Vírus: vivo ou não vivo?

Zaira Ramos
BioBlog ESEM
Published in
5 min readApr 2, 2018

Da série: indagações no mundo da biologia.

Written by: Zaira Ramos, Wiliana Medeiros, Emilly Bruna, Cristiana Souza, Maria Gabriela

Os vírus são um caso à parte em relação a todos os seres vivos existentes na face da Terra. A sua origem é incerta, pois há quem diga que os vírus teriam surgido de elementos genéticos que desenvolveram a capacidade de se locomover entre as células e outros afirmam que os vírus tenham se originado antes mesmo das primeiras células e, assim, se desenvolvido com os seus hospedeiros, tornando-se parasitas. Desse modo, de acordo com o biólogo molecular Luis Villarreal, eles orbitam uma “zona cinzenta, onde encontram-se no meio do caminho entre os seres vivos e os não vivos”.

Há muitos anos, os cientistas e estudiosos buscam uma resposta que esclareça se o vírus é um ser vivo ou não. Essa, sem dúvidas, é uma das questões mais polêmicas da Biologia. Por muito tempo, acreditou-se que o vírus não era ser vivo por ser acelular, incapaz de realizar qualquer atividade biossintética e não possuir ribossomos nem metabolismo próprio, necessitando, assim, de um hospedeiro para se reproduzir. Isso foi, provavelmente, o que você aprendeu na escola.

A palavra vírus vem do latim e significa “veneno”. Por isso e por estar sempre associados à doença, muitos os consideravam estruturas inanimados e não possuintes de vida.

Por outro lado, há os que acreditam que os vírus são, sim, organizações detentoras de vivência. Os argumentos mais usados por estes consistem no baseamento de que os vírus possuem material genético — DNA, RNA, ou os dois juntos (como o citomegalovírus) -, sempre envolto por uma cápsula proteica denominada capsídeo ou cápside.

Mesmo que só se reproduzam quando parasitando outros organismos, os vírus conseguem manter descendência, o que afirma ainda mais a teoria acerca de sua vitalidade procriativa. Há, também, o argumento de que eles evoluem, ou seja, assumem alterações ao longo do tempo, propriedade importante para a controvérsia viral, visto que, por convenção, admite-se que os organismos mais adaptados perduram no meio. Tomando embasamento da teoria da Seleção Natural, afirma-se que as características originais, bem como as variações que são inconvenientes dentro do ponto de vista da adaptação, deverão desaparecer conforme os porvindouros que as possuem sejam substituídos pelos parentes mais bem sucedidos.

Em 2003, um novo vírus gigante enterneceu a sociedade virologista e promoveu uma reviravolta no, até então, infindável debate “vivo ou não?”, por sua heterogeneidade estrutural e complexidade genética. Foram descobertos os Acanthamoeba polyphaga mimivirus (APMV), ou apenas “mimivirus”. São os maiores vírus já registrados, cobertos por uma camada de fibrilas, o que lhe dá uma aparência “peluda”.

O APMV (Mimivírus) se multiplica em amebas, possui DNA de fita dupla, com o maior genoma viral sequenciado até o momento e é visível ao microscópio óptico, enquanto a maioria dos demais só pode ser visualizada em microscópio de elétrons.

Os cientistas também descobriram que o seu conteúdo genético é o mais próximo de uma célula eucarionte dentre seus “primos”. O APMV é capaz de infectar amebas e consegue produzir, por conta própria, proteínas complexas — coisa que os outros vírus não são capazes de fazer. Além disso, foi constatado que um outro vírus, chamado Sputnik, é capaz de “infectar” uma classe dos Mimivirus, a ponto de impedir sua reprodução. Jean-Michel Claverie, professor de Genômica e Bioinformática na Faculdade de Medicina da Universidade de Aix-Marseille, diretor do Instituto de Microbiologia do Mediterrâneo e chefe do Laboratório de Informação Estrutural e Genômica, declara, em um artigo da Nature, que “não resta dúvida de que se trata de um organismo vivo”, a respeito do Mama (uma classe pertencente aos Mimivirus). “O fato dele poder ficar ‘doente’ é prova suficiente”.

Com base em estudos, pesquisadores propuseram uma hipótese na qual os APMV poderiam ser classificados como um novo grupo distinto dos três Domínios conhecidos (Bacteria, Archaea, e Eukarya): os vírus gigantes núcleo-citoplasmáticos de DNA (NCPLV), ou seja, sem os excluir da denominação de uma vida. Há pesquisas que afirmam que os vírus dividem uma longínqua história evolutiva com células consideradas vivas. De acordo com o Jornal Ciência, os vírus podem ser considerados nossos parentes distantes. “Alguns pesquisadores da Universidade de Illinois, nos EUA, descobriram que vírus e células compartilham centenas de proteínas, podendo ser uma evidência sólida de que os dois compartilham relações próximas com nossos antepassados”, assegurou o jornal.

Além de tudo já citado das descobertas comprovadas por estudiosos, os vírus são capazes de desempenhar práticas complexas em nosso organismo, bem como no caso de um dos vírus mais conhecidos pela sociedade, o da Imunodeficiência Humana(HIV). “Calotear” o sistema imunológico despertando, então, doenças e em muitos casos até a morte, é uma das “espertezas” causadas pelo vírus. A questão é: se o vírus é um “ser tão simples” a ponto de ser considerado uma estrutura não viva, como consegue causar tantos transtornos no ser humano, que possui um organismo extremamente complexo e cheio de meios para os combater?

É preciso cautela ao tratar desse assunto, já que estamos lidando com causas divergentes. Por isso, ao terminar essa leitura por completo, caso a sua opinião seja contrária à que está sendo aqui tratada, este artigo pode proporcionar uma melhor visão de algumas premissas que não são discutidas a todo momento, uma vez que maioria das pessoas ainda argumenta dentro de uma mesma, e antiga, “cápsula”. Decerto, o conceito de vida pode possuir diversos significados e isso acaba gerando um certo “transtorno” na hora de classificar a vida (ou a falta de uma) de alguns seres.

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REFERÊNCIAS:

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