ZUMBIES, RUN!

Mih Lestrange
Biblioteca das Ancestrais

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Recentemente, eu escrevi um conto sobre o Apocalipse Zumbi no Brasil. Esse conto foi aceito em uma antologia promovida pela Cartola Editora, organizada pela escritora Bruny Guedes e atualmente está em financiamento coletivo no Catarse.

Todo o processo foi bastante novo pra mim, a começar pelo conto em si.

Apesar de gostar bastante de histórias de zumbis, eu mesma nunca tinha escrito uma, ainda mais em um cenário que é bastante inusitado. O que é bastante engraçado, já que o cenário nada mais é do que o meu país.

Isso foi um dos diferenciais que me atraíram no edital da antologia, e foi um tópico de discussão bem legal entre os próprios autores: como lidar com o apocalipse zumbi no Brasil?

Existem muitos pontos essenciais nas histórias de zumbis, aos quais estamos muito acostumados, mas que não fazem nenhum sentido na realidade brasileira. E que seriam impossíveis na eventualidade de um ataque zumbi.

Por exemplo: enlatados. Apesar de temos sim uma variedade grande de enlatados, não temos nem de longe a realidade de um país como os EUA (o preferido dos apocalipses desde sempre). Outro tópico importante: acesso a armas. No Brasil, o acesso a armas de fogo não é “fácil” como nos Estados Unidos, não é qualquer civil que teria uma espingarda guardada em casa, o que dificulta bastante as coisas em um apocalipse.

Por fim, o que eu escolhi fazer foi tratar da história de um cientista que, anos após a primeira onda de zumbis, ainda se dedica a procurar uma cura. No lugar onde tudo começou: um laboratório da USP.

Mas a minha ideia foi uma em 67. Foram 67 autores selecionados para a antologia, e cada um deles desenvolveu o cenário do apocalipse brasileiro de maneira diferente. De forma geral, todos os autores adequaram a situação à realidade que conhecem, ambientando o apocalipse em seus estados ou cidades natal.

Em uma live de divulgação, discutimos ideias fantásticas abordadas nos contos, como a situação no Rio de Janeiro. Uma autora carioca decidiu escrever sobre como as facções nos morros, bem estruturadas, armadas, e preocupadas com suas comunidades, agiram para proteger a população no momento do ataque zumbi. O que é uma abordagem fantástica, se vocês me perguntarem.

Ao menos, eu jamais pensaria dessa maneira.

Escrever uma história nessa temática foi um excelente exercício, e me obrigou a colocar um assunto teoricamente manjado sob uma nova ótica. Quer dizer, quantas vezes na vida pensamos em como seria o apocalipse zumbi na nossa realidade?

Vocês já pararam pra imaginar se um ataque zumbi explode na capital paulista, na hora do rush? Seguramente teríamos as Marginais e os metrôs abarrotados de mortos.

O que seria mais seguro fazer? Nos aventurarmos nos supermercados? Ou garantir a segurança no nosso condomínio? Monitorar os apartamentos e talvez conseguir suprimentos emergenciais dos vizinhos antes de tentarmos qualquer coisa nas ruas?

Deuses, já imaginaram a zona que não seriam as ruas? Com a quantidade de carros que temos em São Paulo, a única possibilidade viável seria andar. E se nós só podemos andar… como nos proteger das hordas? Como sair da capital se fosse necessário? O que, por Odin, iríamos encontrar nas estradas?

São perguntas muito importantes a se fazer quando estamos ambientando qualquer história. Qual é o ambiente, quem mora nele e o que é possível nesse cenário.

Isso sem falar na personalidade, realidade e possibilidades de cada personagem. Sobreviventes em São paulo seguramente teriam preocupações bem diferentes do que os sobreviventes no Rio de Janeiro. Ou na Amazônia. Será que os mortos chegariam na Amazônia?

Se querem saber a minha opinião, o mais interessante foi trazer uma temática tão gringa para a nossa realidade. Foi um exercício de criatividade que valeu muito a pena fazer.

Aliás, pouco depois de ter escrito para essa antologia, eu assisti uma série bastante útil na Netflix, se chama Reality Z. E trata justamente do apocalipse zumbi no Brasil. Se vocês não escutaram falar, definitivamente recomendo! Se mais nada, vale só pra ver a Sabrina Sato como zumbi!

Antes de me despedir por hoje, vou deixar a pergunta: como seria o apocalipse zumbi brasileiro para vocês?

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Mih Lestrange
Biblioteca das Ancestrais

📚 Cheiradora de livros •🖋 Histórias bizarras e contos estranhos • 🌙 Barda na Noite • Bibliotecária com as Ancestrais •