Faz tempo DEMAIS que não jogo

Isso não é uma pergunta. É uma afirmação.

Abordei em um dos textos anteriores a questão sobre mudarmos de mesa. Sobre a campanha acabar. Mudança de cidade, as dificuldades de encontrar um novo grupo pra jogar e etc.

Porém, o que acontece durante esse tempo de transição? Esse tempo em que ainda não conhecemos nada nem ninguém que possa nos indicar o caminho de uma nova mesa?

Bem, posso dizer por exerperiência própria (e atual): um tempo IMENSO sem jogar.

No meu caso, estou há cerca de dois anos sem jogar absolutamente nenhuma sessão de RPG. Nada online, nenhum one shot, nada. Nadinha. Neca. Niente. Rien.

E, não sei vocês, mas eu sinto como se estivesse faltando alguma coisa, sabem? Sinto falta daquele espacinho mensal do RPG, que era ocupado com a reunião de amigos, um jogo legal, bebidas… Olhando pra trás, parece que faz tempo demais.

Verdade seja dita, eu acabei não fazendo muito esforço para voltar a jogar. Alguns amigos já sugeriram que eu começasse minha própria mesa. Que fizesse one shots, que mestrasse uma campanha. Mas eu não tenho essa confiança toda, vocês sabem. Morro de medo de começar uma campanha e ser chata e as pessoas desistirem.

Tem diagnóstico: ansiedade e pessimismo. Eu sei. Primeiro passo é reconhecer o problema. Mas, de qualquer maneira, não me sinto preparada para conduzir a minha própria mesa, ao menos não ainda.

Não é a primeira vez que tenho um período de hiato entre as campanhas de RPG da minha vida, e seguramente não será a última. Mas é uma daquelas situações em que, caso não procuremos a solução, vai se extender indefinidamente.

Já me aconteceu a mesma coisa com a leitura. Me lembro que, num dado ponto em meio ao terceiro ano da faculdade, constatei que fazia mais de 6 meses que eu não lia um livro. Certo, a média do brasileiro é de 1 livro no ano, mas a minha era de 8 livros no mês. Seis meses sem ler um livro era algo impensável.

Mas aconteceu. E por que?

Porque a vida acaba carregando a gente. Acabamos envolvidos em estudos, trabalho, responsabilidades, pepinos do dia a dia que só podem ser descascados com uma serra elétrica… e certas coisas ficam facilmente para trás.

Quem lembra de ler algo pra relaxar em tempos de fim de semestre na faculdade? Quem consegue arrumar tempo pra uma mesa de RPG quando se trabalha das 8h às 17h? E quem trabalha de noite? Aos feriados? Faz como?

Tenho uma amiga que sempre tinha problemas pra ir à nossa reunião mensal de RPG, justamente por trabalhar aos sábados até as 19h. Em São Paulo. Ou seja, ela não conseguia chegar em lugar nenhum antes das 20h, era bem complicado.

O que eu tenho pra dizer sobre isso vai parecer saído de um livro de auto ajuda, mas é o que eu considero ser a verdade: para conseguirmos fazer algo que gostamos, é preciso esforço para conseguir esse tempo.

Precisamos nos planejar de acordo com o trabalho, com a rotina, os filhos (se existirem) e, se bobear, de acordo com o transporte público também.

Nesse sentido, as mesas online quebram um galho gigantesco, como já conversamos aqui diversas vezes. Acaba sendo mais fácil planejar algo estando em casa (ainda mais em período de quarentena).

Porém, a única solução além de permanecer na inércia é, bem, o óbvio: sair da inércia. Procurar encaixar o RPG novamente na rotina, da melhor forma possível. Parece que não, mas todos sabemos que a primeira coisa que descartamos no estresse do dia a dia é o lazer, qualquer que ele seja.

Eu sei, não é nenhuma solução mágica. Nem tinha como ser.

Mas muito tempo passa antes que qualquer um de nós perceba o quanto deixamos as coisas que gostamos de lado. Para ser sincera, esses dois anos sem jogar passaram em um piscar de olhos, e eu não percebi.

Arriscando parecer uma velha nostálgica: parece que foi ontem que ajudei a fundar a Companhia da Barba Flamejante.

Não sei dizer a vocês quando vou finalmente conseguir voltar a jogar. Posso dizer que vou me esforçar para voltar o mais cedo possível. E encorajo todos vocês, em seus hiatos, a fazerem o mesmo :)

Às vezes, um pouco de faz de conta com os amigos é tudo o que a gente precisa.