As Plantas Conversam?

Beatriz Donato Leandro
BioBlog ESEM
Published in
4 min readJun 15, 2018

Written by Beatriz Donato Leandro, Yasmin Konceição, Gabi Santos.

O lançamento do livro “A vida secreta das plantas” (1973) impactou a população ao relatar que as plantas podem responder a estímulos humanos e têm memória de eventos traumáticos. O best-seller influenciou várias gerações e contribui para que até hoje, pessoas conversem com suas plantas ou abracem árvores. Desse modo, cientistas hesitam em usar metáforas para falar de plantas pois já houve muitas pseudociências e equívocos relativos ao assunto, como o livro.

Em 1880, Charles Darwin mostrou teoricamente que as extremidades das raízes vegetais “agem como o cérebro humano”. De acordo com pesquisas mais recentes, dos cientistas Takabayashi e Dicke, as plantas reconhecem outros organismos, como bactérias, fungos, outras plantas, insetos, pássaros e animais que presumivelmente incluem nós seres humanos, também.

Por exemplo, raízes de plantas de Fabaceae podem reconhecer e “domesticar” bactérias Rhizobium dentro de nódulos, e os bacteroides compostos então fornecem nitrogênio às plantas hospedeiras. Menos bem conhecido, talvez é que algumas plantas reconhecem e se comunicam com formigas (e vice-versa) que as protegem contra herbívoros, patógenos, bem como vegetação competitiva. As plantas, por sua vez, recompensam as formigas secretando néctar e construindo organismos alimentares especiais. As plantas reconhecem ativamente a identidade dos herbívoros e são então capazes de recrutar seus inimigos.

Nos últimos anos, estudos estabeleceram que plantas são capazes detectar, reagir, e até se comunicar utilizando sinais químicos. As plantas podem até produzir compostos químicos voláteis para se inter-relacionar com as outras quando em perigo, por exemplo, quando da aproximação de um herbívoro. Essas substâncias viajam até 60 centímetros de distância e são percebidos por diferentes ramos da planta, por pés vizinhos da mesma espécie até mesmo por outras espécies que estão ao seu lado.

Liberando compostos orgânicos voláteis (VOC) no ambiente aéreo, brotos de plantas infectadas por patógenos informam às plantas vizinhas sobre o potencial perigo iminente e estas podem, então, aumentar sua imunidade contra esses patógenos. As artemísias (Artemisia vulgaris), por exemplo, ganham pequenos cortes, semelhantes a dentadas de insetos, para emitir um tipo de VOC, denominado metil jasmonato, com o objetivo de enviar mensagens precisas de uma planta para outra. Segundo o pesquisador californiano Karban, cerca de 48 outros estudos comprovam a detecção de sinais aéreos pelas plantas, ademais de outros tipos de comunicação.

Com base nas pesquisas de Bose (1924) e de Barbara Pickard (1973), foram apresentadas evidências substanciais da existência de sinais elétricos (potenciais de ação), similares a sinapses neuronais rudimentares, em uma ampla variedade de plantas. Essas, transmitem os sinais elétricos por meio de pulos que seguem longas distâncias entre as membranas da planta. * Outras plantas, entretanto, possuem a capacidade de enviar mensagens a predadores herbívoros que, atraídos pelos compostos emitidos evitam se alimentar de determinadas plantas

Gagliano e colaboradores (2017), da Universidade de Bristol, mostraram que raízes jovens de plantas suspensas em água fazem sons de “clique altos e frequentes. ” Eles também descobriram que quando submetidos a sons em frequências de 220 Hz — dentro da zona de sons que a própria raiz emite — raízes responderam se voltando para aquela fonte sonora. O pesquisador aponta que esse foi o primeiro experimento rigoroso da habilidade das plantas em produzir, detectar e responder às pistas acústicas.

As plantas nutrem o mundo todo. Elas absorvem os raios luminosos para transformar compostos inorgânicos pobres em energia para compostos orgânicos ricos em energia, matéria que serve de alimento para os organismos heterotróficos. Além disso, muitos dos dispositivos mecânicos utilizados pelo homem funcionam a partir de combustíveis de origem vegetal. É possível postular, então, que se pudéssemos compreender as plantas melhor as plantas, elas nos poderiam revelar algo do grande mistério da vida.

Aristóteles e seus alunos estavam convencidos de que as plantas têm vida interior, incluindo pensamentos, memórias, sonhos e planos para o futuro. Infelizmente, nossa sociedade contemporânea, as considera criaturas passivas a serem controladas e exploradas para que possam ter utilidade.

No entanto, sua passividade resume-se apenas a sua incapacidade de mudar sua localização ou se comunicar através de sons. A passividade por nós definida é relativa apenas à hiperatividade humana e a alteração fugaz constante dos artefatos do homem. Mas os recentes avanços na ecologia exigem uma mudança nessa classificação tendenciosa de plantas inferiores.

Observações*: É necessário compreender a enorme diferença entre a sinalização elétrica no sistema nervoso animal e o de uma planta. No sistema nervoso animal, o objetivo de um sinal elétrico é enviar informações, através de neurônios, de um local específico para outro, sem afetar o tecido intermediário — mais ou menos como um sistema telefônico (Davies, 1993). Por outro lado, tanto os sinais elétricos quanto os sinais químicos (como os VOC) emitidos são projetados para informar o máximo possível da planta, de modo que todo o tecido interveniente seja informado — como uma mensagem de megafone avisando a todos à distância auditiva (Davies, 1993). A propriedade final é “transitoriedade”. Esses sinais elétricos das plantas — chamados de íons- passam através de membranas de acordo com a concentração de íons de cada lado.

Referências:

Heil, Martin (December 2009) Plant Communication. In: Encyclopedia of Life Sciences (ELS). John Wiley & Sons, Ltd: Chichester.

Plant Communication. Available from: https://www.researchgate.net/publication/230260579_Plant_Communication

Baluška F, Volkmann D, Mancuso S (2006) Communication in Plants: Neuronal Aspects of Plant Life

Davies E (2004) New functions for electrical signals in plants.

Gagliano, Monica (2017).

Arimura et al. (2005).

Solano et al. (2005).

Heil et al. (2005).

Brouat et al. (2001).

Dejean et al. (2005).

BUCKERIDGE, Marcos Silveira. A inteligência das plantas revelada. [Depoimento a Rita Loiola]. Veja. Ciência[S.l: s.n.], 2014.Disponível em: http://bdpi.usp.br/single.php?_id=002456050

http://www.jopeu.org/p-art/linguagem-plantas.pdf

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