Querida Rede Globo de Televisão - Uma carta aberta ao maior canal da TV brasileira sobre o Oscar e afins.
Olá! Como estão vocês aí do outro lado do cubo mágico? Espero que bem, aqui está tudo bem também.
Inicialmente, gostaria de dizer que aprecio seu trabalho. Sério, é mesmo. Suas novelas, séries, programas humorísticos e até mesmo os jornalísticos. Admiro o fato de que uma organização mantida por telespectadores extremamente conservadores esteja se movimentando para acompanhar os passos da tecnologia e da modernidade, que esteja se adaptando ao gosto do público. Vocês fizeram o Bonner levantar da cadeira caramba! Que avanço significativo, quando levamos em conta o “modus operandi’’ de vocês. Tão rígidos, tão sérios e tão glamourosos. Aos poucos vocês estão ficando maleáveis, uns peitinhos aqui, beijos gay ali, programa humorístico que zomba dos patrocinadores. Bom, é claro que, às vezes se pressão aumenta um ou outro passo é dado pra trás, mas essa é a vida né, quem não retrocede de vez em quando numa situação de aperto?
Falando em vida, às vezes ela nos dá oportunidades que não podem ser perdidas. E é sobre isso que vim falar com vocês. Infelizmente, perdemos José Wilker em 2014. O crítico que estava assiduamente e acidamente presente na transmissão do Oscar pela TV aberta, aí mesmo no canal de vocês. De abril de 2014 para cá, se passaram quase 24 meses e duas cerimônias do Oscar, ambas apresentadas por atores diferentes.
Wilker era um cara genial, inteligentíssimo e que todo ano acrescentava algo à cerimônia - mesmo que, em algumas vezes eu discordasse ferrenhamente dele. Tínhamos ali uma pessoa que sabia discutir, argumentar e se posicionar à respeito de um filme e principalmente à respeito da indústria cinematográfica. E me diz uma coisa, não é exatamente sobre isso que a Arte do Cinema se trata? Não é isso que todo diretor, roteirista e produtor deseja, fazer seus telespectadores discutirem suas histórias por horas a fio, mesmo após terem saído da sala de cinema?!
Lá em 2015, na primeira cerimônia sem José Wilker, vocês optaram por colocar Lázaro Ramos para suprir a falta de uma terceira pessoa, já que substituir Wilker seria um esforço hercúleo, tudo bem nós entendemos isso. Lázaro Ramos cumpriu a proposta passada, sem nada que desabonasse mas também sem nada que despontasse. Para 2016, Glória Pires foi a escolhida e, bem o resultado já sabemos.
Eu sei que nesse momento o diretor de produção deve estar descabelado e não quer ver Glória Pires nem pintada de ouro, mas já dizia o ditado : ‘’Há males, vem para o bem’’. E Glorinha foi um mal que deu muito certo. Em questão de instantes a audiência subiu e ela se tornou um trending topic.
O erro de vocês, foi há dois anos atrás não ter aproveitado a oportunidade da triste morte de José Wilker e remodelado o programa de cobertura do Oscar. Por isso eu encarecidamente peço, PAREM DE FAZER A TRANSMISSÃO DO OSCAR UMA CERIMÔNIA DE GALA.
Querida Rede Globo, não faz sentido seus apresentadores trajados de terno, ou vestido e salto alto. As pessoas não vão assistir à um jogo de futebol de chuteira e caneleira, o Galvão Bueno não narra o jogo usando calção. Então, porque vocês fazem seus apresentadores se vestirem como os indicados?
Algo mudou, e vocês ainda não perceberam. A questão é que hoje em dia, o público é outro e a discussão é aberta à todos, é conectada e principalmente BEM HUMORADA. Piadas sobre o urso, sobre Leonardo DiCaprio, Jack e Rose estão aí sendo digitadas pelas pessoas.
Está faltando a criação de uma amizade entre o Canal e seus telespectadores. O problema é que a culpa é de vocês, que insistem em ter medo de ousar, insistem em manter um padrão de uso desgastado pelos anos. Nos encarem como seus parceiros, nos vejam como aqueles caras que podem te trazer mais sucesso.
Sigam as tendências, o próprio Oscar se permite a zoação, brinca com suas próprias regras, com seus convidados e suas falhas.
Enquanto vocês se esbanjavam com o luxo num cenário magnifico, as outras mídias se adaptavam ao público que realmente se interessa pelo Oscar. OmeleTV fez uma transmissão em que um dos apresentadores usava um macacão feminino fashion e o próprio TNT realizou uma cobertura com Pipocando, Jacaré Banguela, Christian Pior, num cenário digno da TV Cruj. A titulo de curiosidade, em cada uma das transmissões havia cerca de 30 mil pessoas assistindo, o que pelas minhas contas dão puco mais de 11% da audiência total do programa de vocês — Um número relevante.
O que eu espero de vocês é, peguem a lição aprendida com “Tá no ar: a TV na TV” e façam o dever de casa, usem a cobertura desse ano como exemplo e por favor transformem a cerimônia do ano que vem em um case de sucesso.
Movimentem opiniões, gerem comentários, engajamento, piadas, criem novos memes mas por desejo próprio e não por um acidente de casting. Hoje vocês possuem grandes nomes do humor brasileiro, que certamente entendem de cinema tanto quanto a Glória Pires (Ou mais que ela), usem isso à seu favor. Entreguem um programa que seja gostoso de acompanhar, que seja divertido, que entretenha e que também informe, assim como os filmes premiados durante essa noite. Coloquem pessoas que entendam de Hitchcock mas que também saibam quem é J.J Abrams.
Esse ano vocês foram a piada, espero que ano que vem vocês criem ela.
Atenciosamente,
Alguém que gosta muito de cinema mas sem dinheiro para TV paga.
