RD Summit 2018: Quando o storytelling encontrou o “storydoing”

O RD Summit 2018 deixou muito claro para mais de 10 mil pessoas que para falar, tem que antes saber fazer.

Beatriz Guarezi
Bits to Brands
4 min readNov 14, 2018

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Empreendor de palco. É assim que é taxado aquele tipo de pessoa que reúne milhares de seguidores, dá palestras no Brasil inteiro, cobra fortunas por programas de coaching, mas na prática, tem muito pouco ou quase nada a acrescentar.

É frequentemente visto em postagens motivacionais no LinkedIn, em anúncios de metodologias “de Harvard” adquiridas em cursos online de duas semanas, e, claro, nos mais diversos tipos de evento.

Menos no RD Summit 2018. Pelo menos, não que eu tenha visto. Pela primeira vez em muito tempo, pude presenciar os mais diversos tipos de speakers e de histórias, mas todas tinham a mesma coisa em comum: autenticidade.

Mérito da produção do evento, que cria uma atmosfera tão incrível dentro daquele espaço que facilita com que a gente se conecte ao conteúdo e ao palestrante. Mérito da curadoria de conteúdo, que acertou em cheio ao convidar pessoas com histórias interessantíssimas para contar. E mérito dos palestrantes que eu pude assistir no terceiro dia de evento que, cada um a sua maneira, trouxeram muito de si e do que vivem na prática — e zero bullshit.

Foram eles:

Liliane Ferrari,

que ao invés de somente falar sobre storytelling, mostrou exatamente como se faz, com o seu projeto #HumanosdoRD. Ao melhor estilo Humans of New York [o melhor projeto de conteúdo dos últimos tempos], ela retratou rostos e histórias pelo evento, de todo tipo. Da astronauta da NASA, ao CEO servindo chopp e o segurança que adora trabalhar no RD Summit.

Ao usar esse tipo de storytelling para despertar interesse, humanizar e se conectar com as pessoas, ela deu vida ao seu próprio conteúdo. #goals

Glória Maria,

que foi um show à parte. Olhando somente para os slides, ela mostrou frases motivacionais simples, uma atrás da outra. Mas Glória é uma daquelas poucas pessoas que podem falar em “ter ousadia” e “dar um passo de cada vez” com extrema propriedade. Ela tem documentadas diversas aventuras que demonstram cada um desses valores, e as dividiu com as mais de 5 mil pessoas em formato de vídeos e histórias.

Se ela passou somente uma hora contando os bastidores e lições de algumas das suas experiências, poderiam facilmente ter sido 4 horas. A plateia permaneceria igualmente hipnotizada.

Fernando Kimura,

cuja palestra no RD Summit eu estava assistindo pela terceira vez. Desde o meu primeiro Summit, gostei muito da maneira com que ele constrói as ideias — da ironia, dos slides, dos insights, das cantorias.

Fui pega completamente de surpresa esse ano quando ele apagou toda a plenária para mostrar um vídeo sobre diversidade na comunicação, e na sociedade. Ao som do fortíssimo refrão “não recomendado a sociedade”, ele provou que esses ainda são universos distantes um do outro, e muito distantes do ideal.

E sendo aplaudido de pé, apareceu “censurado”, se exibindo como prova viva desse preconceito que é real e enraizado. Mais real, vulnerável e autêntico que isso, impossível.

Gustavo Kuerten,

que dispensa apresentações e mostrou para gente do Brasil inteiro a essência de Florianópolis. O sotaque cantado, a espontaneidade, o nosso jeitinho querido que ele representa como pouquíssimos. Para fechar o evento mostrando que o que você fez ainda vale mais do que os slides que você é capaz de construir, Guga não tinha slide nenhum. E carisma de sobra.

Se tinha 40 minutos pra falar, falou 1h30 e se deixasse, ficaria contando histórias em cima do palco pelo resto da noite. Abraçou as pessoas, circulou pela plenária, dividiu histórias de fazer rir e também de fazer chorar.

Gente que fala do que realmente viveu. Que tem história pra contar, e não somente conceitos para compartilhar. Que é capaz de engajar por aquilo que é de verdade, e não por uma versão formatada da sua vida.

No RD Summit 2018, esses foram os protagonistas.

Ninguém precisa cultuar o workaholic, ler histórias mirabolantes sobre produtividade ou assinar para receber receitas “high-stakes-inovadoras”.

Em um mercado de tantas vozes e, consequentemente, tanto ruído, o que a gente precisa é que as verdadeiras se sobressaiam. É assim que a gente aprende, é com esses exemplos que crescemos de verdade, e é nesse mercado que vale a pena fazer conexões.

Que assim seja em todos os eventos.

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Beatriz Guarezi
Bits to Brands

estrategista de marcas, curadora de conteúdo e escritora de e-mails. criadora da newsletter Bits to Brands. assine em http://www.bitstobrands.com