Estudo sugere que a consciência não é completamente perdida durante anestesia

Nathan Souza
BioBlog ESEM
Published in
3 min readNov 27, 2018

Escrito por Nathan Souza, Ednei Junior e José Paulo

A consciência é um dos maiores mistérios da humanidade. Motivados em descobrir mais sobre a mente humana, os pesquisadores Harry Scheinen e Antti Revonsuo da Universidade de Turku desenvolveram um estudo em que analisam a atividade cerebral de um indivíduo anestesiado. A pesquisa mostra que o cérebro ainda fica parcialmente ativo, numa situação parecida com o sono.

Para o estudos, os pesquisadores utilizaram duas substâncias anestésicas, a saber: a dexmedetomidina e o propofol. Os anestésicos, por inalação ou intravenosos, são compostos capazes de inibir os impulsos nervosos, de maneira reversível, em um ponto específico ou mesmo no corpo todo. No último caso, chamado de anestesia geral, a inibição da corrente elétrica nervosa é acompanhada da perda parcial de consciência. Os compostos utilizados na pesquisa não alcançam um ponto de equilíbrio entre sedação e analgesia apropriados, porém têm sido muito usados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A dexmedetomidina é injetada por meio da infusão intravenosa e é comercializada através do nome PRECEDEX, enquanto o 2,6-diisopropilfenol ou propofol, é aplicado por injeção endovenosa e é comercializado pelo nome Diprivan.

A metodologia usada pelo pesquisador foi anestesiar 47 voluntários com as drogas dexmedetomidina e 2,6-diisopropilfenol (propofol), em doses controladas por computador e, então, verificar a capacidade da mente de perceber o mundo ao seu redor. Desse modo, assim que os pacientes perdiam a capacidade de resposta, observou-se que os pacientes despertavam novamente caso os médicos falassem alto ou balançassem as pessoas. Quando os pacientes eram despertados desse estado eles relataram que tiveram experiências similares ao sonho, em que elementos oníricos se mesclavam à realidade. Enfim, ao aumentar a dose, após os voluntários ficarem totalmente sob efeito da anestesia, os pesquisadores reproduziram frases e sons aos pacientes, durante o qual os pacientes tinham seus cérebros monitorados por um eletroencefalograma e tomografia por emissão de pósitrons.

No primeiro teste os pesquisadores reproduziram dois tipos de frases aos voluntários: frases que possuíam uma lógica semântica e frases com um final inusitado, ilógico (e.g. “O céu noturno estava cheio de tomates cintilantes”). Os resultados obtidos no eletroencefalograma apontavam que o cérebro tentava interpretar as frases, mas não era capaz de distinguir entre as frases lógicas e ilógicas, indicando que ele não era capaz de entender completamente o significado das sentenças. Quando os pacientes acordavam da anestesia, eles não eram capaz de se lembrarem das frases que ouviram, mas o fato de o cérebro processar de alguma forma as frases indica que parte da consciência foi preservada durante a anestesia.

A segunda parte da pesquisa consistiu em reproduzir sons desagradáveis aos voluntários. Quando acordaram da anestesia, o cérebro dos pacientes reconhecia e identificava mais rapidamente os sons que eles já haviam escutado durante o período de sedação do que outros sons que eles não haviam escutado antes, mesmo que os indivíduos não tenham sido capazes de se lembrarem dos sons que eles haviam escutado.

Desse modo, os pesquisadores concluíram que a consciência não é totalmente perdida durante o efeito da anestesia no organismo, sendo necessário apenas que o indivíduo perca a capacidade de resposta ao ambiente. A atividade cerebral durante a anestesia se assemelha ao sono, uma vez que o cérebro tenta reconhecer sons externos mas não é capaz de se lembrar deles posteriormente. Assim, estudos como esse são importantes porque ajudam nos ajudam a desvendar o mistério da consciência e entender melhor como a nossa mente e nós mesmos funcionamos.

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