Warpaint celebra a independência feminina no palco do Meca

Banda californiana foi a principal atração do último fim de semana em Maquiné/RS

Laura Pavessi
Redação Beta
3 min readNov 9, 2018

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Stella, Theresa, Emily e Jenny tocaram pela primeira vez no Rio Grande do Sul. (Foto: Laura Pavessi/Beta Redação)

Em tempos incertos para quem vive a cultura e defende a igualdade no Brasil, a presença de quatro mulheres talentosas, confiantes e carismáticas em um palco para celebrar a música independente é, por si só, uma mensagem de resistência. Nesse contexto, foi difícil encontrar na audiência de milhares quem não estivesse comovido com a apresentação breve, mas densa, das californianas do Warpaint durante o Meca Festival. O show ocorreu na madrugada de sábado para domingo (4), em Maquiné, no litoral norte gaúcho.

A banda foi uma das últimas atrações da noite e o único nome internacional do line-up, subindo ao palco por volta da 1h do horário de verão para tocar um setlist de nove músicas. A chuva que ameaçava se impor nos shows anteriores se dissipou e deu lugar a um céu cheio de estrelas que, em contraste com a iluminação neon e o verde da mata na Fazenda Pontal, intensificou o clima místico e envolvente característico do rock experimental com referências de dreampop feito pelo grupo.

A apresentação começou com a percussão de Stella, seguida pelo baixo de Jenny fazendo as primeiras notas de The Stall, faixa de Heads Up (2016), o álbum mais recente delas. Uma bonita coincidência que, dado o simbolismo intrínseco ao show de uma banda 100% feminina em um país onde as mulheres têm papel coadjuvante no mercado musical, o primeiro refrão do grupo declare “But I won’t give up on you”. Em seguida, vieram Warpaint e Beetles, sucessos — dentro dos parâmetros da música indie — do primeiro disco e do primeiro EP da banda, The Fool (2010) e Exquisite Corpse (2009), respectivamente.

Os cerca de 40 minutos de apresentação foram marcados por uma impecável sintonia na execução e na energia das quatro musicistas. Emily e Theresa revezavam com graça o papel de frontwoman — com vocais que ora complementavam um ao outro como o som das suas guitarras, ora se confundiam entre si descrevendo em uníssono um mesmo sentimento. Entre canções, houve espaço para as duas arriscarem algumas palavras em português, fazerem referência ao “come to Brazil” constante dos fãs nas redes sociais. Elas também flertaram com o público e declararam, com naturalidade, como a audiência daquela noite era sexy.

Setlist do show trouxe faixas de diferentes momentos da história de quase uma década da banda. (Foto: Laura Pavessi/Beta Redação)

Na sequência, todo o dinamismo de Drive preparou o público para um dos hits do setlist, Love Is To Die. A dobradinha do álbum Warpaint (2014) colocou mesmo quem estava longe do palco para dançar. A seguir vieram mais três faixas do controverso último disco (Heads Up, 2016): So Good, Above Control e New Song, esta última compensando a desacelerada de empolgação provocada pelas duas primeiras e mostrando que mesmo na música independente há lugar para o pop chiclete (e que ele pode ser de bom gosto).

Para decepção de alguns, essa não foi a oportunidade de ouvir clássicos da banda como Billie Holiday e Undertow,mas o grupo se despediu com uma faixa tão ou mais grandiosa que nenhum fã conseguiu colocar defeito. A provocante Disco//Very deixou o público por alguns minutos pedindo “mais um”, sem sucesso. Mas a sensação que fica ao fim do show é que o Warpaint deixa seu recado mesmo sem precisar ser explícito, mesmo sem fazer marketing, sentenciando que a melhor resistência é a dedicação.

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