A influência da dieta sobre a microbiota intestinal e suas possíveis implicações à saúde

Pedro Perim
BF Eventos
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3 min readSep 16, 2019

Autores: Felipe Ribeiro e Pedro Perim

A microbiota intestinal pode ser conceituada como o ambiente no intestino que é composto por microorganismos, como as bactérias gram + e gram -, nas quais vivem ao longo do estômago, íleo, jejuno, duodeno, estômago e colo. Sobre tais bactérias, há diversas cepas espalhadas pelo trato digestório, com destaque para as bifidobactérias, lactobacillus e bacteroides.

No ser humano, é almejado que o microbioma esteja em um estado conhecido como eubiose, ou seja, que haja um equilíbrio entre as bactérias simbiontes, comensais e patobiontes, pois tal estado pode conferir ao indivíduo uma maior produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). Os AGCC servem de alimento para as células intestinais e assim, a barreira intestinal responsável pela conexão entre o lúmen e a corrente sanguínea pode se manter íntegra, de modo a dificultar a passagem de bactéria patogênicas, toxinas e antígenos.

Porém, quando o microbioma intestinal encontra-se em disbiose, ou seja, há um desequilíbrio entre as bactérias “benéficas” e “maléficas”, observa-se uma redução na produção dos AGCC e desse modo, uma disrupção na barreira intestinal e consequente inflamação intestinal e sistêmica, advinda do aumento da passagem de toxinas, bactérias patogênicas e antígenos para a corrente sanguínea conhecido como Leaky gut.

Como causa desse aumento da permeabilidade intestinal, pode-se mencionar diversos aspectos, como o estado metabólico do indivíduo, doenças, estresse, e com maior relevância normalmente, fatores dietéticos. Tais fatores referem-se aos macronutrientes que compõem a dieta da pessoa e sua origem, como no caso das proteínas. Acerca das proteínas, pesquisas mostram que uma alimentação baseada prioritariamente em proteínas de origem vegetal, pode ser associada a maior população de bifidobactérias e lactobacillus, nas quais podem propiciar um aumento da produção de AGCC e consequente, maior integridade da barreira intestinal, atividade das células T regulatórias e redução da inflamação. Em contrapartida, proteínas de origem animal podem conferir uma menor produção de ácidos graxos de cadeia curta e maior produção de TMAO, no qual pode ser associada a maior probabilidade de ocorrência de doenças cardiovasculares.

No que se refere aos carboidratos, sabe-se que o alto consumo de FODMAPs está ligado também a condições clínicas como o Leaky Gut e a ocorrência de doenças inflamatórias intestinais. Além disso, pode ser necessário para o paciente em disbiose, o consumo de alimentos fonte de pre e/ou probióticos, nos quais podem acarretar em uma maior abundância de bactérias, como a lactobacillus e as bifidobactérias. Já com os lipídios não é diferente. Sabe-se que a predominância no consumo de lipídios insaturados está relacionada ao aumento da população de streptococcus, lactobacillus, bifidobactérias e akkermansia muciniphila. Há indícios de que esse aumento pode ser associado a menor inflamação no tecido adiposo branco e menor ativação dos receptores TLR, sendo essas consequências a nível sistêmico, responsáveis pela melhor adequação do perfil lipídico.

Dentre as possíveis implicações à saúde advindas da dieta e de suas consequentes alterações na microbiota intestinal, a ciência vem apresentando que há efeitos biológicos ligados diretamente a tais alterações, como as no sistema imune, que é afetado de modo que haja modificações na produção de metabólitos pró e anti-inflamatórios. A nível sistêmico, essas alterações que parecem sutis, possuem uma ligação com a maior suscetibilidade de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, da síndrome metabólica, de doenças autoimunes e até há indícios de que doenças que acometem o sistema nervoso central, possam ter uma ligação com tais modificações no microbioma intestinal. Portanto, a dieta é um fator que influencia diretamente a composição da microbiota intestinal e pode ser relacionada a inúmeras implicações à saúde do indivíduo.

Para leitura mais aprofundada no assunto, segue a sugestão de leitura:

● DOI: 10.1186/s12967–017–1175-y

https://doi.org/10.3389/fimmu.2017.00598

https://doi.org/10.3390/microorganisms6040107

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