Imagem 1 — Células Epiteliais da Pele — Fonte: dermatoliasp.com

HISTOLOGIA: Tecido Epitelial de Revestimento

Kamilafarias
Biolhar
Published in
11 min readJul 20, 2020

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Podemos dizer que se você tem interesse em conhecer mais sobre os diferentes tipos de tecido humano, essa é a primeira temática a qual você deve especular. Se você tem dúvida em relação à formação dos tecidos no nosso corpo, então, segue comigo nesta leitura!

ENTENDENDO A FORMAÇÃO DOS TECIDOS

Antes de iniciar, falando especificamente sobre o Epitélio de Revestimento, é de suma importância à compreensão das diferentes formações dos variados tecidos. Em um panorama geral, entendemos que a formação de um ser humano é fundamentada, no seu princípio, por apenas uma célula, denominada de zigoto, o resultado da fecundação entre duas células germinativas, descendentes de um organismo feminino e masculino.

A partir disso, podemos nos questionar como se dá os diferentes tipos de tecido? E como, a partir de uma mesma célula podemos constituir diferentes tipos de células, com diferentes morfologias e funções?

Na embriologia, estuda-se a Embriogênese que são os estágios do desenvolvimento do embrião, esse cenário é importantíssimo para a formação dos tecidos, pois, depois de muito se multiplicar, as células vão passar por um processo chamado de diferenciação celular, sendo possível, com isso, que elas se modifiquem de acordo com suas funções, e se transformem, de acordo com a morfologia que devem adquirir. Essa realidade depende diretamente da genética, isso porque, mesmo sabendo que todas portam o mesmo DNA, nem todos os genes são ativos em todas as células, ou seja, as células do Tecido Epitelial de Revestimento, por exemplo, possuem um gene que ativa a produção das proteínas específicas para a realização da sua função, já as células do Tecido Nervoso possuem outro tipo de gene ativado, o que faz com que as duas sejam totalmente diferentes, na função e na morfologia.

Imagem 2 — Formação dos Tecidos a partir de uma célula — Fonte: Biolhar

CLASSIFICAÇÃO DOS TECIDOS

entendendo como ocorre o processo de organização dos Tecidos, podemos listar suas classificações, para podermos nos guiar melhor no estudo.

1- TECIDO EPITELIAL:
1.1 Tecido Epitelial de Revestimento
1.2 Tecido Epitelial Glandular

2- TECIDOS CONJUNTIVO:
2.1 Tecido Conjuntivo Propriamente Dito (TCPD);
2.2 Tecido Sanguíneo;
2.3 Tecido Ósseo;
2.4 Tecido Cartilaginoso;
2.5 Tecido Adiposo;

3- TECIDO MUSCULAR;

4- TECIDO NERVOSO;

Através dessas pontuações, podemos nos direcionar a quais são os tecidos existentes e entender em que classificação eles podem ser categorizados.

COMPOSIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E ORGANIZAÇÃO BÁSICA GERAIS DOS TECIDOS

A constituição dos tecidos se resume a uma porção de Células e outra de Matriz Extra Celular (MEC), contudo, é importante saber, que a quantidade e a morfologia das células de cada um, vai passar por alteração dependendo da tipologia tecidual, essa distinção pode ser uma característica para direcionar a identificação dos tecidos em lâminas.

Imagem 3 — Propriedades exemplares de alguns tecidos — Fonte: Histologia Básica (Junqueira e Carneiro)

Observação.: No quadro a cima, é perceptível como cada tipo de tecido possui características particulares, isso, deve-se, a diferenciação celular, já dita, possibilitando a cada um, formatos celulares, funções e fisiologia diferenciada, ou seja, cada tecido irá possui células específicas para sua determinada função, afim de, realizar com excelência a sua finalidade.

A MEC é uma substância aquosa que possui a consistência de um gel, e é constituída basicamente de Substâncias Fundamentais, essas que possuem em sua composição proteínas e glicídios, além das Fibras, o componente fundamental para a sustentação e manutenção da estrutura tecidual, e que também possui a capacidade de auxiliar no transporte de constituintes extracelulares. A matriz é formada pelas Células do próprio tecido, e ao mesmo tempo possui a capacidade de controlá-las. A partir disso, podemos afirmar que MEC e Células é uma conjuntura que atuam de maneira organizada, respondendo aos estímulos do organismo.

Sabendo disso, podemos afirmar que a formação do organismo é delimitada em sua maioria, pelo estudo dos tecidos, visto que, é a junção das suas tipologias que quando relacionadas formam os órgãos, os nervos, e os fluidos do corpo humano, como as linfas e o sangue.

TECIDO EPITELIAL DE REVESTIMENTO

Agora que conhecemos um panorama geral dos tecidos, no que se refere às características que cada tipologia apresenta de maneira única e diferenciada, podemos adentrar mais especificamente em cada tipo tecidual e destacar as características e a formação do Tecido Epitelial de Revestimento. Entre as informações precisas neste tópico, pontuarei o que veremos a seguir:

  1. Classificação dos tecidos;
  2. Características Epiteliais;

1.CLASSIFICAÇÃO DOS TECIDOS

Sabendo, que a formatação dos tecidos está diretamente relacionada com as células que o compõem, a classificação deste dependerá, então, do formato e número de camadas celulares presentes nele. Com isso podemos classificar:

1.1 NÚMERO DE CAMADAS:

  • Simples: Apresentará apenas uma camada de células;
  • Estratificado: Mais de uma camada de células;

As camadas mais finas, como as Simples (Imagem 4), geralmente, possuem a função de absorção ou secreção, a exemplo dos tecidos que recobrem a parede interna do Intestino Delgado, pois, é uma área de intensa absorção de nutrientes, em que uma camada simples facilitará a difusão, ou seja, a penetração dos componentes da digestão. Assim como, também, no Estômago em que há uma constante liberação de Ácido para a degradação dos alimentos, necessitando de uma camada tecidual de revestimento interno mais laminar para facilitar a secreção deste componente.

Os tecidos com mais de uma camada, os Estratificados (Imagem 5), se referem aos que possuem função de proteção, por exemplo, a Pele, que é uma superfície externa que está exposta a impactos e às intempéries do meio, necessitando, com isso, de uma camada mais espessa para poder desempenhar sua finalidade.

  1. 2 FORMAS DAS CÉLULAS
  • Pavimentoso;
  • Cúbico;
  • Prismático/Colunar/Cilíndrico;

A formatação que o tecido adquire depende diretamente da interação entre as células, uma vez que a adesão ou a pressão física são fatores importantes para a morfologia que a célula vai aderir.

As pavimentosas tendem a se organizar de maneira justaposta, ou seja, com uma intensa adesão entre uma célula e outra, por meio de junções que iremos explicar mais a adiante, essa característica faz com que o tecido possua a capacidade de formar folhetos para o revestimento da superfície externa e cavidades do corpo, ou até mesmo na formação das glândulas secretoras, que iremos tratar em um próximo episódio.

Já as Cúbicas e Cilíndricas, se arranjam nesse formato por meio da pressão exercida entre as células, uma analogia interessante para melhor entendimento, seria imaginar: o comprimento de bexigas cheias de ar, em que cada uma sofreria deformação e se encaixaria no espaço que lhe fosse cedido. Da mesma maneira acontece com as células, possibilitando, assim, a conformação poliédrica, que representa a presença de bordas ou quinas nas células.

Vale ressaltar, que os núcleos tendem a seguir o formato das células, assim podemos avaliar nos modelos eletrônicos a classificação do tecido, tendo em vista, que em muitos casos a porção tecidual não é de fácil visualização, quando trata-se de estudos que envolva a microscopia, contudo, os núcleos, quando submetidos a coloração, é a fração mais pigmentada, facilitando a identificação da tipologia do tecido e a classificação das células pelo modelo do núcleo.

Observação: Além das classificações mencionadas, existe uma que se destaca: o tecido Pseudoestratificado (Imagem 4), esse que possui uma morfologia atípica, comparado às outras tipologias teciduais, isso se deve porque aparentemente o tecido apresenta-se como Estratificado, pelo desalinhamento dos núcleos, contudo, ele se encaixa como Simples, pois trata-se de apenas uma camada de células, por isso a denominação Pseudo estratificado — falso estratificado. Como já mencionado, os núcleos são referencias para classificar a porção tecidual, entretanto, deve-se ater a essa categoria. Esse cenário se faz possível pela presença das Células Caliciformes, uma vez que elas possuem o formato de cálice produzindo esse efeito de núcleos desordenados, e o não alinhamento dos núcleos trás a ideia de estratificação.

Observação: Assim como o Pseudo, existe outra tipologia tecidual de revestimento que encontra-se isolado das classificações existentes, isto deve-se a sua estrutura que é diferenciada. São os epitélios de Transição (Imagem 5), sua denominação dar-se pela sua capacidade de mudar o estado da célula através da atividade de relaxamento e extensão que ele possui, são tecidos encontrados no revestimento da Bexiga urinária, e em algumas porções da Uretra, essa propriedade viabiliza o enchimento e o esvaziamento do órgão, quando encontra-se relaxada as células tendem a se apresentar mais globosas, chegando a confundir seu epitélio com o Cúbico Estratificado, mas quando estendido as células aderem a uma morfologia mais achatada.

IMPORTANTE: É considerável evidenciar, que a classificação dos tecidos pode ser categorizada de acordo com as células do ápice, isto porque nem todas elas seguirão o mesmo padrão até a base. Uma exceção a ser aplicada é o Epitélio Cúbico Estratificado, essa marca possibilita a diferenciação entre este epitélio e o de Transição.

Imagem 4 — Epitélios de classificação Simples — Fonte: Histologia Básica (Junqueira e Carneiro)
Imagem 5 — Epitélios de classificação Estratificado — Fonte: Histologia Básica (Junqueira e Carneiro)

Através do que já foi explicado, agora podemos classificar os diferentes tipos de tecidos epiteliais de acordo com a organização celular. Diante disso, analise na tabela abaixo um resumo prévio das possíveis classificações, juntamente, com suas respectivas funções.

Imagem 6 — Resumo das classificações epiteliais — Fonte: Histologia Básica (Junqueira e Carneiro)

2. CARACTERÍSTICAS EPITELIAIS

Podemos destacar, agora, algumas características inerentes aos Tecidos Epiteliais, como já vimos às variações dos formatos celulares, podem se unir para configurar as diferentes tipologias teciduais, é válido nesse momento destacar algumas propriedades das células e da estrutura dos tecidos epiteliais. Para maior organização, os quesitos estão enumerados, a seguir:

  • Células Poliédricas e Justapostas: essa classificação ressalta o arranjo celular que é preciso para a formação dos tecidos, são consideradas poliédricas pela atuação da pressão entre uma célula e outra, como já foi citado, configurando aglomerados celulares tridimensionais, isso deve-se justamente, pela justaposição de uma célula a outra, independente da sua classificação numérica, simples ou estratificada. Além dessas ressalvas, é importante destacar que as células Epiteliais formam tecidos com uma pouca quantidade de MEC, seu sistema celular aplicado de maneira justa- posta leva o tecido a aderir pouca quantidade de Matriz, configurando uma maior adesão entre as células.
  • Alta Coesão celular: Continuando a ideia anterior, podemos destacar a forte aderência entre as células epiteliais, essa propriedade é de suma importância para a função de revestimento celular, isto porque a junção entre os corpos celulares é tão intensa a ponto de sustentar e promover proteção ao organismo.

Ademais, podemos destacar os tipos de Junções Celulares, denominadas de Especializações de Membrana, que possibilitam a ligação ou coesão entre as células:

-Junção de Oclusão: essa tipologia apresenta-se, geralmente, na região apical da célula, e além de condicionar coesão celular possui a capacidade de vedação entre as células formando barreiras de difusão celular, permitindo, dessa maneira, a seletividade celular, ou seja, o controle dos constituintes que passam de uma célula a outra.

Imagem 7 — Representação das Junções Celulares — Fonte: Histologia Básica (Junqueira e Carneiro)

-Junção de Adesão: encontra-se na sequência do ápice para a base da célula, diferentemente da Oclusão, não funde as membranas das células, elas permanecem separadas e paralelas, contudo, sua adesão permanece acentuada por meio dos filamentos de Actina que proporcionam resistência a estresses mecânicos, evitando o rompimento lateral das células;

-Desmossomos: esse tipo de junção é considerada a mais forte entre todas, é encontrada em quase todos os tipos celulares, principalmente nas células cardíacas, uma vez que são tecidos que estão em constante contração e expansão, necessitando de uma junção de intensa fortificação, as células epiteliais também possuem essa estrutura, e é formada a partir de filamentos de Queratina encontrados na pele.

-Hemidesmossomos: é uma variação desmossomica, pois não interligam uma célula a outra, mas podem promover a ligação da célula com a Membrana Basal.

Imagem 8— Representação das Junções Comunicantes ou Gap — Fonte: Histologia Básica (Junqueira e Carneiro)

-Junções Comunicantes ou GAP: formado por agregados proteicos denominados de Conexinas, eles possuem a capacidade de formar passagem entre uma célula e outra, possibilitando, assim, passagem de moléculas pequenas, apesar da abertura, também são capazes de abrir e fechar a passagem, favorecendo a seletividade celular.

  • Polaridade Celular: Todas as células que participam da composição tecidual, possuem o Polo Apical que esta direcionado para a parte das superfícies externas, cavidade ou espaço, denominada também de superfície livre, já a porção oposta é chamada de Polo Basal, isto porque é a segmentação da célula que está diretamente ligada a Membrana basal, que é voltada para o tecido conjuntivo, e ainda, tem-se as superfícies laterais que confrontam células adjacentes.
Imagem 9 — Representação estrutural da Membrana Basal, Nervos e Vasos — Fonte: quizlet.com
  • Membrana Basal: essa estrutura faz parte da composição de todos os Tecidos Epiteliais e de qualquer outro tecido que se delimita com o Tecido Conjuntivo, isto porque uma das finalidades da lâmina é promover a junção do tecido em questão com o Conjuntivo. Por sua vez, é constituída por Fibras Reticulares, que possui a função de delimitar os tecidos, e por por uma Lâmina Basal que é composta por glicoproteínas, e proteoglicanos. Para a sua ligação ao Tecido Epitelial utiliza-se do tipo de Junção Hemidesmossomos, e para se ancorar ao Tecido Conjuntivo, utiliza-se de fibras de Colágeno tipo VII, presente no retículo, tudo isso para promover a união dos tecidos, além dessa função, também influencia na seletividade de moléculas e na polaridade; possui a propriedade de regular a diferenciação e a proliferação celular e também na organização das moléculas celulares, ou seja, auxilia em toda a manutenção fisiológica do tecido através dessa manipulação dos mecanismos celulares.
  • Nutrição: Já deve estar claro que abaixo do Tecido Epitelial de Revestimento, também denominado de Epiderme, encontra-se o Tecido Conjuntivo, este que pode ser chamado de Derme, este último é quem possui o acesso aos vasos sanguíneos e ás inervações, é importante entender que a nutrição procede diretamente da vascularização do tecido, por isso a Epiderme para ser nutrida depende de um processo de difusão, em que os nutrientes necessários irão de um plano tecidual para outro por consequência da diferença de concentração, ou por vias facilitadas, ou seja, proteínas que facilitam a passagem das moléculas, via membrana, assim como foi visto nas Junções Comunicantes, mais a cima. É considerável, que todos entendam a importância desse processo, visto que, pele é um tecido que está em constante reposição de células, para a formação de novas é necessário que haja uma adequada nutrição e oxigenação celular.
  • Inervação: Os epitélios possuem uma rede intra epitelial de terminações nervosas, o que favorece algumas funções sensitivas como, o tato e o paladar, ou até mesmo a sensação de dor ou de temperatura.

Agora que você sabe um pouco sobre as características estruturais, morfológicas e fisiológicas do Tecido Epitelial, aconselhamos que você procure aprofundar-se em alguns termos que talvez não tenha entendido. Os Tecidos são organizações que interagem com outros tipos de tecidos e por isso um pode depender do outro, além de que para sua melhor compreensão é de suma importância um conhecimento prévio de Citologia, para haja uma melhor compreensão sobre os processos celulares.

De qualquer forma esperamos que esse material te ajude no processo de aprendizagem ou até mesmo seja utilizado com um guia de estudo. E sim, iremos dar continuidade ao assunto, no próximo episódio sobre Histologia, discutindo a cerca do Tecido Epitelial Glandular.

Não se esqueçam de deixar os claps (palmas), caso, tenham gostado do conteúdo. Um forte abraço e até os próximos capítulos.

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Kamilafarias
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"Fundadora, Editora e Escritora do projeto Biolhar", em busca de ser uma influência no âmbito educacional.