O diabo na terra

Guilherme Gardin Martins
BioBlog ESEM
Published in
4 min readJun 22, 2018

Guilherme Gardin, Melissa Codeço e Yuri Rodrigues

Fungo peculiar assusta várias pessoas ao redor do mundo

Falar sobre espíritos e crendices ainda é um assunto muito polêmico hoje em dia. Constantemente ouvimos comentários do tipo “não chama esse tipo de coisa, senão o diabo vem”, “reza três ave marias e um pai nosso para se proteger do coisa ruim”. Mas o que fazer quando uma parte do temido diabo já está vivendo entre nós? Pois bem. O presente artigo vem falar sobre o Clathrus archeri, fungo conhecido popularmente como “Dedos-do-diabo”.

Antes de falar sobre a espécie em si, vale ressaltar o que é um fungo. Fungos são seres vivos eucariontes que podem se reproduzir de forma sexuada ou não. Para estudos, desde 1969 os fungos são separados em um reino próprio, denominado Fungi, para que melhor seja a compreensão de suas características gerais. Algumas dessas características são: não possui celulose em sua parede celular, com a exceção de algumas espécies aquáticas, e não armazenam um tipo de polissacarídeo chamado amido , além de não sintetizarem clorofila. Os mais comuns representantes desses organismos são os cogumelos, os bolores, as leveduras e o próprio mofo.

Imagem de fungo

No meio ambiente existem diferentes tipos de fungos. Existem aqueles que fazem mal à saúde causando intoxicação, tem aqueles que são utilizados para fazer remédios, como por exemplo a penicilina, alguns também são usados como alimentos. Por fim, tem também os fungos que são encontrados em cadáveres de animais mortos, já em decomposição.

O fungo Dedos-do-diabo possui aparência bastante semelhante a tentáculos e exala um cheiro extremamente asqueroso. A espécie é nativa da Austrália e da Tasmânia, contudo, foi acidentalmente introduzida na Europa, Ásia e na América do Norte através de suprimentos militares durante o início da Primeira Guerra Mundial em 1914, tornando-se uma espécie exótica na região. Além de possuir uma aparência peculiar, o fungo também apresenta um modo de crescimento diferente, afinal, desenvolve-se em um ovo gelatinoso que cresce perto a troncos de árvores velhas.

Clathrus archeri na fase de ovo

Apesar de sua aparência e cheiro nada agradáveis, o Clathrus archeri não é tóxico e é extremamente inócuo, ou seja, não apresenta danos materiais aos que estão ao seu redor. Seu odor fétido se dá quando chega durante a fase madura, na qual o fungo passa a cheirar a carne podre, afastando muitos animais e possíveis predadores. Após a eclosão de seu ovo, 4 hastes parecidas com tentáculos crescem com uma gosma vermelha chamada gleba, gosma essa que atrai um grande quantidade de moscas, estas moscas se alimentam da substância na superfície do tentáculo e ficam revestidas com esporos do fungo, assim reproduz-se a espécie.

Dedos-do-Diabo com seus tentáculos recém abrindo

Apesar de serem comestíveis, o Dedos-do-Diabo tem um gosto nada prazeroso, devendo ser usado apenas em casos de urgência alimentar para a sobrevivência. Como na maioria dos membros do gênero Clathrus, sua toxicidade não é confirmada mas não há registros de mortes por este fungo, porém sabe-se do gosto de carne podre, sendo o mais aconselhado a ingestão na fase de ovo. Não há nenhuma informação sobre o gosto do fungo em sua fase adulta.

Portanto, Dedos-do-Diabo é um exemplo de ser vivo que se utilizou de vários fatores para sobreviver. Mesmo não tendo toxinas, o fungo exala um odor de carniça que espanta os animais (predadores) e esse mesmo cheiro é que atrai as moscas e insetos que servem de agentes de proliferação da espécie. Esse é um exemplo de como os seres vivos evoluem para sobreviver: podem tornar-se cheirosos e coloridos, como as flores fazem para atrair as abelhas para que sirvam como propagadores, ou podem desenvolver o cheiro de carne podre para que assim usem as moscas nessa mesma função de proliferação da espécie por meio dos esporos, como faz o Clathrus archeri.

REFERÊNCIAS

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