Sobre as realidades que vivemos

Diferentes jeitos de enxergar, interpretar e, consequentemente, viver a realidade.

Beatriz Guarezi
Bits to Brands
3 min readMar 19, 2020

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Fonte: artigo "Shared objective reality", do Seth Godin

Este artigo é baseado em outro, do Seth Godin, que explica os diferentes jeitos de enxergar, interpretar e, consequentemente, viver a realidade.

Segundo ele, há duas dimensões para a realidade: cultural ou objetiva e individual ou compartilhada.

Quando se cruzam, elas criam quatro formas de interpretar os fatos e viver em sociedade.

A realidade compartilhada objetiva é aquilo que temos coletivamente como fatos, comprováveis por evidências claras: o sol nasce e se põe, as estações do ano são quatro, a Terra é redonda (desculpa terraplanistas). Em regra, eles são os mesmos para todo mundo.

A realidade compartilhada objetiva é consistente. Não importa em qual grupo estejamos ou quem são nossos líderes. Nós não precisamos confirmar com alguém antes de decidir se o que está na nossa frente é verdadeiro ou falso.

Enquanto isso, a realidade compartilhada cultural se baseia no que acreditamos basicamente porque todo mundo acredita, naquilo que exige certa argumentação: noivas usam branco no dia do seu casamento, cachorros são animais de estimação, vacas são fonte de alimento. Aqui, a coletividade não é geral, e sim de grupos menores — divididos por cultura, classe social, origem, nacionalidade..

Uma realidade cultural compartilhada pode se manter relevante por muito tempo, porque não há um consenso de para onde a bússola moral aponta. E o contexto muda o tempo inteiro.

Nossas realidades objetiva e cultural se sobrepõem e frequentemente se contrapõem. O que sempre foi origem de inúmeros conflitos.

Tem gente que acha que se algo for cultural o suficiente, esse algo sobrepõe qualquer objetividade. Da mesma forma, tem gente que acha que se algo é inegavelmente objetivo, não pode ser influenciado por crenças ou percepções.

Acrescentando a essa equação mais de uma década de compartilhamento e bolhas formadas nas redes sociais, temos o caos de desinformação que vem impactando desde a saúde pública até a eleição de grandes líderes mundiais.

Qualquer coisa é capaz de se tornar uma realidade compartilhada cultural se tiver compartilhamentos suficientes nas redes sociais.

Quer um exemplo recente? Fazer estoque de papel higiênico.

Não há qualquer explicação racional por trás da necessidade de acumular rolos e mais rolos de papel higiênico durante o isolamento social do COVID-19, mas lá estão as pessoas: esvaziando prateleiras pelo mundo todo.

Cada vez mais compartilhada, boa parte das informações busca não só polarizar questões culturais, mas também insiste que a realidade objetiva por trás dessas questões não é real. Ao atingir seu objetivo de negar os fatos sobre os quais poderíamos concordar, ela nos faz regredir como sociedade.

Mas não dá para achar que a solução é vivermos somente no universo dos fatos e compartilhar uma realidade unicamente objetiva.

A realidade cultural importa. É ela que nos faz humanos e nos ajuda dar significado e importância para as coisas.

Vivemos em realidades diferentes ao mesmo tempo. Uns mais para um lado, outros para o outro do gráfico. Mas todos precisamos de ambas.

O desafio, especialmente agora, com tanta informação, desinformação e alarmismo, é garantir que cada uma dessas realidades cumpra o seu respectivo papel.

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Beatriz Guarezi
Bits to Brands

estrategista de marcas, curadora de conteúdo e escritora de e-mails. criadora da newsletter Bits to Brands. assine em http://www.bitstobrands.com