Fungos mutantes de Chernobyl

Vitória Povala Theisen
BioBlog ESEM
Published in
3 min readJun 16, 2018

Escrito por: Clara Pessoa, Pablo Pereira e Vitória Povala Theisen

Chernobyl é considerado um dos lugares mais perigosos e contaminados do mundo, localizado na Ucrânia, já que foi ali que ocorreu o maior acidente nuclear da história. Em 26 de abril de 1986, a explosão e o incêndio do reator número 4 da Usina Nuclear de Chernobyl liberou uma grande quantidade de partículas radioativas na atmosfera, contaminando mais de 300 pessoas, sendo que 30 delas morreram no primeiro dia após o acidente, e mais de 40 mil ao total. Até hoje, adultos sofrem as consequências do pior acidente nuclear já ocorrido, e muitas crianças ainda nascem com anomalias também devido a isso. Além disso, chuvas ácida, causada pela radiação, ainda acontecem na região, e ainda hoje, 6% do PIB ucraniano é destinado à indenização de famílias. Ao total, foram lançadas na atmosfera 70 toneladas de urânio e 900 de grafite. Devido à isso, Chernobyl se tornou uma cidade fantasma por ser insegura a vida humana.

Após alguns anos do acidente, durante uma das inspeções de rotina na Usina, um dos robôs que vistoriaravam o local encontrou uma mancha preta, similar a uma meleca, em uma das paredes do reator causador do acidente. Nessa mancha foram descobertos 37 tipos de fungos diferentes, incluindo variações do fungo causador da micose, Cladosporium sphaerospermum, e o fungo que ataca as plantações de alho, o Penicillium Hirsutum. Porém, como foi possível para esse fungo sobreviver às condições que a cidade de Pripyat se encontra?

Todos sabemos que as plantas utilizam a clorofila, pigmento que as deixam verdes e que permitem a elas fazerem a fotossíntese, processo em que a luz solar captada pelos cloroplastos é transformada em glicose, seu próprio alimento. Como a maioria dos outros organismos, os fungos possuem a melanina (o mesmo pigmento que faz com nossa pele, cabelos e olhos serem escuros). O que foi percebido nos fungos encontrados no reator é que eles se beneficiam com a alta radiação da atmosfera dali, usando sua melanina como um pigmento fotossintético, permitindo sejam sua própria fonte de energia!

Já se sabia há algum tempo que fungos que vivem em locais com incidência alta de radiação são mais ricos em melanina, se tornando mais escuros; no entanto, achava- se que, assim como nós, era uma forma de proteção. Após o achado em Pripyat, vários experimentos foram feitos e foi comprovado que esses fungos que sofreram mutação estão fazendo “radiossíntese”, aumentando seu crescimento e germinação.

Cladosporium cladosporioides

Dos trinta e sete fungos descobertos, oito foram enviados para a Estação Espacial Internacional, incluindo um dos fungos que surgiu a partir da radiação, o Cladosporium cladosporioides. O intuito do projeto é apurar se os fungos são capazes de sobreviver com a radiação espacial, da mesma forma que conseguiram viver com a radiação de Chernobyl.

Segundo o estudo, a intenção da iniciativa é auxiliar o futuro da humanidade, já que a radiação espacial é um dos grandes empecilhos para a colonização/exploração de outros planetas. O contato com uma grande quantidade de radiação espacial gera a danificação do DNA podendo causar câncer, por isso os astronautas trajam roupas especiais para a proteção de seus corpos, já que a barreira que nos protege na Terra, a atmosfera, não existe no vácuo.

De acordo com o farmacêutico Clay Wang, os microrganismos que foram enviados à Estação Espacial tem tendência a fazerem as coisas certas quando necessário, assim eles esperam que haja mudança nos organismos dos fungos capazes de ajudar os seres humanos a conquistarem outros mundos.

Não se sabe ao certo como esses fungos foram parar naquele local, que outrora foi habitado por seres humanos, mas acredita-se que eles encontraram brechas e conseguiram se instalar em uma local hostil a vida humana. A sobrevivência e reprodução desses fungos em locais como Chernobyl, demonstra que esses fungos podem significar uma ajuda no futuro das pesquisas científicas e espaciais de exploração.

Referências:

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/42/42132/tde-17082016-094725/en.php

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/42/42132/tde-29102009-112842/en.php

https://naturezaterraquea.wordpress.com/tag/chernobyl/

https://exame.abril.com.br/ciencia/fungos-de-chernobyl-podem-ser-escudo-contra-radiacao/

http://dbiotec.blogspot.com/2014/06/fungo-que-faz-radiossintese.html

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2677413/

https://en.wikipedia.org/wiki/Cladosporium_sphaerospermum

https://brasilescola.uol.com.br/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm

http://educacao.globo.com/artigo/maiores-acidentes-nucleares-da-historia.html

http://educacao.globo.com/artigo/chernobyl-maior-acidente-nuclear-da-historia.html

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