YouTube se projeta como vitrine para jornalistas esportivos

Profissionais da área relatam desafios de produzir conteúdo para a plataforma

ângelo gabriel santos
Redação Beta
6 min readNov 16, 2020

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Bruno Flores, João Batista Filho e Alex Bagé. (Arte: Ângelo Gabriel/Beta Redação)

Durante a sexta edição do evento Brandcast, realizado no dia 5 de novembro, o YouTube divulgou os dados da rede social referentes ao último ano, se consolidando como o serviço preferido dos brasileiros. A plataforma é acessada, mensalmente, por 105 milhões de pessoas no país.

O desenvolvimento do YouTube é gigante. Somente no Brasil, o número de canais com mais de um milhão de inscritos já ultrapassa 1.8 mil contas. Pesquisa encomendada pelo Google revelou que 91% dos usuários do YouTube intensificaram o uso da plataforma durante a pandemia, sendo que 78% dos entrevistados utilizaram a rede social para fins de entretenimento. Esses números também se refletem na quantidade de acesso aos canais dedicados à analise de esportes, produzidos por jornalistas.

Ranking digital mostra os 50 times brasileiros mais influentes nas redes sociais. (Foto: Reprodução/IBOPE Repucom)

Os números e o interesse do público em conteúdo esportivo nas redes sociais é apresentado pelos dados do IBOPE Repucom, empresa que analisa pesquisas de marketing esportivo. A lista divulgada em novembro de 2020 oferece destaque à dupla GreNal, presente entre os dez times com maiores audiências nas redes sociais.

Contando com inscritos e seguidores no YouTube, Instagram, Facebook, Twitter e TikTok, o Grêmio totaliza mais de 8,7 milhões de seguidores nas redes, ocupando o sexto lugar na lista. Já o Internacional se encontra na décima posição, com mais de 5,9 milhões de inscritos.

Jornalista do Grupo Bandeirantes, Alex Bagé chama a atenção do público interessado em conteúdos esportivos no Rio Grande do Sul. O canal criado pelo jornalista em 2015 conta com 67 mil inscritos, totaliza 5,7 milhões de visualizações e passou a ter mais regularidade neste ano. Trazendo informações exclusivas sobre o tricolor, Alex Bagé chega a publicar até três vídeos por dia em sua conta.

“Tenho que ingressar um vídeo antes de chegar na TV e outro no início da tarde, porque depois eu tenho um intervalo entre TV e rádio e pode surgir uma reunião ou qualquer outra coisa. No final do dia, quando saio da rádio, procuro inserir o último vídeo”, explica Bagé, que também é responsável por toda a produção do canal.

A produção de conteúdo para o YouTube é um ponto que os jornalistas esportivos têm em comum. São eles que decidem quais pautas merecem vídeos, realizam a captação e edição dos materiais, elaboram os cards de divulgação, as miniaturas dos vídeos e, por fim, a publicação do conteúdo nas redes sociais.

Bruno Flores começou a desenvolver o seu canal no YouTube em junho, no meio da pandemia do novo coronavírus. (Foto: Arquivo Pessoal/Bruno Flores)

Bruno Flores integra o grupo de analistas esportivos que produzem conteúdos diários sobre Grêmio e Inter no YouTube. Ele também atua como repórter da Rádio Gre-Nal, da Pampa, e contabiliza mais de 12 mil inscritos e 640 mil visualizações em seu canal.

A ideia de ingressar na plataforma surgiu durante a pandemia, ainda em junho, quando ele trabalhava no Grupo Bandeirantes.

“Estava fixado no setor do Inter, mas recebendo algumas informações do Grêmio. Eu percebia que tinha bastante conteúdo e que estava trabalhando bem aquele material. Foi aí que entendi que, talvez, pudesse utilizar esse conteúdo todo em uma outra plataforma”, explica Bruno, que aproveitou a onda de colegas da emissora que possuíam contas na rede social.

João Batista Filho, vinculado ao Grupo Bandeirantes, também desempenha sozinho a função de produtor do seu canal. Além do canal no YouTube, com mais de 230 mil inscritos e 70,5 milhões de visualizações, o jornalista possui um blog que conta com notícias e reportagens sobre a dupla GreNal. “Todo o processo é meu, desde o que vai para o ar, definir quais serão as pautas, o que eu vou falar nos vídeos e o que vou escrever no blog”, destaca.

Apesar de terem liberdade para produzir os conteúdos de seus canais e trabalharem em emissoras de comunicação, os jornalistas precisam de muita disciplina e organização para darem seguimento aos seus projetos.

Alex Bagé conta que uma das dificuldades na hora de produzir vídeos é a falta de tempo na rotina. (Foto: Arquivo Pessoal/Alex Bagé)

Alex Bagé comenta que uma das maiores dificuldades para gerir a produção de conteúdos no YouTube é a administração do tempo. “Faço TV e rádio, tenho as minhas redes sociais, sou presidente da Associação dos Colunistas, então às vezes falta tempo, e às vezes quando está todo mundo se dedicando e fazendo um determinado vídeo, eu estou no ar na rádio, ou estou no ar na TV”, explica.

Bruno Flores enxerga dificuldades na rotina de produção de vídeos. Enquanto trabalhava na Band, em regime remoto, conseguia se organizar em casa e tinha tempo para dividir os assuntos dos vídeos. “Agora, com a GreNal, eu perco bastante tempo no deslocamento e nas funções da rádio”, afirma o estudante, que mora em São Leopoldo e trabalha em Porto Alegre.

João Batista também aponta complicadores na rotina de trabalho por conta própria no YouTube, especialmente quando se trata de notícias factuais. “Imagina o seguinte: se cair o técnico a 1h da manhã ou se acontecer alguma coisa com Grêmio e Inter, tu tem que estar sempre ligado. Numa emissora existe uma escala, tal turno é tal repórter, outro turno é outro repórter. Mas no YouTube não, no blog não, é sempre eu, só tem eu”, conta.

No entanto, apesar das dificuldades e do ritmo de trabalho atarefado na rede social, os jornalistas também encontram uma forma de obter renda na plataforma. O YouTube, através da exibição de anúncios, permite a monetização dos produtos produzidos pelos jornalistas. Mas, para que isso ocorra, existem algumas condições. O administrador do canal precisa contar com, pelo menos, 1 mil inscritos, gerar mais de 4 mil horas visualizadas por ano e alcançar mais de 10 mil visualizações totais nos vídeos do canal. Não é uma tarefa fácil, mas é capaz de trazer resultados.

Bagé afirma que, para receber retorno financeiro, é preciso investir e produzir conteúdo de qualidade. “O YouTube é rentável e exige uma quantidade muito grande de produção de vídeos. Ele vai te monetizando de acordo com a quantidade de vídeos que tu coloca e a quantidade de inscritos que tu tem, mas, principalmente, pela quantidade de views”, explica.

João Batista Filho em vídeo para o seu canal do YouTube. (Foto: Reprodução/João Batista Filho)

João Batista também lembra que, para produzir conteúdo para o YouTube, é importante analisar o que as pessoas estão fazendo, mas também imprimir o seu jeito de ser e a sua maneira de enxergar o mundo. “No começo sempre vai ser pouco acessado, e tu precisa mostrar para o YouTube, para a plataforma, que tu é uma pessoa “confiável” para eles investirem e mostrarem o teu produto. Depois que eles entendem que tu faz um conteúdo de qualidade, que tu está disposto a seguir, te ajudam muito a crescer”, aponta o jornalista.

Bruno Flores também afirma que é importante ter dedicação e estabelecer um nicho específico quando se trabalha na plataforma. “Eu, por exemplo, não dou opinião, é só informação de Grêmio e de Inter. Se o cara quer uma opinião, vai em outros canais procurar”, relata.

Ele acrescenta que, cada vez mais, é possível perceber que os veículos de comunicação, apesar de serem importantes, não são as únicas alternativas de mercado. “A audiência está em outros lugares que não só no veículo tradicional”, conclui.

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ângelo gabriel santos
Redação Beta

aspirante a escritor e jornalista; escrevo sobre o que eu sinto e depois me arrependo.