O canabidiol no tratamento de doenças

João Pedro
BioBlog ESEM
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7 min readMay 1, 2018

Escrito por: João Pedro, Alberto Júnior, Aaron Santos e Léo Michalowski

Em alguns lugares do mundo o uso medicinal da Cannabis sativa já vem sendo uma realidade há alguns anos. A revista New England Journal of Medicine publicou em 2013 os dados de uma pesquisa feita com médicos de vários países, na qual 76% destes se declararam favoráveis ao emprego das substâncias puras da maconha nos tratamentos de saúde.

Em meio a tantas críticas e elogios sobre o uso desta erva uma pergunta é feita por grande parte das pessoas que discutem sobre o tema: “Por que a maconha é importante para a medicina?”

É preciso dizer que, antes de tudo, o efeito da Cannabis sativa se baseia nos compostos que ela contém ( que são mais de 60 farmacologicamente ativos), os canabinoides. O tetra-hidrocanabinol (THC) é o mais familiar dos canabinoides, que é muito conhecido tanto pelos seus efeitos psicoativos, ou seja, aqueles que agem sobre a atividade psíquica, mental ou comportamental, quanto também pelas suas propriedades medicinais. Essa substância tem a capacidade de se ligar de modo específico a receptores presentes na superfície das células do nosso organismo que, por sua vez, produzem de modo natural moléculas como os endocanabinoides. Outro canabinoide conhecido é o canabidiol (CBD) que é uma substância química que corresponde a 40% dos extratos da planta Cannabis sativa. No Brasil, assim como em boa parte do mundo, seu uso medicinal era proibido pois a substância é associada a seu efeito psicoativo mas, apesar da imagem negativa, o uso medicinal da erva é extremamente antigo e, em países onde seu uso já era legalizado, não são poucos os tratamentos possíveis com a substância.

Segundo o site da Livraria Florence foram feitos cerca de 38 estudos controlados para definir a eficácia do uso da substância, o CBD, em tratamentos médicos. Segundo Gregory Carter, diretor médico do Instituto de Reabilitação de Saint Luke, nos Estados Unidos, ela é extremamente indicada para qualquer doença que tenha causado inflamações, espasmos, distúrbios do sonos e disfunções intestinais pois ajuda no alívio de dor e traumas cirúrgicos.

Essas substâncias já são uma realidade como medicamentos em inúmeros países pelo mundo, como Espanha, Chile, Canadá etc. Os canabinoides mais conhecidos, o CBD e o THC, estão presentes em muitos tratamentos médicos; o CBD está presente nos remédios para epilepsia, esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de Parkinson, dores crônicas, entre outras; já o THC está presente no tratamento de mal de Parkinson, esclerose múltipla, síndrome de Tourette, asma, glaucoma etc.

medicamento a base do composto CBD

Algumas das principais doenças que podem ter o medicamento a base da maconha são estas a seguir:

1. Dores Crônicas

Sintomas da “DOR CRÔNICA”: insônia, isolamento social, depressão e outros problemas que podem afetar seus relacionamentos em casa e no trabalho.

Dor crônica é uma condição grave e debilitante (pode enfraquecer a pessoa), muitas pessoas que sofrem de dores crônicas ficam desesperadas em busca da cura que passam a acreditar em qualquer coisa que possa ajudá-las.

O tratamento das dores crônicas não é tão simples, a não ser que seja um pequeno hematoma ou alguma hemorragia que podem ser curados com um básico medicamento, qualquer pessoa com dor crônica deve realizar um tratamento completo coordenado por um médico especialista.

Cannabis

Pessoas com dores crônicas muitas vezes precisam de tratamentos com diferentes abordagens: tratar a causa contida e, também, a dor em si.

Doenças com dores crônicas podem ser difíceis de controlar. Às vezes as dores continuam mesmo após a principal causa ter sido resolvida.

Foi descoberto que os pacientes que usam a Cannabis sp. para tratar dores crônicas eram mais propensos a experimentar uma redução significativa nos sintomas da dor.

Também foram encontradas respostas de que estes canabinoides podem proporcionar muitos benefícios aos usuários da Cannabis sp. levando a prevenção das dores e tratando náuseas e vômitos constantes em pessoas com câncer que recebem tratamento quimioterápico.

A Cannabis pode aliviar a dor, mas há incertezas sobre riscos para a saúde. Quando inalada, seu uso pode prejudicar os brônquios e os pulmões, pois sabe-se que nela há algumas substâncias irritantes e cancerígenas, também presentes no tabaco. Além disso, o fumo de maconha eleva em quatro a cinco vezes a concentração do gás tóxico monóxido de carbono no sangue do fumante.

2. Esclerose Múltipla

Esclerose múltipla é uma doença autoimune que acaba por afetar o sistema nervoso central, acometendo algumas funções do corpo. Acontece quando o sistema nervoso começa a “atacar” as células do próprio corpo, provocando muitas lesões. Alguns dos sintomas são:

  • Sensação de “alfinetes e agulhas” na pele;
  • Dificuldade para andar;
  • Problemas de coordenação e para fazer pequenos movimentos;
  • Dificuldade em esvaziar a bexiga completamente;
  • Depressão ou sentimentos de tristeza;
  • Secura vaginal;
  • Longa pausa entre as palavras;
  • Movimentos rápidos e incontroláveis dos olhos;

Um dos tratamentos para essa doença vem através do uso do canabidiol (principal componente não psicoativo da planta). A utilização dos componentes da maconha nos tratamentos ameniza os efeitos da doença no corpo, criando reações positivas na espasticidade (aumento do tônus muscular) de moderada a grave e aliviando os sintomas.

Embora a esclerose múltipla não tenha cura, com o tratamento adequado as pessoas conseguem amenizar os efeitos de maneira drástica.

Esses são os sintomas mais comuns da esclerose múltipla, os mais fáceis de serem tratados e uma das soluções que mais dá certo é o tratamento com canabidiol.

3. Epilepsia

”Epilepsia é um transtorno do cérebro caracterizado por uma predisposição duradoura a crises epilépticas, e pelas consequências neurobiológicas, sociais, cognitivas e psicológicas desta condição. A definição de epilepsia requer a ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica” . Quando esses distúrbios ocorrem, o cérebro interrompe temporariamente suas funções habituais e acaba produzindo manifestações involuntárias no controle muscular, na consciência e na sensibilidade do indivíduo.

A epilepsia pode ser causada por alguns motivos como:

  • Traumas durante ou após o parto
  • Excesso de álcool e drogas
  • Lesões cerebrais, devido a traumatismos na cabeça
  • Infecções
  • Doenças neurológicas
  • Também pode ser hereditária

Além disso, há um tipo de epilepsia que é mais raro, chamada epilepsia piridoxina-dependente, que envolve convulsões desde os primeiros meses de vida ou, em alguns casos, antes mesmo do nascimento. Também temos dois tipos de epilepsia, que são as generalizadas e as parciais. As generalizadas são as que envolvem todo o cérebro, e as parciais são aquelas que só se localiza em uma parte do cérebro.

O canabidiol e o THC agem no receptor CB1, localizado nos neurônios e ativado por neurotransmissores, inibindo a transmissão sináptica por bloqueio dos canais de cálcio e potássio dependentes de voltagem. Desta forma, acredita-se que o canabidiol possa inibir as crises de epilepsia.

O problema do tratamento do canabidiol na epilepsia não é cem por cento garantido, porque não se tem muitos testes com ele. No entanto, a Escola Paulista de Medicina utilizou o canabidiol em estudos na tentativa de provar sua eficiência. Os pesquisadores administraram o composto em quatro pacientes que sofriam crises epiléticas e um placebo a outros quatro pacientes nas mesmas condições: três dos quatros pacientes que receberam o composto da Cannabis sativa ficaram livres das crises epilépticas. Já para os pacientes que receberam o placebo para o tratamento, não houve mudança na sua condição.

4. Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica, na qual os pacientes geralmente sofrem de sintomas como alucinações, por exemplo ouvir e enxergar coisas que não existem. No entanto, esses não são os únicos sintomas da doença. O psiquiatra Felipe Doutel aponta que os pacientes também podem passar a ter dificuldade para se relacionar com outras pessoas. Essa doença afeta mais de 70 milhões de pessoas no mundo todo.

Como já sabemos, hoje em dia estudos vem comprovando que o canabidiol, uma das substâncias da Cannabis, pode ser usada em vários tratamentos, um destes é o para pacientes com esquizofrenia. Assim, o CBD substitui outras drogas como antipsicóticos, que são usados no tratamento deles. Os antipsicóticos nem sempre são eficazes e apresentam muitos efeitos colaterais, já o CBD não causa tantos efeitos negativos e sua eficácia é grande. Pesquisadores da Western University School of Medicine comprovaram que o CBD ajuda no tratamento de psicoses e esquizofrenia. Segundo a equipe, testes feitos em ratos de laboratórios tiveram total avanço, mostrando assim que a eficácia do CBD é muito maior do que a das medicações psicotrópicas.

O uso frequente dessas substâncias e sem orientação de um especialista, no entanto, pode acarretar complicações, tais como:

  • Desenvolver esquizofrenia e psicoses
  • Complicações dos sintomas da depressão ou as ideias suicidas e a ansiedade
  • Câncer dos testículos
  • Problemas cardíacos

Com base no exposto, entendemos que o uso medicinal da Cannabis é possível, mas ainda precisamos quebrar alguns tabus para que mais pesquisas sejam realizadas com o objetivo de alcançar maior eficácia nesses tratamentos. Embora ela seja muito importante no uso medicinal, a sociedade tem uma visão da Cannabis como somente para a função recreativa. Isso tudo criou uma visão muito ruim sobre essa erva. E nesse país onde vivemos, que até a homossexualidade já foi tratada como doença, fica quase que inacessível essas pesquisas saírem do papel.

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