Por que a malária é tão devastadora?

Nathan Souza
BioBlog ESEM
Published in
4 min readMay 4, 2018

Estudos recentes nos ajudam a entender como a malária se espalha tão rapidamente e podem nos dar mais possibilidades de combater a doença.

Escrito por: Nathan Souza, Ana Beatriz Rossine, Christopher Reinbrecht, Ellen Gomes e Ester Buscaroli

O estudo

Pesquisadores da London School of Hygiene & Tropical Medicine, comandados pelo entomologista James Logan, descobriram que a malária, doença causada por protozoários do gênero Plasmodium, altera os odores humanos para atrair mosquitos do gênero Anopheles, transmissores da doença. O estudo foi publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, no dia 16 do presente mês. Os cientistas montaram um mecanismo com duas caixas ligadas por um tubo. Em uma delas, eles colocaram meias de crianças quenianas infectadas por malária, e na outra, meias de crianças não infectadas. Então, os mosquitos foram despejados dentro do tubo e podiam escolher livremente para qual caixa se dirigir. Resultado: 60% dos insetos preferiram a meia de crianças com malária. Quando em ambas as caixas eram posicionadas meias de crianças não infectadas, os mosquitos não demonstraram preferências por alguma delas.

Então, para descobrir quais substâncias químicas presentes nas meias das crianças infectadas atraem mais os mosquitos, os cientistas submeteram os insetos a essas substâncias uma de cada vez. Eles concluíram que a mais importante delas eram o heptanal, o octanal e o nonanal, compostos do grupo dos aldeídos.

Além disso, outro grupo de cientistas, da Swiss Federal Institute of Technology e da Pennsylvania State University, realizaram um experimento semelhante, desta vez com ratos. Em uma das caixas, havia um rato infectado com malária, e na outra, estava um rato saudável, conforme esquema abaixo. Os mosquitos eram então colocado em uma outra caixa, ligada a essas duas e poderiam escolher em direção a qual delas se dirigir. Nos primeiros dias após a contração da doença, os mosquitos mostraram ligeira preferência pelo animal saudável, número que foi sendo reduzido ao passar dos dias. Desse modo, entre os dias 12 e 22 após a infecção, a maioria dos insetos preferiu ir para a caixa do rato com malária, conforme ilustração e gráfico abaixo:

Na primeira imagem, está ilustrado o esquema do experimento montado pelos cientistas. Abaixo, o gráfico mostra a preferência dos mosquitos pelo rato saudável e pelo infectado com malária, com o passar dos dias após a contração da doença.

Além da alteração de odor do ser humano, é possível que o Plasmodium também provoque transformações nos mosquitos em que estão hospedados, modificando o “gosto” dos insetos para que sintam atração pelo cheiro das pessoas infectadas. Todos esses fatores resultam em uma das maiores epidemias vistas nos países em desenvolvimento, onde faltam recursos e estratégias para combate à malária.

Não obstante, esses estudos nos auxiliam a compreender como a malária se espalha com tanta rapidez no mundo, registrando milhões de casos por ano e milhares de mortes.

O que é a malária?

A malária é uma doença provocada por protozoários do gênero Plasmodium. A transmissão se dá pela picada de mosquitos do gênero Anopheles, hospedeiros do protozoário, ou por meio do contato direto com o sangue de alguém infectado através de transfusões sanguíneas ou compartilhamento de seringas.

Após a picada do mosquito contaminado, os parasitas chegam às células do fígado da pessoa infectada e se multiplicam. Depois, essas células se rompem liberando os parasitas que então invadem os glóbulos vermelhos, continuando a multiplicação. Existe um ciclo de invasão nos glóbulos vermelhos e na maioria das vezes a pessoa infectada apresenta os sintomas a cada vez que essas células se rompem. Febre alta, calafrios, dores de cabeça e musculares são alguns dos sintomas mais comuns da doença.

A malária tem cura, mas o diagnóstico da doença deve ser realizado cedo. Caso contrário, a doença poderá se agravar e até mesmo levar à morte. O tratamento se dá por meio de medicamentos, que dependem do tipo de malária e de características do paciente.

De acordo com a OMS, no mundo em 2016 foram registradas 216 milhões de ocorrências de malária, levando a óbito 445 mil pessoas. O continente africano é o mais afetado por causa das condições de vida do lugar.

Como esse estudo pode ajudar no combate à doença?

Como a malária é transmitida por um mosquito, combater esse inseto é a melhor forma de acabar com a doença. Os artigos supracitados são de grande importância para compreendermos o comportamento do inseto vetor da malária, para que, a partir disso, possamos criar ferramentas mais eficientes para exterminar o Anopheles.

Nesse sentido, pesquisadores da Universidade de Durham no Reino Unido analisaram se os cães podem ser treinados para farejar e possivelmente detectar pessoas com malária. Assim, as pessoas infectadas poderiam ser diagnosticadas e tratadas com mais rapidez, aumentando suas chances de cura. O estudo de James Logan e sua equipe é um passo significativo para que medidas como essa possam se concretizar.

Com o levantamento de novos dados e o interesse das indústrias farmacêuticas, dos centros de pesquisa e do governo, esperamos que um tratamento alternativo e efetivo para essa doença possa surgir para atender a grande demanda que ainda existe nos locais mais pobres de nosso planeta.

Referências:

http://www.sciencemag.org/news/2018/04/malaria-infection-creates-human-perfume-makes-us-more-attractive-mosquitoes

http://www.minhavida.com.br/saude/temas/malaria

http://www.nursing.com.br/malaria-sintomas/

http://www.pnas.org/content/pnas/111/30/11079.full.pdf

https://g1.globo.com/bemestar/noticia/apos-tendencia-de-queda-casos-de-malaria-no-mundo-sobem-em-2016-aponta-oms.ghtml

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