“Coisa de vó” , Será mesmo?

Julia Oliveira Souza
BioBlog ESEM
Published in
3 min readAug 23, 2018

Escrito por: Gabriel Botelho; Júlia Oliveira; João Rodrigo

“Plantas medicinais significam, muitas vezes, o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos.” Assim começa o artigo “Plantas Medicinais: A necessidade de estudos multidisciplinares” da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mas não são apenas comunidades ou grupos étnicos que retiram da natureza recursos terapêuticos, já que a fonte primária de extração do ser humano é a natureza. Desde os primórdios, plantas medicinais eram utilizadas na cura de enfermidades e assim cada vez mais manipuladas para tratar gripes, ferimentos e até mesmo doenças mais graves — como o câncer — nos dias atuais.

Fitoterapia é nome dado aos estudos de plantas medicinais e seu uso nos tratamentos, mas mesmo com todos os benefícios que podem ser obtidos das plantas, muitas pessoas ainda carregam forte descrença no potencial de cura dos vegetais. Contudo, apesar da dúvida quanto ao potencial medicamentoso dos vegetais, é parte de nossa cultura utilizar as plantas na cura de doenças. Ao se queixar de alguma enfermidade é comum ouvir como resposta “toma um chazinho de …” e esse costume vem da época da descoberta do Brasil, quando a fitoterapia reinava sozinha na luta contra doenças, e , uma vez que as primeiras vacinas e aspirinas só foram aparecer no final do século XIX o hábito de utilizar as plantas para tratar doenças teve bastante tempo para enraizar-se em nossa sociedade e mesmo hoje muitas pessoas ainda optam por remédios naturais.

Atualmente o uso das plantas na medicina deixou de ser “coisa de vó” e várias pesquisas foram desenvolvidas com as mais diversas plantas. Através dessas pesquisas descobriram-se inúmeras plantas que são fortes aliadas nos tratamentos médicos atuais, como por exemplo o óleo da copaíba do gênero Copaifera L. (Leguminosae-Caesal pinoideae). Ele é um medicamento natural retirado do tronco da árvore da Copaibeira -também conhecida por “antibiótico da mata” — que é exsudado e utilizado para de diversas maneiras, são essas: estimulante, diurético, laxante, expectorante, cicatrizante, antitetânico, anti hemorrágico, anti reumático, antiinflamatório, anti ulcerogênico, antiséptico do aparelho urinário. O óleo também é utilizado para tratar de bronquites, doenças de origem sifilítica, moléstias de pele, leishmaniose, leucorréia, psoríase, diarréia, urticária, disenteria, infecções dos sistemas pulmonar e urinário, e ainda combate diferentes tipos de câncer.

Outra planta, a Sacaca (Croton cajucara), também é um exemplo de recurso medicinal muito importante,especialmente no estado do Pará do Brasil, onde são realizadas diversas pesquisas e testes in vivo e in vitro com a planta. Assim, com as folhas se produz o chá e o pó das folhas tornam-se pílulas, criando fitoterápicos efetivos no tratamento e na cura de diversas doenças, como por exemplo diarréia, diabetes, malária, febre, problemas estomacais, inflamações do fígado e rins. Entretanto, o uso prolongado desses fármacos resulta em várias notificações de hepatite tóxica no fígado e, por isso, o seu consumo deve seguir todas as recomendações médicas à risca, a fim de evitar qualquer tipo de complicação. Porém, mesmo diante de todos os seus benefícios e apesar de sua grande importância na cultura medicinal na região Amazônica como também no estudo das toxinas e ações antioxidantes provenientes da planta, a Sacaca não recebe muitos incentivos de pesquisa.

O óleo da copaíba e a sacaca são dois pequenos exemplos da infinidade de recursos naturais que podem ser extraídos da natureza. Plantas, óleos, sebos, medicinais estão à disposição do ser humano para que possam ser utilizados da melhor forma, contudo ainda existem obstáculos a serem superados para que possamos aproveitar ao máximo aquilo que a natureza nos oferece. O primeiro obstáculo é a descrença das pessoas, uma vez que muitos acreditam que plantas medicinais são “coisa de vó”, mas essa descrença pode ser quebrada ao apresentar-se embasamentos científicos para o uso das plantas,e é ai que caímos no segundo obstáculo: a falta de investimento nas pesquisas. O Brasil possui uma flora muito diversa com inúmeros recursos à nossa disposição esperando para serem descobertos, portanto é de extrema importância aumentar o investimento nas pesquisas de fitoterapia, pois ninguém sabe o que pode estar “escondido” em nossas matas e quantas vidas essas descobertas poderiam salvar.

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