Pinheiro-do-paraná, um patrimônio natural ameaçado

Frederico Bernardo Beckmann
BioBlog ESEM
Published in
4 min readAug 23, 2018

Escrito por: Frederico Bernardo Beckmann, Lóren Rech Bittencourt, Raul Dutra e Adriely Silva

O gênero Araucária é composto por 19 espécies pertencentes ao grupo das gimnospermas, este que foi o primeiro a conquistar totalmente o ambiente terrestre há mais de 300 milhões de anos. As gimnospermas têm como principal característica o surgimento das sementes, o que possibilitou a reprodução destas plantas fora do ambiente aquático ou semi aquático, criando assim uma certa vantagem de colonização de espaços se comparadas às briófitas e às pteridófitas.

Araucária Angustifólia, popularmente conhecido como pinheiro-do-paraná.

Das 19 espécies existentes, apenas a Araucária angustifolia, conhecida popularmente como pinheiro-do-paraná, é nativa do Brasil. Essa árvore é muito conhecida por ser a árvore símbolo do estado do paraná e de algumas cidades da região sul, onde além da extração de madeira, suas sementes, chamadas de pinhão, são usadas como alimento. O uso de suas sementes remonta às primeiras tribos indígenas que habitavam naquela região, e usavam o pinhão para sobreviver, já que era abundante e de fácil conservação. Disso em diante o pinhão passou a ser um símbolo cultural muito apreciado e difundido no sul de nosso país.

Pinha da Araucária angustiófila, de onde são retirados os pinhões.

O pinheiro-do-paraná pode ser encontrado em uma pequena parte da região sudeste e na região sul do país, na chamada floresta ombrófila mista ou floresta de araucária, um sub bioma da mata atlântica, que atualmente conta com cerca de apenas 3% de sua área original. Essa drástica redução de sua área é um sinal da devastação sofrida pela floresta, que vem a muito anos sofrendo com exploração indevida e com espécies invasoras, que põem sua sobrevivência em xeque.

Corte do pinheiro-do-paraná para a obtenção de sua madeira.

Por conta de sua madeira com potencial econômico a exploração do pinheiro-do-paraná é intensa e na maioria das vezes impensada e inconsequente. Devido a estes fatores a floresta de araucária sofreu uma grande fragmentação territorial, e atualmente está dividida em pequenas áreas desconectadas, cortadas em grande parte das vezes por fazendas de gado e plantações. Mesmo que a preservação destas áreas por parte dos fazendeiros seja lei, é muito comum que tal regra não seja respeitada, e que grandes áreas desse, que é o bioma mais ameaçado de nosso país, sejam devastadas para darem lugar a grandes plantações e criações de gado.

Pinheiro-do-paraná isolado em meio a uma plantação.

Outro fator preocupante que ameaça a sobrevivência do pinheiro-do-paraná é a introdução de espécies exóticas no seu ecossistema, tal como algumas espécies do gênero Pinus, que popularmente também são chamadas de pinheiros. Estas árvores, além de tomarem espaço da nossa espécie nativa, acidificam o solo, impedindo que novas araucárias germinem e cresçam. Este impedimento, somado ao demorado processo de amadurecimento do pinheiro-do-paraná, que leva em torno de 10 a 15 anos para começar a produzir sementes, agrava ainda mais todo este processo, pois além de demorarem a se reproduzir, muitas chegam a morrer antes deste período.

Corte de espécie invasora com o objetivo de evitar sua proliferação em meio a mata de araucária.

Se essa situação, que já vem de muito tempo, não for mudada, sofreremos impactos econômicos, impactos ambientais e também culturais. Acabar com nosso pinheiro-do-paraná significa também acabar com grande parte da fauna e flora da floresta de araucária, já que muitas plantas dependem de sua existência para sobreviver, assim como espécies animais, sendo a gralha-azul a principal delas, assim como também significa impossibilitar a tradição do consumo do pinhão. Entretanto, independentemente de qual área essa extinção irá prejudicar uma coisa é certa, a de que não podemos deixar que ela aconteça.

Gralha-azul com pinhão no bico.

--

--