Certamente “A Bruxa” não é pra você.

Nicolas S.
Biscoito & Bolacha
Published in
4 min readMar 7, 2016

A leva de bons filmes de terror continua em alta. Após “The Babadook”, “It Follows” e “Goodnight Mommy” temos agora o igualmente bom e amedrontador “The Witch”.

Não temos aqui um filme de sustos mas sim um filme que brinca com seu Medo e seu Desconforto, e isso meus amigos posso afirmar que é muito pior que um susto de momento.

Me segurei pra não ficar assim na sala de Cinema.

É importante reforçar o fato de que, o “filme mais assustador da última década” não é um filme assustador para o público geral. E isso é ótimo!
Se você prefere filmes como Atividade Paranormal, Anabelle, Invocação do Mal e afins, não gaste seu suado dinheirinho pois esse filme não vai te agradar. Agora, se aprecia o cinema como arte, e consegue adentrar de cabeça em filmes que necessitam de um alto grau de imersão, aproveite pois você vai adorar “A Bruxa”.

O QUE É A BRUXA?

Existem filmes que são verdadeiras experiências de vida e certamente são únicas, A Bruxa é um desses filmes. A história é um suspense progressivo, é um terror psicológico agonizante que não te deixa piscar e te faz suar na poltrona do cinema. A Bruxa é sim um filme de terror do caralho, que seguindo uma linha parecida com ‘’It Follows’’ pode até parecer devagar de mais para o público, mas é um filme feito de nuances e de imersão completa. Aliás, vale ressaltar que aqui a imersão na história é essencial pois sem ela você pode acabar se perdendo no enredo intrincado e no vocabulário arcaico.

O roteiro se mantém no tradicional “família que se muda para uma casa nova e eventos estranhos começam a acontecer’’ mas, inova ao usar um cenário que se passa na Nova Inglaterra, no ano 1630. É uma jogada certeira, pois a sensação do passado é um fator para o medo à parte, e apoiado nisso vemos a criatividade dos roteiristas em fazer horror sem usar serras elétricas, moveis que voam ou aparelhos eletrônicos que se ligam sozinhos.

A pegada religiosa é forte, mas não espere nenhuma profanação ao estilo “O Exorcista”, aliás comparando com o ícone do terror cinematográfico podemos afirmar que assim como O Exorcista não teme em mostrar, A Bruxa também não teme em esconder. No final, algumas pontas ficam abertas para que o telespectador possa tomar suas próprias sugestões do que realmente aconteceu.

Não espere sangue, não espere sustos repentinos mas espere uma sensação de desconforto extremamente claustrofóbica.
Esse é um daqueles filmes que provavelmente fez história. Além de nos ser entregue uma verdadeira obra de arte, com um orçamento baixíssimo o diretor conseguiu criar uma história de terror completa em que o susto não é momentâneo, mas que faz o medo ecoar até mesmo horas depois da sessão ter terminando.

Como . Não. Ter. Medo?

Dois elementos, são bastante atormentadores na história. Primeiro, a presença dos gêmeos, que apesar de serem figurantes no filme em determinado ponto eles são uma peça adicional interessante ao terror da história. O outro elemento, muito mais medonho é Black Philipp, o carneiro negro da família que atualmente é o responsável por alguns dos meus pesadelos. Os gêmeos também administram uma relação bizarra com o bicho, conversam e brincam com ele como se fosse um mero gatinho.

A matriarca da família é uma grande beata, religiosa ao extremo e que acredita que os eventos ocorridos em sua casa são culpa de sua filha mais velha amaldiçoada por alguma feitiçaria. O pai, se vê perdido entre tomar alguma ação ou deixar nas mãos de Deus. Além de nós que assistimos, quem sofre mesmo é a filha mais velha, Thomasin que é a protagonista da história, que além de ser chamada de bruxa várias vezes, ser culpada pelos problemas familiares ainda tem que se ver como pecadora e responsável pelos males da família ao seu redor.

Aqui reside a inteligência do filme, pois o medo se aprofunda em nossas mentes a partir do momento em que conseguimos nos enxergar na pele de Thomasin e de sua família, um grupo de pessoas obstinado, desinformado e desamparado vivendo numa situação desesperadora. Se você não entende que para aquelas pessoas religiosas, os eventos são uma relação direta às influências do Diabo, você com certeza não sentirá o medo que o filme foi programado para despertar.

Como eu disse lá em cima, o filme não é para todos, então deixo aqui meu apelo, se em quinze minutos de filme você não se sentir interessado saia da sessão, ou então evite conversas paralelas pois qualquer som durante o percorrer da trama pode ser o suficiente para estragar a experiência.

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Nicolas S.
Biscoito & Bolacha

Porque separar os biscoitos das bolachas se podemos ter os dois? Marketing Industrial, Marketing Pessoal, Marketing Alimentício, Marketing Amoroso e por aí vai.