Thaís Pires Carneiro
Blend_Juicing Ideas
6 min readMay 12, 2016

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"EMPODERAMENTO FEMININO" is the new "SUSTENTABILIDADE"

Fonte: WGSN Report

O mundo está sempre em movimento. As relações se transformam, os espaços geográficos, físicos e o comportamento humano ganham a cada dia um novo contorno, uma forma diferente de operar e ser operado. Estamos sempre num eterno ciclo de ação e reação. O nosso comportamento responde às demandas latentes, e vice-versa.

Uma tendência não nasce do nada, muito menos um padrão de comportamento. É tudo construído por nós, em nós e pelas forças externas de transformação do mundo e da nossa relação com o tempo presente.

Pareceu um parágrafo um pouco filosófico, mas este é o ponto de partida para elaborar e construir a minha ideia de que temos urgência de ressignificação dos valores e propósitos expostos por marcas e negócios atualmente.

Nós já debatemos por aqui o papel da publicidade como importante ferramenta social. Se definimos muitas vezes aquilo que somos através das coisas que compramos, a propaganda se torna uma gigantesca plataforma de comunicação, capaz de promover reflexão, repensar e reciclar atitudes e de criar e estabelecer novas conexões e paradigmas.

Acredito ser de comum acordo a sensação de sermos varridos por “tsunamis temáticos”. Há um tempo atrás fomos engolidos pela ideia de que, para sua marca sobreviver às transformações do mundo, ela deveria se tornar sustentável. Sustentabilidade era o futuro. Como uma empresa pode sobreviver se ela só pensa em lucro? Qual seria a contrapartida dela para o mundo?

Pronto, a fórmula do bolo estava pronta. As tendências apontavam para isso, o consumidor também queria isso. Vamos adotar a sustentabilidade como um pilar importante do negócio, pois isso vai gerar vantagem competitiva. Era praticamente impossível você não se impactar pelo tema. Todas as empresas, marcas, ações de marketing traziam em seu âmago a ideia de sustentabilidade.

Fonte: WGSN Blog

Mas a execução foi pelo ralo. Observamos um over dimensionamento conceitual do termo “sustentabilidade”, mas com péssima execução pragmática de negócio.

Vimos as marcas se apropriando do conceito de forma vazia, apenas para estarem alinhadas com a nova “onda” do momento e absolutamente distantes do próposito real e urgente de se promover um reset sustentável no modelo operacional do negócio.

Vamos criar uma campanha incrível de consumo consciente, para as pessoas não comprarem em excesso e ajudarem na questão do acúmulo de lixo. Vamos trocar copos de plástico por copos de vidros. Vamos criar alguma ação que iremos reverter parte da verba para replantarem árvores na Amazônia. Ou melhor, vamos trocar os papéis da impressora por papéis reciclados, pois assim podemos assumir uma postura ecológica e podemos pôr no nosso site que adotamos políticas sustentáveis, certo? NÃO.

Não estou sugerindo que essas pequenas ações não contribuam para amenizar a situação, são válidas, é claro. Mas quando são adotadas apenas para satisfazer a vaidade de se estar por dentro de uma tendência como estímulo de sobrevivência, acabam por esvaziar e banalizar movimentos extremamente importantes de serem refletidos e executados na base operacional do negócio e por toda uma sociedade.

Ninguém aguenta mais falar de sustentabilidade. Virou default, é o mínimo que se espera de qualquer empresa, marca ou negócio. Já enjoamos do tema e nem se quer avançamos 10% em sua potencialidade.

Somos caracterizados pela era do consumo e o modelo de produção vigente é linear: ou seja, extraímos matéria prima, criamos, produzimos, vendemos e descartamos. Estamos com um problema grave de excesso de lixo e produtos excedentes. Se estamos percebendo que o mundo está demandando posturas mais eficientes, de que forma a sustentabilidade pode trazer uma inovação disruptiva, que não vire apenas discurso publicitário?

O tema sustentabilidade trouxe muito espaço de reflexão, e nos atentou para a importância da economia circular. Se vamos continuar produzindo e se vamos continuar comprando, porque não tentamos fazer com que as fases do processo tenham um efeito em cadeia: extrair/re-plantar, produzir/re-utilizar?

Fonte: goodonyou app

É claro que não é tão simples reestruturar toda a linha de produção ou repensar a base de uma negócio que já está funcionando a todo vapor. Mas vamos ser um pouquinho mais verdadeiros com o que projetamos para o mundo, com a realidade da empresa, da marca e com o que de fato ela pode oferecer de contrapartida que deixe qualquer tipo de educação e legado.

Já tem muitas marcas e empresas liderando movimentos legítimos, eficientes. Você não precisa virar nenhum santo e nem deixar de lucrar por isso. Marcas de cosméticos, roupas, modelos de negócio, espaços de co-working, até mesmo departamento de RH (exemplos abaixo). Nunca se falou tanto em Social Business, em reuso, em produtos sem químicas, cruelty free, entre inúmeras outros assuntos onde comprovamos que a sustentabilidade não esta fora de moda, sua marca que talvez não soube utilizá-la de maneira certa: você perde com isso, o mundo também.

fonte: Ecoalf

A mesma coisa sinto com o tsunami da vez: a enxurrada de ações, frases, campanhas, produtos acerca do tema “empoderamento feminino”. A onda da vez é embalar toda e qualquer oportunidade em prol da libertação feminina, o que não tem nada de errado e é super legítimo. Mas, estamos sendo responsáveis com o conceito? Estamos reproduzindo da forma correta? Já de começo, chutaria que não. Ninguém empodera ninguém. O que marcas, empresas e movimentos promovem é a criação de espaços para diálogo, reflexão, ou até mesmo manifestações dos valores e sentimentos envolvidos àqueles que se sentem oprimidos ou pouco capazes de mudarem suas realidades, é a possibilidade de auto-empoderamento, projeção.

Fonte: WGSN Report

Você pode criar uma campanha incrível que fala sobre a ascenção das mulheres no mercado de trabalho ou de ocuparem cargos que antes eram apenas destinados para os homens, mas de que forma isso se reflete para dentro da sua empresa? Uma marca de beleza pode colocar uma campanha com mulheres de todas as origens, ou lançar uma linha de produtos destinadas a mulheres afro, mas como isso se reflete para dentro? A ideia está de fato sendo representada e assimilada por aquela empresa, na contratação de seus funcionários, na sua filosofia? ou vamos voltar de novo para a ideia de apropriação de discurso?

Fonte: Instagram

Não podemos esvaziar jamais o potencial de uma utopia ou o poder dos movimentos acerca de uma tendência. Afinal, se está pulsando, é porque já é resposta de algo que nós consumidores estamos exigindo. Mas temos que liderar esses movimentos de forma mais inteligente, de forma mais verdadeira. Sem oportunismos imagéticos e de discurso.

Fazer antes de querer ser.

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