Alguns destaques do SXSW (Parte 2)

A história e o futuro do Facebook, e o futurismo quantitativo de Amy Webb

Beatriz Guarezi
Bits to Brands
6 min readMar 22, 2019

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(Esse artigo é a continuação desse aqui. Ambos são parte da Bits to Brands, newsletter semanal sobre tecnologia e comportamento que você pode assinar aqui.)

SXSW é de fato muito conteúdo. Tanto que não coube em um artigo só. No total, acompanhei daqui (na íntegra) sete palestras, além da cobertura de diversas outras por quem estava lá. E isso não é nem perto do que é possível de absorver estando em Austin full time.

Mesmo à distância, a sensação depois de assistir pessoas tão diferentes falando de tópicos tão diversos é que eu entendo melhor o mundo à minha volta.

O que estamos vivendo em 2019 com as redes sociais e aplicativos que já são parte da nossa vida, o que está sendo desenvolvido, as previsões para o futuro.. Tudo isso vai se conectando e fazendo mais sentido conforme assistimos a diferentes perspectivas e o quanto elas se complementam.

Recomendo muito assistir às palestras disponíveis no canal oficial do SXSW, e deixo a minha contribuição para disseminar mais um pouco desse conteúdo nesse segundo artigo.

Nele, você encontra os principais insights das incríveis talks da futurista Amy Webb e do ex-mentor-atual-crítico de Mark Zuckerberg, Roger MacNamee.

Amy Webb

Amy Webb se auto define como “quantitative futurist” (#goals), e deixa bem claro o que isso representa ao apresentar o report de tendências do seu Future Today Institute com 315 tendências de tecnologia. (Baixe aqui)

Munida de uma infinidade de dados, que tanto resultaram nessas 315 tendências, quanto derivam das suas combinações, ela dividiu a palestra em dois momentos:

No primeiro, ela dá um dos grandes insights do evento, que é a necessidade de prestar atenção em tendências relacionadas a sua indústria, mas não apenas. É preciso olhar para o que está em volta, e também para áreas totalmente diferentes.

“Não é tanto sobre prever o futuro, e sim sobre ligar os pontos para visualizar o futuro”

Para provar esse ponto, Amy questiona por que o Walmart deveria se preocupar com tendências distantes do varejo, como impressão 4D, smart farming e tecnologias ‘verdes’.

E então, explorando cada uma delas, conectando esses pontos e analisando os passos recentes da Amazon, ela prova por A+B por que o conjunto dessas tendências é capaz de impactar seriamente o futuro do Walmart (vale a pena assistir).

No segundo momento da palestra, ela nos ensina a agrupar micro tendências para visualizar cenários mais amplos, fazer questionamentos e cria cenários de futuro — um otimista, um realista e outro catastrófico.

Novamente exemplificando, ela explica duas fortes tendências para um futuro próximo: 1) “Privacy is Dead” e 2) “Your home is smarter than you think it is”

O fim da privacidade deriva de uma série de tendências tecnológicas sobre reconhecimento facial, de voz, de emoções, de comportamento e do fornecimento e processamento de dados genéticos.

De quem são os seus dados biométricos? Eles podem ser vendidos ou compartilhados entre empresas? Você deve ter o direito de selecionar exatamente quais partes do seu comportamento você quer fornecer?

Diante dessas perguntas, o cenário mais provável (com 50%) é o neutro, onde dados biométricos ficam restritos a algumas poucas empresas de tecnologia, nossos dados não circulam entre sistemas operacionais, e há abertura para novos tipos de hackers e bugs.

As casas mais espertas do que imaginamos vem da convergência da quantidade imensa de coisas “smart” que podemos comprar hoje — de assentos de banheiro a tomadas e microondas, do uso de devices controlados por voz e da automação crescente das casas.

Diante dessa tendência, o cenário de futuro que prevalece é o catastrófico: uma pessoa vivendo em uma “Google Home”, ou “Amazon Home”, ou “Apple Home” e fornecendo todos os dados da sua vida doméstica para essa empresa. Uma casa se auto gerenciando, e tomando decisões que seu dono não entende. As decisões sendo terceirizadas para os assistentes, que se comunicam entre si para garantir que, por exemplo, caso a sua meta de passos do dia não tenha sido cumprida, a porta da garagem não abra, forçando a andar a pé. “Smart homes” se tornam “smart prisions”.

E a probabilidade da pessoa nesse cenário ser um de nós num futuro próximo? 70%.

Apesar dos choques de realidade, com muita propriedade e muita presença, Amy Webb quis inspirar mais do que assustar. Isso porque entre a estimativa e a realidade, entre um futuro catastrófico e um desejável, tem muita gente interessada, capacitada e afim de trabalhar.

Ou asssim esperamos :)

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Roger McNamee

Roger McNamee foi de entusiasta e mentor do Facebook a um dos seus maiores críticos nos últimos anos.

Ele trouxe para o SXSW sua visão tanto da relação com o “young Zuckerberg”, quanto da pesquisa que culminou no lançamento do livro “Zucked”. E convenientemente, pôde falar poucos dias após o comunicado do novo momento do Facebook.

Segundo ele, no início, Zuckerberg tinha encontrado o “holy grail” da criação de uma rede social, que era a autenticação de identidade. Primeiro com endereço de e-mail de Harvard, depois com nome e sobrenome. Isso impediu que o ambiente fosse dominado por fakes e trolls, e afastasse as pessoas.

Mas essa grande sacada não foi necessariamente acompanhada de um modelo de negócios ou de um sistema de valores claro e correto.

Enquanto era uma plataforma para faculdades, era divertido e tudo bem. Mas a grande questão foi que as redes sociais se tornaram globais e gigantescas, antes que as falhas de negócio e de ética começassem a aparecer. E aí já era tarde.

“You get to 7 billion active users before it was clear that there was something wrong with the model.”

Historicamente, o Facebook sempre acreditou que era só pedir desculpas e seguir o jogo. E durante muito tempo, ninguém estava observando atentamente para ver o que estava acontecendo de fato. Mas agora que todos os olhos estão em Zuckerberg, as regras mudaram.

O business do Facebook é a confiança. Por isso as tentativas de afirmar que “Facebook é uma plataforma, e não uma empresa de mídia” não fizeram diferença — uma vez que as pessoas perdem a confiança, “you’re screwed”.

Então, Roger começou a falar sobre outro dos assuntos chave do SXSW: não é uma questão só do Facebook. O problema é endêmico em um mundo onde os modelos de negócio rastreiam pessoas, se apossam dos seus dados pessoais, usam eles para prever comportamentos e aí levam essas pessoas a resultados que tornam as suas próprias previsões mais válidas.

Nó na cabeça? Sim. Realidade em que vivemos hoje? Também.

Por isso, é importante termos uma conversa aberta e franca sobre a legitimidade de empresas (ou pessoas) fazem negócios com base na venda, troca ou aquisição de dados privados de outras pessoas sem a permissão específica para aquela transação.

“I wanna find out where the lines are. Where are the terms for when it’s okay?”

Em conclusão, sobre o Facebook, ele volta ao ponto de que não é sobre o Mark ou a Sheryl especificamente, e sim sobre esse modelo de negócios. Mas que se eles quiserem se responsabilizar e causar uma mudança real, eles podem causar 100 vezes mais impacto positivo repensando a sua empresa, do que criando uma fundação.

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Beatriz Guarezi
Bits to Brands

estrategista de marcas, curadora de conteúdo e escritora de e-mails. criadora da newsletter Bits to Brands. assine em http://www.bitstobrands.com