Yoga e pilates unem benefícios para corpo e mente

Práticas proporcionam mais flexibilidade, concentração e bem-estar emocional usando como método exercícios de postura e respiração

Amanda Bier
Redação Beta
11 min readSep 27, 2021

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Por Amanda Bier e Laura Santos

Aluna de pilates realiza alongamento com ajuda do instrutor Adriano, que ministra aulas desde 2020. (Foto: Adriano Bitencourt/Arquivo Pessoal)

Todo mundo sabe que manter o bem-estar físico e mental é de extrema importância. Contudo, por mais óbvio que seja esse fato, em meio à correria do dia a dia torna-se cada vez mais difícil reservar um tempo para cuidar da saúde. Nesse caso, práticas que não necessitam de grandes espaços e infraestrutura de equipamentos, como o yoga e o pilates, ajudam aqueles que buscam uma vida mais saudável e equilibrada. Para isso, basta um cantinho reservado e confortável para começar a se exercitar.

Nos últimos anos, o yoga e o pilates têm sido cada vez mais procurados devido aos benefícios para a saúde da mente e do corpo. E o melhor é que qualquer pessoa pode praticar: não existem contraindicações. A professora de yoga Andrea Tavares Borges, que ministra aulas na academia AGD, na rua São Paulo, no Centro de São Leopoldo, explica que a prática é uma excelente alternativa para quem busca melhorar o condicionamento físico, mas também a ansiedade.

“Através dos exercícios de pranayamas [respiração], ásanas [posturas], equilíbrio e meditação é possível fortalecer o corpo e, ao mesmo tempo, trabalhar o lado emocional, treinando a mente a se concentrar no momento presente. Como uma das principais características da ansiedade é o medo do futuro, o yoga ajuda no controle desse pensamento e nos faz focar no aqui e no agora”, comenta a professora, que ministra aulas há 15 anos.

Alunos de Andrea realizam os ásanas, exercícios de postura do yoga que trabalham conjuntamente aspectos do corpo e da mente. (Foto: Andrea Tavares Borges/Arquivo Pessoal)

Além de ajudar a controlar a ansiedade, o hábito de abrir o tapete, fechar os olhos por alguns instantes, respirar fundo e se conectar com o mundo interno, quando feito regularmente, também pode combater o estresse. “Mais que uma série de exercícios, o yoga ajuda na busca pelo equilíbrio da mente, fundamental para quem deseja enfrentar as situações da vida de maneira mais leve, feliz e tranquila”, ressalta Andrea.

Na avaliação da professora, a prática de yoga é o que acontece no dia a dia e as aulas são apenas o momento de aprender o que levar para o mundo lá fora. “Tudo o que você faz em uma aula de yoga é um treino para a vida. Você não pratica yoga uma ou duas vezes por semana e, depois, esquece. Por isso, quando termino a aula, sempre oriento meus alunos a continuarem pensando durante o dia em como está a respiração, se estão ansiosos, se a coluna está alinhada, porque é a partir desses hábitos que vamos melhorando gradativamente a saúde mental”, salienta.

“Junto com o yoga, substituir hábitos antigos que não estão fazendo bem e trazer um novo olhar para a alimentação também é fundamental”, enfatiza Andrea.

Outro benefício do yoga é a prevenção e tratamento de doenças. Pessoas que possuem problemas cardiovasculares, por exemplo, podem se favorecer com a prática, já que os exercícios respiratórios melhoram o fluxo sanguíneo e a oxigenação das células. Por ajudar a abrir as vias aéreas, facilitando a respiração, o yoga também auxilia no controle da asma, bronquite e demais doenças pulmonares. Já as posturas físicas praticadas contribuem para o aumento da força e da flexibilidade, prevenindo osteoporose, artrite, artrose, além de outras dores musculares, nas articulações e na coluna.

Segundo Andrea, para obter bons resultados, a prática de yoga deve ser realizada diariamente ou, em média, duas vezes por semana. “Sabemos que com a correria diária fica difícil praticar todos os dias, mas melhor uma ou duas vezes na semana do que nada. Já em relação ao tempo, as minhas aulas costumam durar, no mínimo, uma hora”, pontua a professora, que devido às regras de segurança e higiene impostas pela pandemia está ministrando aulas de yoga online e retomando, aos poucos, com as práticas presenciais.

“Desde o início da pandemia oferto aulas virtuais e está sendo um desafio muito grande levar a distância o que nos aproxima tanto, que é o yoga, mas tem dado um excelente resultado. Isso nos possibilitou ter um novo olhar a respeito das nossas relações, porque vimos que é possível estar distante e perto ao mesmo tempo. Agora, estou trazendo as aulas para o presencial novamente com turmas pequenas, de 4 ou 5 alunos. É um pouco estranho praticar yoga com máscara, mas se faz necessário, então estamos nos adaptando. Além disso, cada aluno tem o seu próprio material e tenho bastante cuidado com a higiene para que possamos usufruir de uma aula sem tantas preocupações”, destaca Andrea.

Professora Andrea com os alunos que retornaram às aulas presenciais de yoga. (Foto: Andrea Tavares Borges/Arquivo Pessoal)

A paixão pelo yoga

Praticante de yoga há quatro anos, a professora do Ensino Fundamental da Rede Municipal de São Leopoldo, Quênia Strasburg, 45 anos, não abandonou a atividade na pandemia. Toda terça e quinta-feira ela faz aulas a distância. “Quando comecei a praticar yoga, em janeiro de 2017, eu fazia presencialmente, mas agora, com a pandemia, faço online duas vezes por semana. Foi um pouco difícil no começo porque a gente não dominava as ferramentas digitais, então tivemos que nos adaptar, mas acredito que o mais importante foi as aulas continuarem. Não consigo mais imaginar a minha vida sem o yoga”, relata Quênia, aluna da professora Andrea.

Quênia na aula de yoga em 2019, época em que ainda praticava presencialmente. (Foto: Quênia Strasburg/Arquivo Pessoal)

Para lidar com as adversidades, Quênia conta que os momentos de pausa e os exercícios de meditação, postura e respiração que o yoga proporciona são fundamentais. “Na época em que comecei a praticar eu estava terminando o doutorado, então foi uma fase de muita demanda, ansiedade e cansaço que o yoga ajudou a melhorar. Na pandemia também houve momentos muito difíceis, porque fiquei muito tempo em casa, sentada, então às vezes eu tinha dores nas costas, mas a prática sempre alivia essas questões físicas e também emocionais”, diz.

Quênia destaca, inclusive, que o yoga é direcionado para todos. Para quem quer começar, a aluna orienta as pessoas a não se preocuparem com idade, altura ou se são muito agitadas, porque a prática é totalmente adaptável e pode se adequar às mais diversas condições de aprendizado. “No início foi bem difícil, porque eu era muito dura, não tinha flexibilidade e ainda sou uma pessoa alta, então eu pensava que nunca ia conseguir fazer determinados ásanas, mas, aos poucos, fui conseguindo melhorar. Por isso, para quem tem interesse em praticar eu digo: apenas faça. Com o tempo, acabei me apaixonando pelo yoga de uma maneira que agora é impossível pensar em não fazer”, afirma Quênia.

Pilates também é uma prática para todos

No pilates, as coisas não são muito diferentes. Por não ter contraindicações, pessoas com históricos de lesões têm procurado nessa alternativa esportiva a melhora de sua saúde física e mental. Segundo o instrutor de pilates, Adriano Bitencourt, do Studio Ativa Pilates e Funcional, localizado na rua Lindolfo Collor, no Centro de São Leopoldo, o esporte se torna muitas vezes terapêutico. “Ao mesmo tempo que pessoas saudáveis praticam, muitas outras com lesões ou problemas de saúde têm se tornado adeptas. Assim como no yoga, aqui nós trabalhamos muito a respiração e os alunos fazem os exercícios de olhos fechados, se concentrando naquele momento”, comenta.

Studio Ativa aposta nas modalidades presenciais e a distância para incentivar a prática de pilates. (Foto: Adriano Bitencourt/Arquivo Pessoal)

O professor explica que o pilates auxilia na autoestima dos alunos e que esse é um processo importante na prática. “Eu acho que o exercício tem um papel fundamental na autoestima, pode até parecer clichê. Claro, além da questão de dores e físico, o principal que vejo é mexer com a autoestima. Pessoas que não se sentiam capazes de fazer determinada atividade praticam pilates e, por trabalhar essa questão das dores, fortalecimento e a postura, passam a se sentir capazes de fazer as coisas. O principal é isso, a pessoa se sentir capaz e teu corpo acompanhar as vontades da tua mente”, diz Adriano.

Um dado que acaba chamando a atenção, segundo Adriano Bitencourt, é que muitos alunos do Studio fazem uso de medicamentos controlados para a manutenção da saúde mental. “Esses alunos, por exemplo, que têm problemas com ansiedade e tudo mais, enxergam o pilates como algo muito além do que apenas a prática em si. Tem dias que vão lá e só querem ter aquela interação, é a união das duas coisas. Há diversos alunos que relatam que melhoraram muito, estão mais tranquilos, já se sentem melhor só por ir ao pilates”, comenta.

Instrutor prepara treinos específicos e individuais para seus alunos. (Foto: Adriano Bitencourt/Arquivo Pessoal)

Muitos alunos acabam, inclusive, mudando o objetivo ao longo da prática de pilates. Por diversas vezes entram com o propósito de melhorar o corpo, emagrecer, mas logo nas primeiras aulas já relatam que se sentem mais animados, dispostos e em equilíbrio. Ainda, segundo o professor, o pilates é uma atividade essencial para o tratamento de dores crônicas. “É uma questão que a fisioterapia acaba abordando de forma mais profunda, mas no pilates é possível ver também essa questão. A dor crônica é um fator que compromete muito. Por exemplo, muitas pessoas têm hipertensão e, por conta disso, também possuem alguma dor crônica, e o pilates, no caso, acaba agindo para os dois problemas”, salienta Adriano.

De acordo com a pesquisa randomizada liderada por Alexei Wong, PhD da Marymount University de Arlington, Virginia, o pilates representa um grande aliado para pessoas hipertensas. O estudo analisou 28 mulheres obesas e hipertensas, divididas em dois grupos. Destas, 14 mulheres praticaram pilates durante três meses por 180 minutos por semana. As outras mantiveram-se sedentárias neste mesmo período. As praticantes do esporte, segundo os resultados, apresentaram benefícios para a saúde cardiovascular, diminuindo a pressão arterial e a gordura corporal.

Por conta do pilates, alunos hipertensos e diabéticos do Studio também apresentaram melhoras, como relembra Adriano. “Temos muitos alunos hipertensos e diabéticos; e todos tiveram uma melhora. A tendência, com o exercício, é que a pressão caia, então tu controla melhor isso. Quem tem diabetes também consegue, aos poucos, utilizar menos insulina e a glicemia baixa. Então o pilates pode te ajudar em vários fatores”, reforça.

Aulas foram ajustadas na pandemia

Durante a crise sanitária que, desde 2020, afeta o mundo inteiro, as aulas do Studio Ativa ocorreram de duas formas: presencial e virtual. De acordo com o instrutor Adriano Bitencourt, no local eles trabalham com apenas dois alunos por horário, o que possibilita a oferta das aulas presenciais. “Nós não tivemos que fechar, só quando tudo ficou bem tenso, agora em 2021. Seguindo todos os protocolos, utilização de máscara e higienização dos equipamentos conseguimos manter a prática nesta modalidade”, afirma.

O instrutor salienta, também, que as aulas virtuais vieram para facilitar a vida daqueles que preferem continuar em casa, além de alcançar pessoas em diversos locais. “É uma criação da pandemia, pois se dependesse somente do mercado essa modalidade não teria se popularizado tão rápido. A gente trabalha individualmente e estamos pensando em montar grupos. É um passo interessante de se pensar. Talvez vocês percebam no yoga também, tem muita gente que começou a praticar do zero na pandemia e preferiu começar com as aulas individuais para realmente aprender, começar a se mexer, entender o próprio corpo”, confirma Adriano.

Um novo estilo de vida

“Hoje eu não abro mão, digo que o pilates é para a vida. A prática aumentou demais a minha autoestima”, relata Márcia Regina Santos de Souza, 53 anos, praticante da modalidade. A sua história com o pilates começou em 2020, após uma cirurgia de prótese no quadril e a indicação de seu médico que procurasse fazer alguma atividade física. “Confesso que eu tinha um pouco de preconceito com o pilates, pois no meu pensamento era algo muito parado e que não teria muitos resultados”, revela Márcia.

Márcia encontrou no pilates um novo estilo de vida. (Foto: Márcia Souza/Arquivo Pessoal)

Já no primeiro mês de atividade, Márcia relembra que começou a perceber as melhoras físicas. Além da diminuição dos inchaços que ainda a acompanhavam em função do pós-operatório, uma dor crônica que ela sentia no joelho também foi resolvida. “Eu comecei a ter mais força e pude voltar a fazer caminhadas curtas recomendadas pelo médico. Mas principalmente, algo que noto muito com o pilates, é que agora tenho mais força para fazer coisas do dia a dia”, afirma.

A aluna realiza duas aulas por semana no Studio Ativa Pilates e Funcional com o Adriano Bitencourt, contudo, afirma que a vontade é estar mais dias lá: “O meu instrutor ainda acha que devemos manter esse ritmo, mas tenho muita vontade de fazer três vezes por semana”. Se pudesse dar um conselho para quem deseja começar, Márcia Regina não hesita em falar para as pessoas começarem o quanto antes. “Se eu soubesse que o pilates era tão gratificante, que fazia tão bem para o meu dia, teria começado bem antes”, enfatiza.

A aluna pratica a modalidade duas vezes por semana, mas já sente vontade em aumentar a frequência. (Foto: Márcia Souza/Arquivo Pessoal)

Os benefícios que o pilates traz são diversos, de acordo com a praticante, inclusive para a saúde mental. “Qualquer atividade física é fundamental para estarmos melhor psicologicamente. O pilates me trouxe grandes satisfações na minha recuperação. Eu voltei a ter força e movimento, o que para uma pessoa com necrose no quadril, como eu, é algo que não se tem. Evitamos sair e socializar por conta das dores, acabamos tendo uma solidão. E a outra satisfação é com a autoestima, no caso do pilates é gratificante saber que estamos cuidando de cada pedacinho do nosso corpo”, destaca.

“Me sinto muito mais feliz hoje sabendo que toda terça e quinta-feira estarei lá me dedicando ao meu corpo”, salienta Márcia.

Ao completar 50 anos, Márcia resolveu tomar duas atitudes: ter acompanhamento de nutricionista e realizar atividade física. Para ela, esses fatores serão determinantes para que, daqui dez anos, possa manter a sua independência e ser muito mais saudável.

Yoga e pilates: um auxílio para a saúde mental

Nos últimos anos, estudos têm mostrado que as práticas de pilates e yoga, aliadas ao tratamento psicológico, podem representar uma importante combinação para a manutenção da saúde mental, como avalia a psicóloga Amanda Sprenger. “O cuidado com o corpo é uma forma de cuidado com a mente também, tudo está interligado. Sendo assim, considero muito importante a prática de yoga e pilates por serem exercícios que dão atenção plena ao corpo e ao momento presente”, diz.

Com a pandemia, as medidas de isolamento social e o rompimento brusco de rotina causaram um impacto negativo não apenas na saúde física, mas também na saúde emocional da maioria das pessoas. De acordo com o estudo One Year of Covid-19, realizado pelo Instituto Ipsos para o Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declararam uma piora no estado mental entre abril de 2020 e abril de 2021.

Contudo, mesmo antes da Covid-19, estudos já indicavam o crescimento de transtornos mentais no Brasil, como depressão e ansiedade. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, desde 2017, o país tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo. Segundo o relatório, o problema afetava 9,3% da população, o equivalente a 18,6 milhões de pessoas. Já os transtornos depressivos foram relatados por 5,8% dos brasileiros, ou seja, 11,5 milhões de pessoas.

Diante desse cenário, a psicóloga salienta a importância da saúde física e mental caminharem lado a lado, pois se há apenas o cuidado com os aspectos psicológicos e não há o mesmo com o físico, provavelmente a saúde mental também não estará em dia. “Cuidar do corpo é reforçar para si mesmo que você é capaz de se cuidar e de buscar ser a sua melhor versão, fazendo com que aspectos da sua autoestima, como a autoimagem e a autoeficácia sejam fortalecidos. A partir daí você consegue desenvolver uma relação mais leve e saudável consigo mesmo”, reforça Amanda.

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