RELAÇÃO ENTRE A NUTRIÇÃO E TRANSTORNOS MENTAIS

Beatriz Donato Leandro
BioBlog ESEM
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3 min readNov 9, 2018

Beatriz Donato Leandro Gabi Santos Yasmin Konceição

O modo e o ritmo de vida acelerado moderno tem contribuído diretamente para o aumento de casos de ansiedade, depressão e outros transtornos mentais na sociedade, segundo algumas pesquisas recentes. Nesse contexto, a maneira como nos alimentamos contribui diretamente para ocorrência desses transtornos ou auxilia a prevenção dos mesmos.

A alimentação tem duas funções principais: garantir a quantidade de nutrientes necessários à sobrevivência do ser humano e a obtenção de prazer a partir do ato de comer, já que o consumo leva a produção de serotonina e dopamina, responsáveis pela sensação momentânea de prazer. Entretanto, a busca por alívio da tensão emocional resulta no aumento da produção e consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em sódio e açúcares e pobres nos demais nutrientes, observados nos últimos 20 anos.

Apesar da determinação do papel da nutrição na saúde, a postulação científica sobre a associação entre a dieta e alguns transtornos é muito recente. A exemplo disso, verifica-se a pesquisa de Jerome Sarris, psiquiatra da Universidade de Melbourne e integrante da Sociedade de Pesquisa Internacional em Psiquiatria Nutricional, em que comprova-se os benefícios da alimentação no tratamento de desordens psicológicas e psiquiátricas, como a depressão e o transtorno de bipolaridade. Sarris afirma que “os determinantes da saúde mental são complexos, mas, cada vez mais, há evidências sobre a importância da nutrição e sua implicação na incidência de distúrbios mentais”.

Uma dieta rica em alimentos integrais, frutas, legumes, frutos do mar, carnes, fornece nutrientes fundamentais para a manutenção de uma saúde física e mental equilibrada. Isso ocorre porque o cérebro utiliza parte da ingestão total de energia e nutrientes para seu perfeito funcionamento. Segundo Fernando Gómez-Pinilla, professor de neurocirurgia e ciências fisiológicas da Universidade da Califórnia em Los Angeles, os alimentos podem ser encarados como “compostos farmacêuticos” que afetam o cérebro. Há anos, ele estuda os efeitos da nutrição, do sono e da atividade física sobre a mente e sustenta que a dieta equilibrada, a prática de exercícios e as noites bem-dormidas podem alterar a saúde cerebral e a função mental.

Em 2015, um grupo de cientistas filiados à Sociedade Internacional para Pesquisa Nutricional Psiquiátrica (ISNPR) publicou na revista The Lancet Psychiatry um artigo defendendo o reconhecimento de que a alimentação é “determinante central” tanto da saúde física quanto da mental. Desse modo, nota-se que a nutrição é fator crucial na prevalência de distúrbios mentais. Estudos realizados na Universidade de Melbourne (Austrália), por exemplo, apontam que o risco de depressão é até 35% menor em pessoas que consomem dietas mediterrâneas e japonesas, em comparação com as dietas ‘ocidentais’ — resultado do elevado número de legumes, frutas, grãos não processados, frutos do mar e quantidades limitadas de carnes magras e produtos lácteos. Normalmente, dietas tradicionais também não contêm alimentos (e açúcares) processados e refinados, que são abundantes na dieta “ocidental”.

A partir da relação entre hábitos alimentares e saúde mental, a comunidade científica percebeu não apenas uma forma de evitar, mas também uma alternativa de tratamento para distúrbios que independe de medicamentos tradicionais. Assim, o paciente evitaria os efeitos colaterais agressivos de antidepressivos. “Fazer uma mudança de estilo de vida, como mudar sua dieta, é frequentemente preferível ao uso de medicamentos, por isso queríamos ver se a dieta poderia ser uma maneira eficaz de reduzir o risco de depressão”, afirma Laurel Cherian, MD, da Rush University Medical Center em Chicago e membro da Academia Americana de Neurologia, em um comunicado de imprensa.

Entretanto, cabe ressaltar que apesar de trazer diversos benefícios à saúde mental, uma dieta regulada e repleta de nutrientes não é suficiente para o tratamento eficaz de transtornos psicológicos, devendo haver sempre a orientação de um profissional especializado. Infere-se, portanto que a importância de uma alimentação regrada e saudável é imprescindível para manutenção de uma boa qualidade de vida, afinal, nós “somos o que comemos”.

REFERÊNCIAS

https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2016/05/14/noticias-saude,190190/cientistas-investigam-relacao-entre-transtornos-mentais-e-alimentacao.shtml

http://www.utfpr.edu.br/servidores/portal/nutriinforma-2012/saudemental.pdf

https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5033029.pdf

http://www.fug.edu.br/2018/revista/index.php/VitaetSanitas/article/download/29/21

http://www.institutopitaya.com.br/alimentacao-e-saude-mental-a-relacao-entre-o-que-voce-come-e-o-que-voce-sente/

https://abcnews.go.com/GMA/Wellness/diet-affect-mental-health-link-food-brain/story?id=53387207

http://www.leonardomaranhao.blog.br/single-post/2017/03/29/Nutri%C3%A7%C3%A3o-e-Sa%C3%BAde-Mental

https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(15)00241-2/abstract

https://abcnews.go.com/GMA/Wellness/popular-diet-reduce-hypertension-risk-depression-study/story?id=53362048

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