Elysia, um possível avanço na terapia gênica

Luis Fellipe Ribeiro Paes
BioBlog ESEM
Published in
3 min readSep 21, 2018

Escrito por: Luis Fellipe Ribeiro Paes e Lara Coelho

Aprendemos nas aulas de Biología que somentes seres autótrofos (aqueles que produzem seu próprio alimento) fazem fotossíntese, porém, uma descoberta científica pode mudar este conceito. A descoberta de uma lesma que pode viver até nove meses somente de luz, se antes desse período, ela se alimentar de algas que possuem um gene que lhe é compatível, por conseguinte, lhe permite fazer fotossíntese.

Foto da Elysia chlorotica

Seu nome científico é Elysia chlorotica, uma lesma-do-mar, geralmente de cor verde, mas que pode ser avermelhada ou acinzentada, dependendo da taxa de clorofila encontrada no seu tubo digestivo, que vem das algas que estão presentes na sua alimentação. Foi descoberta em 1870 nos Estados Unidos e pode ser encontrada por toda a costa do país. Contudo, como a clorofila não é produzida por ela, mas sim incorporada do meio externo, quando jovem, sua cor é marrom, tendo apenas algumas manchas avermelhadas.

Sua capacidade de alimentar-se somente de luz, provém da simbiose realizada por ela (também conhecida como cleptoplastia) quando se alimenta da alga chamada Vaucheria litorea_ quando a alga consumida é apenas parcialmente digerida, mantendo os cloroplastos intactos, estes vêm a ser utilizados para a fotossíntese. Porém, como os cloroplastos adquiridos se mantém apenas por não serem digeridos, mas não ocorre uma mutação no material genético da lesma, as próximas gerações só vêm a ter essa capacidade após se alimentarem da alga. Tal fato favorece a E. chlorotica, tendo em vista que, durante a fase adulta, esta precisa alimentar-se apenas esporadicamente.

E. cholarotica alimentando-se da V. litorea

Foi observado também que a E. cholarotica, em laboratório, pode sobreviver por um período de tempo entre oito e nove meses, o que é aproximadamente o seu tempo de vida na natureza, tendo como recursos apenas gás carbônico e luz. O que chama atenção para essa lesma é o período de tempo com o qual ela sobrevive da fotossíntese. Por mais que seja, de certa forma, comum a simbiose de cloroplastos por lesmas, como, por exemplo, entre as famílias Conchoidea ,Stiligeroidea e Elysioidea. Na maior parte das espécies de algas, a longevidade deles fica entre doze horas e uma semana, chegando até a um mês, porém ainda longe dos nove meses da E. cholarotica, que é o maior tempo de vida da simbiose de cloroplasto já reportado. Porém, o longo tempo que os cloroplastos continuam sendo utilizados não se deve apenas à sua aquisição por meio da alimentação, mas também a genes encontrados no material da lesma e que é ligado à alga. Tais genes são essenciais para a manutenção do cloroplasto, já que eles reparam danos sofridos por esse, o que o mantém em funcionamento. Esses são passados de geração à geração, fazendo com que, mesmo que seja necessário adquirir novos cloroplastos, a E.chlorotica possa mantê-los.

A capacidade de tomar para si genes que, inicialmente, eram apenas das algas, pode trazer um avanço na história dos estudos de terapia gênica, uma terapia que por meio do uso de genes sadios, visa a reestruturação das células de DNA. Ainda é um estudo que precisa ser aprofundado, tendo em vista que poderíamos chegar na cura de muitas doenças e de vários outros problemas para o bem da humanidade.

Porém, onde a lesma se encaixaria nesses estudos? Podemos analisar a relação que a E. cholarotica tem com a V. litorea e talvez, possamos a aplicar no mundo humano. Sua habilidade de fazer cleptoplastia deve ser estudada para poder utilizá-la em humanos, desse modo, tratamentos que visam corrigir alguma falha no DNA humano podem avançar muito.

Esquema com etapas da terapia gênica

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