Brasil: local de origem de plantas carnívoras

Frederico Bernardo Beckmann
BioBlog ESEM
Published in
3 min readMar 26, 2018

Escrito por Frederico Bernardo Beckmann, Marco Junio Godinho, Lóren Rech Bittencourt, Julia Calheiros e Adriely Silva.

As plantas carnívoras do gênero Utricularia correspondem a 35% de todas as plantas carnívoras do mundo e estão presentes nos cinco continentes, nos mais variados climas e biomas e apresentam grandes variações de cores, tamanhos, habitats e formas. No tamanho, variam de centímetros a metros e, por sua fácil adaptação ao longo do tempo, vivem em diversos locais, como dentro d’água, em pedras e lugares úmidos e ensolarados e até dentro de bromélias.

Era sabida a semelhança filogenética entre as 240 espécies desse gênero — por isso são classificadas assim — porém o que ainda não se sabia era o local de origem comum dessas espécies. Esta situação mudou recentemente quando um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolvido pela bióloga Saura Rodrigues da Silva e orientado pelo biólogo Vitor Miranda, foi publicado em janeiro deste ano na revista Molecular Phylogenetics and Evolution, apontando o Brasil como local de origem das utriculárias.

Utricularia endressi

Estima-se que as primeiras plantas desse gênero tenham surgido há 39 milhões de anos na América do Sul, e embora não se tenha absoluta certeza, é muito provável que tenha surgido no Brasil, que abriga 70 das 95 espécies da América Latina, sendo que 20 são endêmicas do país. Essas plantas teriam se dispersado pelo mundo, chegando na Austrália há 17 milhões de anos, na África 1 milhão de anos depois, e há 12 milhões de anos atrás chegaram à América do Norte, de onde se dispersaram para a Ásia 7,3 milhões de anos depois. Segundo os pesquisadores, a dispersão dessas espécies teria ocorrido por intermédio do vento, já que as sementes de algumas espécies se assemelham a uma poeira fina, e através de aves migratórias.

Mapa das prováveis rotas de dispersão da Utricularia

A pesquisa aponta que a forma de vida dos ancestrais das utriculárias era terrestre. “De acordo com nossas hipóteses filogenéticas, as mudanças evolutivas podem ter ocorrido mais de uma vez dentro do gênero, afirma Miranda. Na medida em que essas plantas se dispersaram para outros tipos de ambiente foram obrigadas a se adaptarem para sobreviver, muitas espécies se adaptaram então ao meio aquático onde conseguiam capturar suas presas, garantindo sua sobrevivência em locais pobres em nutrientes.

Além da descoberta da origem dessas plantas a pesquisa despertou interesse de alguns pesquisadores estrangeiros pelas utriculárias, já que essas plantas possuem, além da carnivoria, os menores genomas entre todas as plantas com flores, característica útil para utilização em pesquisas. O sequenciamento completo da Utricularia reniformis — a espécie com o menor genoma do gênero — pode fazer com que ela seja mais uma opção, talvez melhor, para estudos de genética, junto com a Arabidopsis thaliana, planta da família Brassicaceae (família da couve e da mostarda).

Utricularia reniformis

REFERÊNCIAS

SILVA, S. R. et al. Molecular phylogeny of bladderworts: A wide approach of Utricularia (Lentibulariaceae) species relationships based on six plastidial and nuclear DNA sequences. Molecular Phylogenetics and Evolution. v. 118, p. 244–64. jan. 2018.

COLONIZAÇÃO PELA ÁGUA. REVISTA PESQUISA. Disponível em: <evistapesquisa.fapesp.br/2018/01/16/colonizacao-pela-agua/?cat=ciencia >. Acesso em: 25 nov. 2018.

PESQUISA INDICA BRASIL COMO BERÇO ANCESTRAL DE PLANTAS CARNÍVORAS.JCNET Disponível em:<https://www.jcnet.com.br/Regional/2018/02/pesquisa-indica-brasil-como-berco-ancestral-de-plantas-carnivoras.html >. Acesso em: 25 nov. 2018.

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