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Arte “O Devoto” por Zeroth Q-Ayin

“Um dialogo sobre satanismo entre mim e minhas sombras”

“De despedida em despedida, minha vida é uma eterna partida, um novo lugar, mas o mesmo céu as mesmas estrelas, o dia amanhece e a noite cai, muda o cenário, mudam os personagens, mas tudo é sempre igual, todos eles são como sepulcros caiados”.

“Para mim o mundo é um grande cemitério a céu aberto e eu me sinto como um vivo caminhando nos escombros da degeneração humana, caminhando entre túmulos vazios da mediocridade nascida do barro, da mesma forma uma boa parte do mundo me vê como um morto antiquado e indiferente vagando por ai”.

E talvez seja isso, talvez eu seja mesmo um morto vivo!

De fato á uma separação natural daquele que prova do fruto do conhecimento proibido que desperta o espirito dormente, ele morre para este mundo de forma que não importa por onde ande, ele sempre será um exilado, um desconhecido e estrangeiro, por mais que ele transite entre a sociedade ele não faz parte dela e se envolve com ela apenas para obter dela o necessário para seu próprio devir.

Talvez os únicos com quem um satanista seja 100% honesto seja com os seus iguais aqueles que ele encontra durante sua jornada terrena por esta terra amaldiçoada e que são possuídos pelo mesmo espirito subversivo, a misantropia satânica não é uma escolha ela é consequência deste divorcio entre o satanista e a mediocridade do mundo.

“As Lembranças de um lugar que deixei para trás são trazidas a consciência, um lugar onde tudo era gozo e eu era o ápice, o topo de todas as coisas, de todos os paradoxos, onde eu era as profundezas de tudo e onde eu era o nada, o vazio ilimitado em mim mesmo, sagrado e imaculado, o mar das trevas sem fim”.

Em alguns momentos em minha jornada eu pude experimentar essas memórias em fagulhas de “lucidez”, talvez toda a minha jornada sob este chão Seja pautada nisso, sinto como se eu estivesse juntando meus pedaços, como se eu fosse um quebra cabeças. Muitas vezes encontro em outros ao longo do caminho partes quebradas de mim mesmo, isto se torna compreensível quando se entende que as fagulhas do espirito estilhaçadas pela criação foram espalhadas por vários receptáculos de barro. Ou seja, podemos encontrar em outros indivíduos partes do nosso próprio espirito, quando isto acontece, surgem organizações, satânicas covens e afins.

Por vezes retorno à lugares do passado para concertar algo que foi quebrado, para abrir aquela porta que eu não possuía a chave, tudo parece uma eterna “Via Crucis” pavimentada de espinhos, onde deixo partes de mim em cada encruzilhada, quebrando regras, indo contra tudo que me restringe mesmo quando tudo é incerto e o amanhã pode não chegar.

Percebo que este caminho é um caminho para aqueles que não temem o abismo, para aqueles que não temem dar tudo de si , mesmo que falhem, falharão com a certeza e a glória de ter tentado, de não ter fugido diante dos desafios que a vida impõe, fugindo do conforto se submetendo a desafios cada vez maiores a fim de conhecer seus próprios limites e supera-los.

“Transcender a mim mesmo esta é a minha religião”, me tornar como a Hidra e crescer na adversidade, para cada cabeça decepada duas cabeças furiosas se levantam”

“Em cada cicatriz uma vitória, a certeza que fui mais forte do que aquilo que tentou me ferir e me parar, Cicatrizes… Eu tenho colecionado centenas delas”.

Este é o motivo pelo qual ao retratar Satanás ou o mestre Qayn, quase sempre eles aparecem flagelados ou com cicatrizes, com flechas e outras armas transpassando sua carne, ele pode ser eu, pode ser você, a senda Luciferiana é está:

“Que te torne como os deuses a quem te ajoelhas, mas com violência lhes usurpe o trono, está não é uma via de submissão cega e sim de apoteose transcendental”.

Este é também um dos motivos pelos quais eu retrato Lúcifer sem cabeça ou sem rosto, com fogo jorrando de suas entranhas, isto pode significar muitas coisas, uma delas é exatamente esta, ele pode ser você, ele é o mistério da bem aventurança do espirito é aquele que porta o archote da sabedoria libertadora e que compartilha com aqueles de sua linhagem as bênçãos
que os arcontes ocultaram da criação.

Em outras palavras você deve se tornar como ele a sua imagem e semelhança, andando na contra mão do mundo sem olhar pra traz, e isto é muito lindo de se dizer, mas muito difícil de viver.

As pessoas criam muitas fantasias em suas cabeças e ideias tortas sobre o que é ser mão esquerda, quando não acabam caindo na idolatria cega e aleijada de pessoas ou organizações, acabam perdidos nas vias do hedonismo burguês e pacifico apoiados em muletas, gurus, exaltando toda sorte de vícios, exaltando a fraqueza e menosprezando a virtude.

Ora no atual mundo desvirtuado e caído ser virtuoso é algo extremamente difícil e satânico Portanto a Lealdade, a fraternidade entre iguais a coragem e a disciplina se fazem totalmente necessários.

“Se desejamos o caos, a ordem deve primariamente prevalecer em nossas fileiras.”

(Liber Azerate)

Ser mão esquerda não é ser famoso, não é ser rico, ser mão esquerda é ser um adversário, um adversário de si mesmo e de tudo que o restringe, por exemplo: Se você é um satanista rico talvez os obstáculos que impedem o teu avanço, ou seja, as restrições a ti impostas sejam as suas posses e bens, portanto se submeter de forma consciente a situações de desconforto e perigo pode ser a solução para desobstruir seu caminho.

Essa é a essência do satanismo transcendental, o verdadeiro satanismo, é transcender tudo aquilo que é grosseiro é o lapidar de si mesmo, é tornar-se o estandarte e a bandeira de tudo aquilo que Satanás representa, é estar na linha de frente e isso não significa que você será bem sucedido, que pessoas vão te adorar e te idolatrar.

Por isso, acredito que este é um caminho tão solitário e triste que a maioria das pessoas podem enlouquecer, pois o confronto eminente com sigo mesmo é uma constante, o confronto com suas próprias sombras, vícios, a falsa vontade, os confortos e prazeres ilusórios que manipulam constantemente a nossa vontade nos tirando de nos mesmos e sufocando a voz do espirito.

O satanista provado é aquele que já foi exposto às situações mais adversas, que já foi despido e açoitado, mas a quem as circunstancias mais extremas não dobraram, ele entende que mesmo que ele perca tudo, todos os seus bens materiais, seu condicionamento físico ate mesmo algum dos seus sentidos, nada poderá tira-lo de si mesmo, nenhuma situação pode mudar quem ele é e seu julgamento sobre tudo que acontece a sua volta.

Muitos querem romantizar o satanismo como se o satanista vivesse em um mundo paralelo um mundo magico e colorido como um jogo de Rpg mas no jogo da vida não existe vida extra, na verdade o satanista vê as coisas como elas são em essência e não pela sua aparência ilusória.

Este é o olho do dragão que vê além de tudo que é grosseiro e superficial o dragão possui a visão do alto, e é através dos olhos do espirito que o satanista enxerga o mundo, forma abrangente e panorâmica, a águia como animal de poder também carrega este simbolismo de visão porem na maioria das vezes é aplicada apenas a coisas mundanas.

Um diamante tem valor mundano suficiente para mudar a vida de uma pessoa, também valor o suficiente para que alguém possa tirar a vida de outrem, mas apesar de toda sua beleza, resistência e sua supervalorização, um diamante é só uma pedra, e talvez o satanista se inspire muito mais em sua dureza e resistência de forma filosófica do que se sinta atraído pelo seu
valor mundano.

O Satanista muitas vezes vive a margem da sociedade e do mundo moderno e talvez nem mesmo eles gostem desta nomenclatura, na maioria das vezes são vistos pela sociedade pós-moderna e seus lacaios de barro como criminosos misantrópicos e podem estar em grupos extremistas, gangues locais, torcidas organizadas, academias, grupos de artes marciais, andar em bandos, frequentar algum coven ou organização.

Mas isto não é via de regra e ainda assim o satanismo é um caminho solitário e na maioria das vezes o satanista estará só, desolado e nem mesmo o céu ou o inferno intervira em sua jornada iniciática e probatória.

“As rosas são belas, mas são os espinhos que nos ensinam as lições mais preciosas e este não é um mar de rosas, é um turbilhão de navalhas”.

Por vezes a melancolia, a desilusão, a solidão e a dor tem sido minha principal fonte de inspiração, é na adversidade que o satanista transmuta o veneno em antidoto, é na queda que ele se faz forte, é no fundo do poço que ele encontra as águas amargas da sabedoria que corroem a ignorância de dentro para fora.

A dor de certas situações que enfrentamos é o fogo que expurga a fraqueza, Satanás é o pai dos flagelados senhor das cicatrizes, mas não daqueles que aceitam os acoites calados e inertes, mas daqueles que se alimentam da dor e a usam para transcender os grilhões do destino cósmico, daqueles que usam o fogo da adversidade, (O fogo Adversário) para subjugar os seus próprios vícios e suas próprias fraquezas. São os filhos da tormenta, esta é a verdadeira linhagem da serpente real, e talvez o párea possa ser mais satanista do que a maioria dos satanistas engessados de apartamento que usam esta nomenclatura.

Assim como Qayn e nossa Santa Qalmana coroada de rosas, eram exilados deste mundo experimentando a maldição do tirano criador, o satanista também experimenta o exilio e divorcio do mundo ”Sua coroa de espinhos”. E assim como as armas de Qayn e Qalmana para transcender as consequências de sua maldição foram os sussurros do espirito que os instruiu na arte sagrada da bruxaria, da mesma sorte o satanista possui como arma o mesmo espirito, o seu fogo interno “A chama negra acausal que deve ser o seu farol espectral para enxergar além das formas ilusórias emanadas da falsa luz branca.

O satanista é seu próprio salvador seu próprio messias, seu próprio adversário e ao contrario das ovelhas que tentam se unificar ao seu criador através da reintegração e redenção o satanista paga o preço de sua queda da graça da ignorância cósmica, assumindo total responsabilidade de si mesmo de seus erros e acertos tornando-se assim “Adam Belial”(O homem sem deus) assim exilado da graça de deus ele á a imagem e semelhança de Satanás.

“Ad Majorem Satanae Gloriam, nossa vontade é a lei nossa lei é o caos!”

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Fraternitas Arboris Nigra

FRATERNITAS ABORIS NIGRA é uma tribo Luciferiana-Satânica, gnóstica e feiticeira com o propósito de disseminar as fórmulas de devoção do Dragão da Escuridão.