Conheça o fungo que ameaça a vida de milhares de anfíbios

Rafaela Franco
4 min readOct 21, 2018

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Escrito por: Paulo Iribarrem, Rafaela Franco, dressa

O Reino Fungi é aquele que abriga seres que são uni/pluricelulares, eucariontes e heterótrofos, e dentro desse espectro encontra-se o filo Chytridiomycota. Os seres pertencentes a esse grupo podem ser encontrados no solo ou na água e realizam funções decompositoras nesses locais, no entanto existe uma espécie em particular que desenvolve seu ciclo de vida de maneira diferente, pois parasita células da pele de anfíbios: Batrachochytrium dendrobatidis. Tal fungo causa a quitridiomicose anfibiana, uma doença que está altamente relacionada com o declínio da população de anfíbios. Esse fungo afeta a queratina da epiderme dos anfíbios causando um desequilíbrio nas trocas gasosas e leva-os à morte por parada cardíaca.

Ciclo de vida do fungo matador dos anfíbios. Fonte da imagem: Microbe Wiki

O ciclo de vida deste fungo ocorre somente em água doce e tem como principal fase o zoósporo ciliado. Batrachochytrium dendrobatidis libera os zoósporos na água, que são flagelados e se locomovem à procura de hospedeiro (com um limite de tempo de 24 horas) parasita o aparelho bucal de larvas de anfíbios. A pele do animal é parasitada somente depois que há a total metamorfose do anfíbio. O desenvolvimento completo do fungo acontece na epiderme, a infecção prejudica principalmente a pele do animal dificultando processos de descamação, troca de temperatura, osmose e respiração.

Depois da morte de células epidérmicas, ocorre o desenvolvimento de um esporângio, completando o ciclo de reprodução do fungo, formando zoósporos que podem “reinfectar” o hospedeiro, ou serem libertados no meio aquático para infectar outro anfíbio. B. dendrobatidis também possui uma variedade de enzimas proteolíticas e esterases que facilitam a digestão das células dos anfíbios e se utilizam da pele dos anfíbios como fonte de nutrientes. Com a respiração do animal afetada, o hospedeiro acaba morrendo de ataque cardiorrespiratório.

Imagem microscópica do fungo. Fonte: https://bio113portfolioleighhobson2.weebly.com/batrachochytrium-dendrobatidis.html

Enquanto a maioria das espécies desses anfíbios morre, existem outras espécies recentemente descobertas, que são resistentes à infecção, o que as torna suspeitas de serem responsáveis por grande parte disseminação do fungo, exemplo disso são a rã-de-unhas-africana (Xenopus laevis) e a rã-touro-americana (Lithobates catesbeianus).

A rã-touro (Lithobates catesbeianus) é uma das poucas espécies de anfíbios resistente ao Batrachochytrium dendrobatidis, imagem de Luís Felipe Toledo / Unicamp

A espécie Batrachochytrium dendrobatidis foi descrita em 1998 por pesquisadores que acreditavam que o parasita era originário da África e a partir da comercialização do Xenopus levis tenha se espalhado pelo mundo. Porém, estudos mais recentes de um grupo internacional de pesquisadores, entre eles um zoólogo brasileiro do IB-Unicamp, chegaram a novos dados e conhecimentos. Ao verificarem que o lugar com maior diversidade de linhagens de Bd foi a Coréia do Sul, começaram a investigar o local e, através de suas observações, concluíram que foi de lá que o fungo surgiu e se disseminou pelo mundo, provavelmente no início do século XX, com o comércio global de carne e pele de rã a partir da década de 1930.

Hoje, há conhecimento de que o fungo está presente em todos os continentes, menos na Antártida, onde não há registros de anfíbios. No Brasil, já foram comprovados casos em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Paraná.

A rã-de-vidro (Vitreorana eurygnatha) encontra-se ameaçada de extinção devido à ação do fungo Batrachochytrium dendrobatidis por Luís Felipe Toledo/Unicamp

Diante desse quadro, são notáveis os impactos que esse fungo pode trazer caso se alastre facilmente por outras localidades, já que pode matar cerca de um terço das espécies de anfíbios, gerando imensos danos às cadeias alimentares. Nesse cenário, o ser humano desempenha um grande papel de perpetuador dessa doença, pois sua interferência juntamente com o agravamento do aquecimento global tendem a acentuar os efeitos desse fungo. Logo, é importante saber da conexão entre ações humanas e seus impactos naturais, para evitar o agravamento de problemas como o citado na matéria.

REFERÊNCIAS:

https://www.biologiatotal.com.br/blog/um-fungo-esta-matando-os-anfibios-no-mundo-inteiro.html acessado em: 24/08/2018

http://agencia.fapesp.br/fungo-letal-a-anfibios-esta-disseminado-pela-mata-atlantica/20679/ acessado em: 24/08/2018

https://ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar/cientistas-desvendam-origem-do-fungo-assassino-de-anfibios/ acessado em: 24/08/2018

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