos dos últimos anos fizeram com que os preços dos carros novos aumentassem muito. Eu comprei um veículo zero quilômetro em 2018, mas com os valores de hoje está praticamente impossível fazer isso outra vez. Pretendo continuar com meu automóvel por mais muito tempo. E se eu trocar, com certeza não será por outro carro novo e sim por um usado ou seminovo”, explica.