Geração ‘Busy’

Thaís Pires Carneiro
Blend_Juicing Ideas
5 min readJan 19, 2016
Créditos:Photo : WikiCommons

Eu tenho um palpite. A palavra do ano vai ser: TEMPO.

Não é de hoje que venho me questionando sobre o Tempo, ou se até mesmo sabemos o que é o Tempo.

Após 6 anos de trabalho rotineiro e com o sentimento latente de que a vida estava passando pela janela, resolvi (mesmo que na marra) me reinventar, arriscar. Saí da estabilidade do trabalho fixo para me aventurar na vida de autônoma, para criar algo mais autoral, que limpasse de mim essa sensação de tempo perdido. A primeira coisa que pensei foi: bom, agora vou ter tempo para fazer tudo aquilo que queria quando não tinha tempo.

Mas logo de começo, nesses primeiros passos de uma nova dinâmica de vida, tudo que mais senti era que não tinha Tempo. Pior, tinha menos tempo ainda que antes. Foi quando percebi que, o problema do tempo era meu, estava em mim. Pela primeira vez consegui entender na prática que nós habitamos o tempo e não o espaço.

As nossas escolhas determinam nossas atitudes dentro de um determinado espaço. O resultado delas é que determinam nossas memórias e a noção de tempo.

Vamos ao fato: não temos como falar de Tempo sem refletir sobre as transformações geracionais e comportamentais que estamos vivendo nos últimos anos.

Créditos: Luciano Lozano

Enquanto a ‘Geração X’ batalhava por estabilidade e valorizavam carreiras duradouras, as gerações seguintes (Y,Z…) almejam acima de tudo a busca pela felicidade, se dedicar a algo que tenha propósito.

Até aí não vejo grandes problemas, desde que o mundo é mundo as gerações mudam, se transformam. O que a gente não sabia ou não dimensionávamos é o quanto que o avanço tecnológico iria impactar de maneira visceral nosso jeito de se relacionar com o Tempo.

A tecnologia desfragmentou ainda mais o tempo, ou melhor dizendo, reduziu os limites e as fronteiras da nossa relação com o tempo.

Estamos há alguns anos passando por várias micro-revoluções comportamentais ocasionadas pelo desenvolvimento tecnológico. O crescimento é e continuará sendo por um bom período exponencial.

Mas o que isso significa?

Estamos mudando nosso jeito de operar. Não estou fazendo uma leitura negativa da tecnologia, ela trouxe muita coisa positiva, nos permitiu diminuir as distâncias, amenizar saudades, achar semelhantes, registrar, fotografar, armazenar deliciosas e preciosas lembranças. Permitiu o avanço da medicina, o ativismo virtual, entre inúmeras outras formas de interagir e aproximar pessoas e boas ideias pelo mundo. Do Ipod revolucionário ao Facebook, Uber, Indiegogo, Waze, Airbnb, Netflix, Whatsapp, Spotify, realidade aumentada, robôs, inteligência artificial, uow, a lista facilmente não teria e nem terá fim.

Mas junto de tantas facilidades algo me diz que o excesso nos invade, nos atrofia. Somos diariamente ‘inseridos’ e distraídos por estímulos virtuais, quer você perceba ou não. E o problema desse tipo de conduta é que não temos controle do seu impacto no nosso tempo, e diria até mesmo em nossa intuição.

Ninguém me pergunta se eu posso falar antes de me mandar mensagem no Whats app. Pisquei e pronto, está la no meu celular o pedido da minha mãe para desmarcar a faxineira. A situação agora está comigo e eu nem mesmo desejei ela. Ponto a menos para o meu tempo. Ninguém mais consegue gravar nome de ruas, telefones e endereço, senso de direção para quê? O Waze faz, o Google faz. Ponto a menos para nossa memória e intuição.

O tempo todo nos deparamos com a vida do outro, com assuntos que sem querer nos invadem, mesmo quando não queremos ser invadidos: uma soma sem fim de imagens, filtros e avatares. De tarefas, problemas, desejos, ilusões. Facilidades que cabem na nossa mão, dentro da tela de um smartphone ou de um computador e que despertam em mim tantas e tantas crises de ansiedade.

A sensação é que você está sempre atrasado, sempre desatualizado, sempre devendo alguma coisa em algum lugar, nem que seja uma atualização de IOS. Você está sempre em dívida, ligado, disponível, acessível, alcançável.

A nossa geração está BUSY. Superestimulada.

Talvez aí eu fundamente todo o meu discurso sobre o tempo. Numa era de tantos estímulos, quem tem Tempo para si é rei. E ter tempo não significa se excluir da interação com o mundo, mas resgatar de alguma forma o equilibrio entre o nosso ser X o mundo virtual.

Créditos: Insighttimer

Saber conectar, mas também desconectar. Entrar em contato com outras formas de lazer, ler um livro, se permitir se perder nas ruas sem que o Waze te ache. Ouvir um bom som, balançar na rede. Deixar a cabeça funcionar um pouco, ou quem sabe parar e não fazer absolutamente nada por um bom tempo, por quê não?

Precisamos urgentemente exercitar o cérebro, aguçar a intuição e preservar — acima de tudo — a natureza humana.

Minha sugestão é bem simples: façam boas escolhas e habitem da melhor forma possível o tempo de vocês.

Que venha 2016.

Leitura sugerida:

Pesquisas:

2015 Future Leaders Index | Busy, Stressed & Unhealthy

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