Como ter uma mesa mais queer-friendly?

Ana Nunes
Biblioteca das Ancestrais
3 min readJun 13, 2019

Junho é o mês do orgulho LGBTQIA+, então nada mais justo que uma postagem dedicada ao tema aqui na Biblioteca.

Selo de RPGs inclusivos criado por Michtim — http://www.michtim.com

É inegável que nos últimos anos a comunidade de RPG vem se tornando muito mais inclusiva com grupos marginalizados, mas isso não significa que não temos um grande caminho a percorrer ainda. Não é preciso procurar muito para encontrar jogadores e game masters extremamente receosos com a proposta de ter mesas mais abertas a experiências fora do padrão hétero-cis normativo, muitas vezes achando que isso tudo é uma “grande frescura” ou agindo como se fazer pequenas mudanças na narrativa fosse uma imensa dor de cabeça. Nossa proposta aqui é desmitificar isso e tentar dar aquele empurrãozinho para repensar essas ideias.

Por que ser inclusivo? Que diferença faz ter Personagens Não-Jogáveis queer e uma narrativa que indique a existência dessa comunidade nos meus jogos?

O primeiro motivo é bem simples: tornar a experiêncttia mais divertida e interessante para os seus jogadores. Se ver representado é sempre algo positivo para pessoas LGBTQIA+ e isso vale para todas as mídias de entretenimento, inclusive o RPG. O outro motivo é que seu mundo também se torna muito mais diversificado e rico com essa adição. São inúmeras novas possibilidades a serem exploradas, mas isso a gente vai falar mais no próximo tópico.

Como ser mais inclusivo na sua campanha?

Ter um PNJ dando a indicação de uma estalagem cujos proprietários são seu primo e o marido dele é uma inserção simples e orgânica de personagens queer. Da próxima vez que um PNJ tiver interesse numa PJ, que tal ao invés de um elfo uma elfa? Ou quem sabe aquele PNJ que sempre encontra sua party aleatoriamente passar a aparecer com uma companhia diferente em cada planeta? Primeiro uma Lashunta, noutro planeta um Vesk, de vez em quando alguém que ninguém consiga definir exatamente o gênero ou raça direito. Essas são situações extremamente comuns dentro da maioria dos cenários e campanhas e não exigem esforço algum para se tornar inclusivas.

Para explorar um pouco mais a narrativa nessa direção você pode criar uma side quest em que os PJs precisem escoltar um grupo de drags para uma apresentação à máfia siciliana, adicionar um colégio de magia especializado em Transmutação cujos alunos acabaram desenvolvendo grande ligação com a comunidade de gênero fluido (obviamente nem todos os magos dessa escola tem gênero fluido, mas a escola é associada com o grupo e definitivamente chama muito a atenção para quem tem interesse nesse tipo de magia), o que atraiu um grupo de mercenários que sequestrou um membro importante do colégio e agora está tirando proveito dos poderes dos seus alunos e cabe aos PJs ajudar os magos, ou mesmo apresentar aos PJs uma bruxa que em troca de ajuda com a sua disforia e poderes se comprometeu a realizar uma missão para alguma entidade e agora precisa de ajuda para solucionar a situação.

E no mundo real?

Não aceitar qualquer tipo de atitude ou comentário pejorativo por conta de orientação sexual ou gênero (é, nós sabemos que esse é o passo mais básico e já deveria estar assimilado na cabecinha de todo mundo a essa altura do campeonato, mas é sempre bom lembrar), reforçar sempre que sua mesa é um espaço seguro para pessoas LGBTQIA+ (isso é bom não só para que as pessoas se sintam confiantes para entrar no seu grupo, também para estimular quem está ao seu redor a fazer o mesmo), confirmar os pronomes preferidos tanto dos jogadores quanto dos seus personagens e sempre estar aberto a diálogo com todos os envolvidos para saber o que funciona ou não para eles, deixando a mesa legal para todo mundo.

O que você achou das dicas? Já fez alguma coisa parecida em alguma das as suas campanhas ou tem alguma outra ideia de como implementar personagens LGBTQIA+ em mesas? Conta pra gente.

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