Aquele velho sonho de transformar o mundo

E o que o Design tem a ver com isso

Hanna Amback
bionexo
4 min readOct 31, 2019

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Photo by Markus Spiske on Unsplash

Sempre fui uma pessoa curiosa, criativa e inquieta. Aceitar as “coisas como elas são”, conforme me foi ensinado, nunca foi o meu forte, e ainda bem.

Pensando na potência da criatividade e como nós, seres humanos, somos mestres nessa arte, cresci buscando conhecimento e experimentação. Nessa busca, encontrei o Design, que não estava nos planos e nem tampouco eu tinha a dimensão de sua grandeza.

Descobrir o design, sem dúvida, transformou a minha vida. Através dele, tenho aprendido a desconstruir padrões e a repensar as interfaces e estruturas. No começo do aprendizado, tudo parecia mais simples. Parecia que a proposição do design era apenas no aspecto visual e sensorial dos projetos. Aquela coisa de “forma e função”, sabe? Mas o fato, é que o design é muito além disso.

O design para mim tem se tornado um dos meios mais influentes e eficientes para transformar o mundo. Através dele é possível projetar, de maneira criativa, holística, econômica, flexível e sustentável, produtos e serviços que geram impacto positivo e são mais acessíveis para as pessoas.

O design é transformação. O design é melhorar os contextos e as ferramentas que neles estão inseridas. É um dos fazeres humanos mais antigos e mais essenciais para a nossa vida, sobretudo quando pensamos em seres humanos como agentes de transformação do meio em que vivem.

Ser humano é ser também um pouco designer, mas em um mundo em que tudo já está pré-estabelecido e padronizado, sinto que a força criadora humana tem se perdido ao longo do tempo na história. A busca por sobrevivência e a ação direta dos humanos com o meio ambiente, foi se perdendo conforme fomos nos estabelecendo em cidades e construindo estruturas que consideramos como sólidas e fixas. Com essa perda de contato com a natureza, surgiu o contato com as máquinas e com as cidades urbanas.

Desde então, a relação do humano com o meio mudou bastante, porém o manuseio de ferramentas se manteve e até aumentou, visto que o capitalismo prega o consumo intenso de bens materiais e serviços.

Na mudança de contexto natural para o contexto urbano-industrial, o design foi se tornando um fazer cada vez mais especializado. Nesse processo, surgiram as escolas de design, que até então essa prática era muito atrelada à arte. A figura do artesão e artista (marceneiros, ferreiros, sapateiros, escultores, pintores, alfaiates e etc) tem muito a ver com o design, mas através da industrialização, essa figura foi perdendo espaço para a figura do designer, pois este profissional estava à serviço da indústria; dos projetos em larga escala, da automação e padronização e não mais à serviço do seu próprio sustento e de sua comunidade local.

Ao longo dos dois séculos de sua profissionalização, como um trabalho à serviço da indústria e especializado, nós fomos nos distanciando da criatividade, para a construção de ferramentas, e buscamos também nos especializar em alguma profissão. E esse tem sido o movimento da sociedade e do trabalho até chegarmos aqui, século XXI.

Contudo, na última década, o design tem passado por muitas transformações; dentre elas, esse conceito de designer especialista tem mudado para designer generalista, pois em um mundo VUCA (volatility, uncertainty, complexity and ambiguity) temos compreendido que não há mais tanto espaço para nos especializarmos em algo, visto que tudo muda muito rápido e de maneira complexa.

Nisto, percebo que de uma certa forma estamos retornando as raízes do design humano; do design como algo que permeia tudo, pois é a nossa interação com o mundo.

Esse novo cenário tem gerado um grande empoderamento para nós, designers de profissão. Mas como diria tio Ben: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, não é mesmo?!

Pois bem, temos sim novas e maiores responsabilidades, principalmente quando consideramos que, hoje em dia, podemos atuar nos mais diversos contextos e que temos modelos mentais e ferramentas que nos permitem projetar de maneira mais eficiente no mundo VUCA. Estabelecendo, assim, uma nova relação com a criação de projetos de acordo com o modelo mental fordista, por exemplo. Enquanto o modelo fordista projeta com linearidade, padronização, velocidade, automação e escala, o modelo do design considera a complexidade e a escassez de recursos do mundo em que vivemos hoje e consegue quebrar paradigmas e criar coisas novas. Consegue criar novas formas de nos relacionarmos com o meio e de lidar, através da criatividade, com os problemas.

Essa reflexão começou com a intenção de ser um “manifesto” meu enquanto designer e também inspirada pela Declaração de Design de Montreal, mas acredito que ela foi um pouco além disso, a fim de trazer para mim e para vocês um pouco mais de contexto sobre esse assunto, que é tão vasto e profundo.

Para concluir essa reflexão e dizer mais explicitamente sobre a minha visão, responsabilidade e ação como designer, acredito que tudo começa a partir da observação, experimentação e reflexão. A partir dessas ações, eu começo a pensar em maneiras para resolver determinado problema, estabelecendo conexões interdisciplinares que me permitem desenvolver um olhar mais amplo, investigativo e criativo, para, assim, ser possível construir projetos que melhorem a qualidade de vida em sociedade e no mundo em que habitamos.

Tudo isso é um pouco do que eu tenho aprendido com o design e tem sido uma paixão avassaladora hehe. Aproveito também para te encorajar a dar abertura a sua criatividade e para experimentar o quanto ela é capaz de transformar os contextos e a nossa maneira de enxergar as coisas.

That’s all folks! 🙃

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Hanna Amback
bionexo

uma designer curiosa que se interessa pela complexidade da vida.