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Síndrome do Impostor no RPG

Juliana Batista
Biblioteca das Ancestrais

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Hoje vamos conversar um pouco sobre uma situação pela qual eu tenho passado ultimamente e talvez muitos de vocês já tenham passado ou possam via a passar algum dia nesse mundo de criação de histórias que é o RPG.

Eu estou falando da Síndrome do Impostor. Se você não conhece essa expressão vou trazer aqui a definição técnica: “A síndrome do impostor é uma desordem psicológica na qual a pessoa não consegue aceitar e admitir suas conquistas, pois acredita que todo o seu sucesso e êxito se devem à sorte ou porque alguém ajudou. Assim, a pessoa acredita que é uma fraude, e que a qualquer momento alguém irá desmascará-la.” (Claudia Faria, psicóloga formada pela Universidade da Madeira (Portugal) em 2009, com cédula profissional nº 11356. Pós-graduada em Psicogerontologia. Fonte: https://www.tuasaude.com/sindrome-do-impostor/)

Destaquei a frase acima porque jogador de RPG convive de forma muito próxima com o conceito de “sorte”. O RPG cresceu muito nos últimos anos e podemos constatar isso pela grande quantidade de pessoas produzindo conteúdo em blogs e redes sociais, vídeos em plataformas como o Youtube e sessões de RPG transmitidas via stream no próprio Youtube, na Twitch e no Facebook, além de um grande número de pessoas criando jogos e cenários. Isso faz com que, mesmo sabendo que não é o ideal, nos comparemos com essas pessoas.

Eu estou mestrando uma aventura pronta que era presencial e que agora, por causa da necessidade do afastamento social devido a epidemia de Covid-19, passou a ser realizada on line — inclusive com áudio lá no nosso servidor do Discord — e mesmo sendo uma aventura pronta eu tento prepará-la da melhor forma possível, utilizo várias ferramentas, procuro mapas e imagens constantemente, me preocupo com a música ambiente, me esforço para interpretar bem os NPCs, e mesmo tendo um feedback positivo dos meus jogadores nunca acho que foi bom o suficiente.

Depois de todas as sessões eu paro pra pensar, analisar e conferir tudo que aconteceu e, infelizmente, sempre percebo que errei em alguma regra, muitas vezes esses erros prejudicaram algum dos jogadores, as vezes percebo que esqueci de mencionar algum detalhe da descrição, ou de aplicar alguma mecânica específica que essa aventura possui. Isso tudo me causa uma certa angústia e ansiedade de não errar na próxima sessão. E quando a próxima sessão chega, as vezes eu gaguejo e minhas mãos ficam trêmulas.

Meu sentimento é de que, mesmo recebendo elogios, eu não sou boa o suficiente. E se meus jogadores não fossem meus amigos de anos, tenho certeza que eles levantariam da mesa, rasgariam a ficha e diriam que eu sou uma péssima mestra.

Enquanto jogadora, tenho participado de algumas mesas stremadas e também tenho ficado um pouco decepcionada com meu desempenho na interpretação de personagens mesmo quando recebo algum elogio. Talvez seja porque sei que estou sendo assistida por algumas centenas de pessoas e jogando com pessoas que admiro e acompanho há alguns anos. Fico pensando se isso é um senso de auto critica muito elevado ou a Síndrome do Impostor batendo a minha porta novamente

Mas, percebo também que o primeiro passo para superar essa síndrome é percebe-la e admitir que você, no caso eu, está sofrendo dela. Agora, o próximo passo é tentar reverter a situação.

Pesquisei bastante sobre esse assunto e vou relacionar aqui algumas coisas que podemos fazer pra superar esse sentimento de impostor, prometo que vou começar a colocá-las em prática:

1) Procure o apoio de alguém mais experiente e confiável para quem possa pedir opiniões e conselhos sinceros;

2) Compartilhe as inquietações ou angústias com um amigo;

3) Aceite os próprios defeitos e qualidades, e evite se comparar ao outros;

4) Respeitar as próprias limitações, não estabelecendo metas inalcançáveis ou compromissos que não possam ser cumpridos;

5) Aceite que as falhas acontecem a qualquer pessoa, e procure aprender com elas;

6) Tenha outro tipo de atividade ou hobby que goste e que alude a aliviar o estresse e a ansiedade;

7) Faça uma lista de suas realizações, habilidades e sucessos, independentemente de quão grande ou pequeno sejam. Isso provará que você tem valor concreto para compartilhar com o mundo;

8) Procure sempre se atualizar e melhorar suas habilidades, leitura e boas conversas com pessoas que também jogam e mestram pode te ajudar também.

Por fim, se você acha que a Síndrome do Impostor está influenciando em outras ou muitas áreas da sua vida, talvez seja importante buscar ajuda de um especialista, psicólogo ou psicanalista pra definir o melhor tipo de tratamento pra você.

Fique bem e deixe aí seu comentário, crítica ou sugestão!

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Juliana Batista
Biblioteca das Ancestrais

Formada em Direito, estudando Arquitetura e dona de bar. Entusiasta, jogadora e mestra de RPG. Louca por café, yorkies, música, streams, board games e pessoas.