Viabilidade de Projetos & Agilidade

Melissa Santi Itimura
bionexo
Published in
4 min readMar 2, 2018

Confesso que estudei VPL (Valor Presente Líquido) no MBA e quando vim para o “mundo ágil” nunca mais utilizei. Bom, nunca mais é muito tempo…

Em uma passagem por uma instituição financeira que estava vivendo uma transformação ágil, escutava o tempo todo o pessoal falar de VPL e comecei a indagar se o cálculo de VPL para esses casos estavam certos. Quando se fala de projeto, melhor dizendo, projetos, qualquer empresa precisa decidir qual deles será priorizado, visto que o capital que será utilizado no custo do projeto não é infinito.

Então, como decidir? Para quem está acostumado com o gerenciamento tradicional de projetos, é normal falar de VPL, payback, TIR (taxa interna de retorno), índice de lucratividade, entre outros. E quando mudamos para o gerenciamento ágil? É como se deixasse de existir todos esses cálculos, pois não costumo ver grandes discussões sobre cálculo de VPL nas empresas, pelo menos não via até aquele momento.

Em alguns livros, como o do Vitor Massari (Gerenciamento de Projetos Ágeis), existem explicações de como calcular VPL e TIR, porém, de qualquer maneira, vou relembrar esses conceitos aqui.

Payback Simples e Descontado

Payback é o retorno que teremos após o investimento em um período máximo estipulado pelo investidor. Vamos utilizar a tabela abaixo como exemplo:

Fonte: Viabilidade econômico-financeira de projetos (Editora FGV) — Adaptação

A primeira linha é o tempo a ser “medido”, seja mês, ano ou mesmo sprint (afinal, se alguns times trabalham com Scrum, então porque não definir o timebox correto?). A segunda linha é o fluxo de caixa, sendo que o investimento é com sinal negativo (por isso está entre parênteses, para representar que é um valor negativo). A terceira linha é o valor acumulado, considerando o valor investido e posteriormente o “retorno”.

Precisa tomar cuidado com o fluxo de caixa quando se trabalha com sprints, mas é somente uma questão de atenção. A figura abaixo nos ajuda a entender isso (sim, foi eu quem desenhou, particularmente um rabisco sempre ajuda a compreender melhor o problema):

Toda sprint deveria ter um custo fixo (que seria o de desenvolvimento se for pensar de maneira bem simplista) e a receita gerada pelo produto/projeto. Sendo assim, para o cálculo do payback simples, devemos descontar o custo fixo para obter o fluxo de caixa. Outro ponto importante é que, se o time estiver trabalhando com um produto, o retorno começa antes de acabar todo o desenvolvimento, ou seja, o retorno vai aumentar gradativamente e por um período, o custo fixo de desenvolvimento será maior que o retorno até essa conta se inverter (se o produto valer a pena, claro).

Em outras palavras, você entrega um pedaço do seu produto na primeira sprint e o usuário já começa a usar. Quando for calcular o fluxo de caixa da segunda sprint, você precisa levar em consideração o custo de desenvolvimento mais a receita (mesmo que pequena) gerada por aquele pedacinho do seu produto entregue na primeira sprint.

Para levar em consideração o dinheiro no tempo, é preciso incluir a taxa de atratividade, tornando assim o método chamado PayBack Descontado. Neste caso, descontam-se todos os elementos do fluxo de caixa à taxa definida, trazendo o valor presente na data inicial.

Para quem não calcula viabilidade, o payback já dá uma noção se estamos indo no caminho certo ou não.

VPL — Valor Presente Líquido

VPL também é um fluxo de caixa descontado, pois consiste em trazer o valor para o presente, mas diferente do payback descontado, ele considera todos os fluxos de caixa e não somente o momento que o saldo acumulado fica positivo.

Vou citar o mesmo exemplo que o Massari cita no livro de “Gerenciamento Ágil de Projetos” para ilustrar melhor VPL. Ele propõem o seguinte cenário: para o projeto A teremos R$100000,00 de custos, porém em quatro anos teremos uma receita prevista de R$150000,00. Para o projeto B, temos R$125000,00 de custos e uma receita prevista de R$200000,00 em sete anos. Se formos comparar somente o ROI, teremos para o projeto A um retorno de 50 mil e para o projeto B um retorno de 75 mil. Porém não levamos em consideração o tempo.

Por isso é necessário converter o valor futuro para o presente:

PV (valor presente)= FV (valor futuro) /((1+i)^n)

Onde i é a inflação e n é o período.

No exemplo, ele considera que a inflação é de 7%a.a., então os valores presentes e as VPLs dos projetos são:

Projeto A = 114434,28 => VPL = 114434,28 - 100000,00 = 14434,28
Projeto B = 124549,95 => VPL = 124549,95 -125000,00 = (450,05)

Sendo assim, melhor escolher o projeto A.

Este exemplo foi bem simples, mas como estamos falando de pequenas entregas e o retorno será maior a medida que o produto cresce, então, não se esqueça de somar todos os valores presentes.

Onde t é o momento em que o fluxo de caixa ocorreu.

Palavras Finais

Para quem não está acostumado ou nunca se preocupou com viabilidade, comece calculando o payback simples. Não ache que calcular o ROI para produtos ou projetos ágeis já é o suficiente. Assim como tudo, comece pelo simples e vá aprimorando. Logo, você estará calculando de maneira correta VPLs e outros índices do seu produto/projeto, mesmo em ágil.

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