‘Yonlu’ é tributo emocionante para fãs, mas pode não conquistar a audiência média

Longa é estreia de Hique Montanari como diretor e do jovem Thalles Cabral no cinema

Laura Pavessi
Redação Beta
3 min readSep 29, 2018

--

Existir aos 16 anos não é uma tarefa fácil para algumas pessoas. Por isso ainda chama atenção a história de Vinicius Gageiro Marques, o Yonlu, adolescente gaúcho com um indiscutível talento musical que cometeu suicídio em 2006 com o suporte de um grupo online. O sentimento de não pertencimento, as aflições do período de transição da infância para a vida adulta e a frieza das novas formas de relacionamento impostas pela cultura digital são algumas das questões que fazem com que pessoas simpatizem com o garoto e a sua obra. E é dessas questões que se encarrega o filme de Hique Montanari, de 2017, que estreou nos cinemas em 30 de agosto e permanece em cartaz.

Foto: “Yonlu”/Divulgação

Embora ensaie uma apresentação do jovem artista em diversos momentos, o relato biográfico constrói uma narrativa que se comunica melhor com aqueles na audiência que já conhecem a história a ser contada (que não são poucos, basta saber que com seu disco póstumo foi considerado uma revelação internacional e suas músicas, amplamente espalhadas nas mídias digitais, acumulam milhares de visualizações).

Dessa forma, o longa se ocupa em recontar os momentos mais importantes dos últimos anos da breve vida de Vinicius, sem explicar muito do seu passado, sua relação com outros adolescentes e com os pais, e não explorando os outros lados da sua personalidade para além do talento e da depressão. As cenas que retomam as músicas do garoto, assim como as que dão conta dos encontros dele com Luana, sua paixão da escola, parecem funcionar melhor como momentos que os fãs de Yonlu gostariam de ter testemunhado do que colaborar com a profundidade do enredo. Essa escolha, no entanto, pode fazer o público menos sensível achar o filme clichê ou adolescente demais.

A música e a desesperança de Yonlu são os focos do filme, por onde circulam quase todas as cenas. Cenas essas que se passam, na maioria, no quarto do menino, de forma a ilustrar o seu sentimento de isolamento e solidão, ao qual o personagem do terapeuta se refere repetidas vezes durante o longa. Mesmo nas cenas da escola ele aparece sozinho, distanciado de todos — exceto pelos momentos com Luana, retratados em preto e branco para mostrar como a felicidade era um capítulo à parte para Vinicius. Por outro lado, a partir de dado momento da cinebiografia, o diretor passa a mostrar uma espécie de monstrinho que permanece sempre à espreita, acompanhando o adolescente, sendo uma representação muito clara da doença que lhe levou a tirar a própria vida.

O papel dos grupos virtuais nesse ato desesperado parece um pouco superestimado, sendo trazido à tona em diversos momentos na narrativa, apesar do suicídio de adolescentes ser um fenômeno muito mais antigo do que a internet. Mesmo assim, é interessante a forma que o diretor constrói a tensão desses (e de todos os outros) momentos no filme, realmente deixando o espectador imerso na aflição do personagem. Ruídos, imagens sombrias, espaços vazios e as frases que indicam a lucidez perturbadora do garoto imprimem uma angústia tão palpável que faz parecer até estranho que algumas das poucas pessoas presentes na sala de cinema conseguissem seguir comendo suas pipocas.

Trata-se de um filme que tem potencial para tocar audiências distintas, mas deixa de abordar pontos importantes, talvez para focar mais na obra de Vinicius e não em sua vida pessoal, uma vez que sua partida certamente ainda é uma ferida aberta para familiares e amigos. A estreia de Hique Montanari nos cinemas é interessante, mas ainda mais é a de Thalles Cabral, jovem ator que consegue cumprir com excelência a difícil tarefa de interpretar um menino se despedindo do mundo.

Saiba onde assistir ao filme:

São Paulo — Cine Olido, Cine Paulo Emílio, Espaço Itaú Augusta e Cinearte
Recife — Cinema da Fundação e Cinema do Museu
Porto Alegre — Cinemateca Capitólio, Espaço Itaú Country e Casa de Cultura Mário Quintana
Manaus — Playarte Manauara e Casarão de Ideias
Goiânia — Cine Cultura Goiás
Florianópolis — Paradigma Cinearte
Maceió — Cinearte Pajuçar

--

--