Tópicos em Design Contemporâneo? Uma revisão–reflexão–relato–convite

Daniel Marques
blackbox | design unifacs
5 min readApr 1, 2016

Curiosamente, a perspectiva de editar uma publicação com a participação/colaboração dos estudantes de design sempre apresentou-se enquanto uma vívida possibilidade na disciplina de Tópicos. Passados 2 anos, desde que assumi a assumi — bem como o ofício de professor do magistério superior –, finalmente posso ver esse projeto tomar corpo.

Muito foi feito nesses últimos dois anos, no âmbito de Tópicos. O que iniciou-se enquanto um espaço de discussão multidisciplinar sobre design acabou tornando-se muito mais. É, inclusive, uma tarefa hérculea tentar narrar o processo, marcado por diferentes personagens, ditados, expressões e questões tão singulares. Cada turma teve, em particular, um impacto significativo sobre a continuidade e relevância da disciplina. Cada turma possibilitou o tensionamento do que compreendo, em si, como a definição de tópicos em design contemporâneo.

Dissercar a expressão em si, nesse caso, pode ser frutífero. Tópicos aparece, enquanto disciplina, no 7º semestre da antiga grade (2008) do bacharelado em Design. Seu objetivo, como componente curricular, é propiciar aos estudantes um espaço de discussão atento a questões relevantes à contemporaneidade, estabelecendo links e interfaces com a área de design per se.

A primeira problemática apresenta-se nessa definição. Delimitar tópicos e temas que buscam uma interface com o design requer, impreterivelmente, uma definição clara e precisa do que compreendemos enquanto design. Essa tarefa, por si só, é de extrema complexidade, e permitira o desenvolvimento de uma disciplina específica para tal.

(Sentindo essa necessidade, formulamos a disciplina “Fundamentos do Design”, presente no 1º semestre da nova matriz do curso de Design | 2015)

Bom, já que iniciamos o processo com uma definição difusa de design, há uma complicação ainda maior na perspectiva de delimitar o design contemporâneo.

Nesse sentido, não há aporte teórico — nem empírico– forte o suficiente para colocar um fim irrevogável à discussão. Nenhum, em particular, dialoga com a realidade vivida pelos componentes do espaço de Tópicos: corpo docente e discente.

A delimitação dos tópicos é realizada no sentido de auxiliar o grupo envolvido (docente e discentes) a tentar vislumbrar uma melhor compreensão do que percebemos enquanto o design contemporâneo.

Ora, se não conseguimos definir de forma clara e precisa a área de conhecimento, vamos tentar perceber sua definição através dos seus reflexos nos outros fenômenos.

Podemos não conseguir –ainda, ou talvez nunca– delinear precisamente o campo do design, mas faremos o esforço e observar seus reflexos e consequências nos diversos âmbitos da compreensão humana.

Cada delimitação de tópico, ou tema, portanto, reflete não só a necessidade de explorá-lo individualmente, mas também a necessidade de compreender os efeitos que a prática do design produz nesse âmbito. Para além disso, também percebemos a necessidade (consciente ou não) que move os estudantes a determinados temas.

Enquanto docente, é muito difícil expressar em texto as experiências que passei, junto aos estudantes, no espaço que Tópicos constrói dentro da saula de aula.

Admito que o projeto inicial era — e continua sendo — ousado. Engajar o corpo estudantil na discussão de temas controversos na contemporaneidade não é fácil, principalmente quando essa discussão requer o conhecimento de causa de fenômenos e autores, livros e artigos. Muitas foram as tentativas de guiar discussões com um escopo teórico limitado, como também muitas foram as surpresas que emergiram de discussões espontâneas, e esse é um grande ensinamento.

Ao mesmo tempo em que a erudição é de grande relevância dentro do contexto da disciplina, o espaço é majoritariamente construído por pessoas. Pessoas essas com diferentes backstories, diferentes visões de mundo, diferentes experiências com o mundo. Ora, de que vale a discussão sobre indústria cultural (por exemplo) sob um ponto de vista estritamente teórico?

Não quero, nesse sentido, diminuir a relevância do aprofundamento teórico dos temas na perspectiva da disciplina. Contudo, a teoria nos ajuda a compreender os fenômenos que nos circundam. Mas a compreensão dos fenômenos pressupõe, antes de mais nada, o confrontamento com o próprio fenômeno. É isso que encorajamos em Tópicos, principalmente no que tange temas controversos e que afetam, objetivamente e subjetivamente, a história de vida dos participantes.

Tópicos me alegra, tendo em vista o quão grandiosa é a possibilidade de observar determinados fenômenos a partir de uma perspectiva terceira e, além disso, perceber o desenvolvimento coletivo do olhar.

Fui questionado, diversas e diversas vezes, ao longo desses últimos dois anos, sobre os resultados, as possíveis respostas para as questões levantadas em aula. Seria muito leviano da minha parte, contudo, colocar sobre os estudantes — e sobre mim mesmo –, a responsabilidade de encontrar respostas para questões complexas que afetam a sociedade (ou tecido social, como prefere Thalis) contemporânea, bem como seus fenômenos culturais e suas interfaces com o design.

O resultados das discussões estarão refletidos aqui, nessa publicação, cujo nome é propositalmente blackbox.

Nosso objetivo é abrir as caixas pretas, negar as verdades absolutas.

Nesse sentido, gostaria de finalizar essa breve contribuição inicial com um convite. Para todos aqueles que já conviveram nesse espaço, para todos aqueles que identificam-se com o espaço. O blackbox é um espaço de questionamento, limitá-lo ao escopo da disciplina seria um paradoxo inaceitável, daqueles que discutimos em Tópicos.

Assim como meu espaço de aula está sempre aberto para os curiosos (bem como para aqueles que, por acaso, estão na sala), o blackbox também sempre estará, a prerrogativa é desconstruir para construir.

d. marques

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