O PASSADO DA PALMEIRA IMPERIAL

Maria Eduarda Silva
BioBlog ESEM
Published in
5 min readOct 26, 2018

Escrito por Elora Eloi, Lucas Soares e Maria Eduarda Silva.

As palmeiras imperiais (Roystonea oleraceae) são plantas majestosas, robustas — como já sugerido pelo nome — e muito comuns no Brasil. Sua altura varia entre 18 a 40 metros e o tamanho de suas folhas entre 2 a 4 metros, de acordo com sua idade. Devido a sua distribuição por todo o país e ao fato de ser uma figura marcante do paisagismo de espaços diversos, como jardins botânicos, avenidas e praças, é natural que se deduza de que se trata de planta nativa da nossa flora, porém isso não reflete a realidade.

Mas antes de se falar sobre a história desta palmeira, se faz necessário a pergunta: do que se trata esse tipo de planta? Pois bem, as palmeiras são angiospermas monocotiledôneas, ou então, em outras palavras, são vegetais vasculares, com a fase esporofítica dominante, que produzem sementes protegidas por frutos, flores e que possuem raiz fasciculada, além de outros fatores característicos.

A Roystonea oleraceae possui um estipe (tronco) cinza, liso e cilíndrico. Suas folhas ficam eretas, chegando no máximo a se inclinar horizontalmente, destacando a facilidade de observar o palmito da planta. O fruto, por sua vez, apresenta coloração roxa e serve de alimento para pássaros, porém não deve ser ingerido por humanos.

Agora, voltando à história dessa planta no Brasil: se trata de uma espécie exótica, nativa das Antilhas e do Norte da Venezuela e trazidas para cá durante o período da chegada da família real no Brasil, na primeira década do século XIX. O primeiro exemplar dessa planta, do qual descendem todos as outras palmeiras imperiais brasileiras, é chamado de Palma Mater e é originário das Ilhas Maurício, tendo sido um presente de Luis de Abreu Vieira e Silva ao, até então príncipe regente, D. João VI.

Luis teria obtido o exemplar depois ter sido aprisionado na ilha supracitada, após o naufrágio de sua nau em um ataque. Aproveitando da relativa liberdade oferecida, usou suas qualidades de comerciante para adquirir diversas sementes, como cravo-da-Índia, jaqueira, lichia, canela, fruta-pão, noz-moscada, manga e da palmeira-imperial, entre muitas outras espécies. Após o resgate ter sido pago, durante a viagem para o Brasil, o português teria transformado sua cabine em algo similar a uma “estufa”, demonstrando extrema dedicação para preservar essas mudas e sementes.

Ao desembarcar na Capital, o comerciante ofereceu alguns exemplares a Dom João, que determinou que elas fossem plantadas no Real Horto, o atual Jardim Botânico do Rio de Janeiro. É uma história conhecida a de que Bernardo José de Serpa Brandão, o diretor do Jardim Botânico na época, ordenou, assim que a planta começou a produzir frutos, que estes fossem queimados, a fim de manter o monopólio sobre a espécie e evitar sua vulgarização. Apesar de tamanho esforço, as sementes ainda eram furtadas e vendidas, causando sua rápida proliferação no território nacional. A espécie foi comumente comercializada em meados do século XIX, além de ser oferecida como presente para a nobreza e pessoas de confiança, se tornando um símbolo da aristocracia e do poder da época, o que faz sentido quando comparado às suas características físicas majestosas.

Quanto à Palma mater, essa permaneceu viva por 163 anos, até que foi atingida por um raio em 1972, tendo na época 38,7 metros de altura. Em seu lugar foi plantado outro exemplar, agora chamado de Palma filia e o tronco da árvore atingida se encontra em exposição no Museu Botânico.

Ao se analisar contudo a grande difusão de tal palmeira, pode se chegar à conclusão equivocada de que é uma planta de fácil adaptação ao ambiente brasileiro e que não necessita de muitos cuidados no seu plantio. A realidade é bem diferente: apesar de se tratar de uma espécie resistente, é sensível a condições desfavoráveis, em geral causadas pela falta de manejo adequado no plantio ou quando esse ocorre em um local não-apropriado. Em adição, a palmeira-imperial também sofre com ameaças biológicas, citadas a seguir:

Começando pelos ácaros (Aceria guerreronis), que secam e necrosam totalmente as folhas e a gema terminal, culminando na morte da planta. Há também formigas (Atta sp.), que cortam as folhas de pequenas mudas, prejudicando seu desenvolvimento. No âmbito de insetos encontramos outras duas grandes ameaças: o besouro (Rhynchophorus palmarum), do qual as larvas perfuram galerias nos tecidos sadios que favorecem a ação de bactérias e fungos presentes em suas fezes, levando ao murchamento das folhas e ao tombamento da árvore; e o cupim (Coptotermes havilandi), que penetra pela raiz da planta e devora os troncos, tornando o vegetal frágil e vulnerável a queda.

Outras ameaças biológicas são os fungos, tendo duas possíveis consequências: espécies como Phytophthora palmivora, Rhizoctonia solani, e Pythyum sp. que se alojam nas raízes e levam a Podridão do topo, impedindo que a seiva circule até a parte apical. Já indivíduos como Colletotrichum gloeosporioides, Ceratocystis paradoxa, Fusarium oxysporum, Phoma spp., Pestalotia spp., Pestalotiopsis sp., Rhizopus sp. e Cladosporium spp. são normalmente responsáveis pelo apodrecimento das sementes e raízes. Vale lembrar que as sementes também funcionam como eficientes disseminadores de patógenos em áreas livres.

É necessário cuidado em todas as etapas do cultivo desse exemplar, tanto na preparação do solo e da muda quanto no decorrer do crescimento, são diversos os fatores externos que aplicam consequências por sobre as Palmeiras Imperiais, tornando-as mais suscetíveis à parasitas, tais como: temperatura extrema, umidade inadequada, nutrição insuficiente, entre outras.

Apesar de ser amplamente plantada em locais públicos, em especial em projetos organizados pelo governo, a Roystonea oleraceae pode não representar a melhor escolha para tal ação, considerando seus recorrentes transtornos e interferências à rede elétrica, à pavimentação de ruas e ao sistema de drenagem pluvial. Há também o fato de que a queda de suas folhas e frutos apresenta um problema para a limpeza dos espaços públicos, sendo por muitas vezes obstáculos para pedestres, em especial cadeirantes que passeiam por calçadas. Como se não fosse o suficiente, a planta por vezes se torna um potencial agente disseminador de patógenos entre espécies nativas do local, influenciando diretamente no ecossistema da área. Por esses motivos, deve-se sempre dedicar preferência à plantas nativas, que agreguem à cultura local e que já estejam habituadas e resistentes às condições locais, na hora de se realizar o plantio em espaços públicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000100011

https://sitiodamata.com.br/blog/dicas/palmeira-imperial-caracteristicas/

www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2819

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