MASTERING SOLANA

A queridinha dos ‘VCs’

Block3 Research
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22 min readAug 30, 2022

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1. Introdução

Criada em 2017 por Anatoly Yakovenko e Raj Gokal como uma alternativa à blockchain da Ethereum, que sofre com problemas de escalabilidade, a Solana é uma blockchain pública que suporta smart contracts, incluindo NFTs e aplicações descentralizadas. Através de inovações tecnológicas como o Proof of History (“PoH”), permite transações em alta velocidade e com baixíssimo custo. Em 2021 a rede apresentou um crescimento expressivo e se consolidou como uma das principais layer1s do mercado, com diversas vantagens comparativas em alguns segmentos como games, NFTs e trading de alta frequência.

A Solana recebeu mais de U$ 335 milhões em aportes nos últimos anos, de alguns dos principais venture capitals do mercado, como a16z, CoinShares e Alameda Research, tornando-se um dos players mais bem capitalizados e posicionados entre as soluções alternativas de primeira camada. Com esses recursos criaram um braço de investimentos e pretendem também acelerar o desenvolvimento de aplicações descentralizadas na rede.

Dentre as iniciativas recentes podemos destacar a criação da Solana Pay, projeto desenvolvido em conjunto com a Circle e que irá permitir que comerciantes aceitem pagamentos em criptomoedas sem a necessidade de intermediários por uma fração do custo atual e a Solana Saga, o primeiro smartphone voltado para a web3 e que permitirá o desenvolvimento e integração de aplicativos desenvolvidos para a blockchain da Solana. Além disso, o Instagram anunciou recentemente uma parceria com a Solana e algumas outras blockchains para desenvolver seu projeto de NFTs.

A rede tem enfrentado alguns problemas nos últimos meses, ficando fora do ar por diversas vezes principalmente devido ao excesso de tráfego gerado por bots — como as transações são muito baratas, o volume é muito alto em alguns momentos e a rede acaba não suportando. Os desenvolvedores já estão trabalhando em atualizações para mitigar esses problemas nos próximos meses — é importante lembrar que, embora 100% operacional, a rede está em sua versão beta, portanto está suscetível a problemas dessa natureza e ainda está em desenvolvimento para aprimorar sua performance.

Como utiliza a linguagem Rust, a rede não é compatível com a Ethereum e, portanto, teve de desenvolver seu próprio ecossistema do zero. Apesar disso, a Rust é uma linguagem mais genérica do que Solidity (Ethereum), com a qual os desenvolvedores de web2 estão mais familiarizados, e pode trazer benefícios em termos de desenvolvimento no futuro. Vale destacar que recentemente a Neon Labs anunciou a captação de U$ 40 milhões para desenvolver um software que permita o desenvolvimento de aplicações compatíveis com o Ethereum (EVM) na rede da Solana.

O token nativo da blockchain Solana é o SOL, que serve para o pagamento das taxas de transação (“gás”) e para garantir a segurança da rede através do stake.

2. Arquitetura

A arquitetura da blockchain da Solana é semelhante à do Bitcoin, com apenas um conjunto de validadores e uma única chain. Além de ser o modelo mais testado atualmente (mais seguro), oferece um grau de “composabilidade” maior em relação aos modelos multi-chain (ex: Ethereum 2.0 e Avalanche) e soluções de segunda camada, pois a execução ocorre toda dentro de uma única cadeia — isso gera efeito de rede dentro do ecossistema, pois as aplicações podem interagir com as outras de forma mais sincronizada. A ideia principal da Solana é que a blockchain tenha uma performance similar à de um node único, e para isso focaram em melhorar a forma como os nodes se comunicam.

O core de sua tecnologia é o Proof of History (“PoH”), que funciona antes da etapa de consenso e é uma solução ao problema de contagem do tempo encontrado pelas blockchains atuais — como não podem confiar em fontes externas de informações, elas dependem da comunicação entre os nodes para chegar a um consenso que o tempo passou. Com o POH essa comunicação não é necessária pois cada validador possui seu próprio “relógio”, sendo possível determinar e verificar a ordem exata em que os eventos ocorreram através de um mecanismo chamado VDF (Verifiable Delay Function), que utiliza o algoritmo SHA-256 para medir a passagem do tempo — com isso, a rede consegue ser processada paralelamente por diferentes validadores.

A blockchain da Solana é dividida em slots, que representam quanto tempo um validador precisa para produzir um bloco. Os slots são criados em sequência (ex: slot 1: 0–5 segundos; slot 2: 6–10 segundos) e a rede seleciona os nodes líderes que serão responsáveis por eles através do mecanismo Proof of Stake. Cada líder, portanto, já sabe com antecedência qual slot está endereçado a ele e é responsável pela contagem do tempo para saber exatamente quando irá começar a produzir o novo bloco — como não há a necessidade de se comunicar com os outros nodes, a rede não precisa aguardar pois a rotação dos líderes ocorre de forma assíncrona (sem a necessidade de um evento terminar para iniciar outro). Isso difere das demais blockchains, que produzem os blocos de forma sequencial e aguardam a confirmação dos validadores para produzir o próximo. Posteriormente, os blocos são validados pelos demais nodes da rede e adicionados à blockchain.

Com o “PoH” os nodes líderes podem transmitir as transações para os demais validadores da rede em tempo real — com o conceito de contagem do tempo, os validadores sabem qual a ordem correta das transações e, portanto, não precisam esperar para validar um bloco de cada vez como é feito nas demais redes. Dessa forma, a rede consegue melhorar consideravelmente sua performance, com transações mais rápidas e custo mais baixo. O software da Solana foi desenhado para não interferir na capacidade computacional dos hardwares e, portanto, a rede consegue ganhar escala à medida que os hardwares ficam mais potentes.

Uma das principais críticas em relação a esse sistema é a centralização, uma vez que os líderes são responsáveis por contabilizar os votos dos demais validadores antes de adicionar os blocos à blockchain — no mecanismo da Ethereum e do Bitcoin o consenso é atingido entre os próprios validadores, sem a necessidade de um intermediário para contabilizar os votos

Os pré-requisitos para rodar um node na rede da Solana são superiores aos das demais redes, conforme mostra a tabela abaixo, o que ajuda a explicar em parte a sua performance superior, juntamente com sua arquitetura. Quanto melhor o hardware, maior o investimento necessário e, portanto, maior tende a ser a centralização da rede.

Fonte: Plataformas e The Block

Na tabela abaixo observamos que o total em stake, de cerca de U$ 12,8 bilhões, equivalente a 74% dos tokens em circulação — redes que possuem maior volume em stake são mais seguras/difíceis de hackear, pois é necessário um montante financeiro maior para atingir o mínimo de consenso.

Na análise da segurança da rede, comparar somente o número de validadores é muito simplista para avaliar a descentralização, é importante ver o grau de concentração deles — vários nodes podem ser do mesmo dono por exemplo. Difícil saber quem de fato controla esses validadores.

Fonte: Plataformas e The Block / *Validador com mínimo atual

O número de validadores da rede da Solana hoje é de 1.932 e têm crescido de forma expressiva (+ 40% em relação do final de 2021) — apesar de ser muito inferior ao da Ethereum, é a rede alternativa que aparenta ser mais descentralizada no momento. É importante não só avaliar o total de validadores como o grau de concentração deles, dado que vários nodes podem pertencer a um mesmo dono. Apesar de ser difícil obter esses dados, no mapa abaixo temos um indicativo do grau de pulverização desses nodes, pois a maior parte parece estar bem distribuída em regiões diferentes.

https://solanabeach.io/

A rede da Solana sofreu bastante nos últimos meses, ficando fora do ar por diversas vezes. O principal motivo para isso é o excesso de bots nos mints de NFTs — como as transações são muito baratas e com preço fixo, o volume de bots é muito alto em alguns momentos e a rede acaba não suportando. Na última baixa do sistema em 1 de maio, o tráfego chegou a 6 milhões de transações por segundo, bem acima do que a rede suporta hoje. As principais medidas que estão sendo adotadas para mitigar essas falhas são:

1- Execução priorizada pelos fees: Os usuários poderão pagar um fee adicional para priorizar suas transações, assim como acontece na rede Ethereum — isso reduziria bastante a atuação de bots.

2- Transações priorizadas por stake: Atualmente os líderes recebem transações de forma indiscriminada, independente da fonte — a ideia é que os nodes tenham o direito de transmitir um percentual semelhante àquele que possuem em stake, de forma que o restante da rede não possa sobrepassá-lo. Funcionará melhor em conjunto com o QUIC.

3- QUIC: Transição do protocolo UDP para QUIC, visando melhorar a transmissão de dados entre os nodes e os líderes e melhorar o controle de tráfego.

Anatoly Yakovenko, fundador da Solana, explicou recentemente através de um tweet (abaixo) os impactos da implementação do item (1) mencionado acima. De acordo com ele, a implementação dos fees não significa que toda a rede ficará mais cara, somente àquela transação em específico com alta demanda. Isso acontece porque os fees serão segregados por transação, diferentemente do que ocorre na rede Ethereum em que uma alta demanda por uma transação em específico (ex: mint de um NFT) eleva as taxas para toda a rede.

3. Tokenomics

A remuneração dos validadores é proveniente tanto da emissão de novos tokens (inflação) quanto das taxas de transação da rede — 50% dos fees são distribuídos e 50% são queimados. Nos primeiros anos a maior parte será via inflação, que será controlada por uma curva de inflação pré-estabelecida. É possível que uma parte dessa inflação seja endereçada para a Solana Foundation no futuro.

A inflação inicial proposta pela Solana Foundation é de 8% aa., com uma redução de 15% ao ano até atingir o patamar de longo prazo de 1.5% aa. O gráfico abaixo mostra a curva de inflação projetada para os próximos anos levando-se em conta os parâmetros mencionados — importante notar que ele considera apenas as novas emissões, e ignora outros fatores como a queima, slashing (penalidade aos validadores maliciosos) e carteiras perdidas.

Abaixo podemos ver como ficaria a oferta total de SOL ao longo dos próximos anos, desconsiderando também os mecanismos de queima mencionados anteriormente. Como 50% das taxas de transação serão queimadas, é provável que a moeda se torne deflacionária à medida que aumente o grau de adoção da rede. A oferta total hoje é de 522 milhões de SOLs.

Considerando a curva de inflação apresentada, é possível estimar o retorno anual dos validadores para diferentes percentuais em stake, conforme mostra o gráfico abaixo. Essas projeções consideram apenas a emissão de novos tokens, e não levam em conta fatores como taxas de transações e slashing — a tendência é que essa rentabilidade seja bem maior à medida que a adoção da rede aumente, oferecendo um retorno interessante para que a rede se torne cada vez mais descentralizada.

Da distribuição inicial de tokens, cerca de 38% ficaram com investidores, 39% com a Comunidade (sob gestão da Solana Foundation), 13% com o time e 10% com a Solana Foundation.

Fonte: Binance

No gráfico abaixo podemos observar a evolução do percentual de tokens em circulação à medida em que o período de lock-up e vesting dos investidores vai se encerrando — importante notar que esse gráfico não considera a emissão de novos tokens. A partir de janeiro de 2023 todos os tokens já estarão em circulação no mercado. Como um percentual relevante da base está na mão de investidores de venture capital, que em algum momento vão precisar se desfazer dos tokens, é possível que tenhamos pressão de venda no futuro.

4. Fundamentos

Um dos principais desafios enfrentados pela blockchain da Ethereum hoje é a escalabilidade. Com o aumento no volume de transações observado nos últimos anos, a rede passou a ficar congestionada e viu o custo do gás subir de forma significativa, saindo de U$ 0,08 para mais de U$ 70 por transação. Os problemas começaram em 2017 com o lançamento dos NFTs do jogo CryptoKitties e se acentuaram a partir de 2020 com o boom de “Defi”, o que tornou a rede inviável para alguns tipos de transações. Com isso, surgiram diversas outras blockchains com soluções alternativas buscando uma melhor escalabilidade para absorver o excesso de demanda da Ethereum. O gráfico abaixo mostra um pouco dessa dinâmica, com a perda de market share da Ethereum (em relação ao Total Value Locked — “TVL”) para outras Layer1s — nos últimos 12 meses perdeu cerca de 12%, enquanto a Solana por exemplo saiu de 1% para 3.7%.

Fonte: Defillama

Um dos principais diferenciais da Solana é o baixo custo, muito inferior ao das demais blockchains, conforme apresentado pelo gráfico abaixo. O custo médio das transações é de $0.00025.

Em relação à performance podemos observar que o número de transações por segundo da rede da Solana é bem superior à rede atual da Ethereum e demais concorrentes, como Avalanche, Cosmos e BSC. Como o software da Solana foi desenhado para não interferir na capacidade computacional dos hardwares, a performance da rede tende a melhorar de forma proporcional à evolução dos hardwares no futuro. Importante destacar que na arquitetura da Solana os votos utilizados no mecanismo de consenso também contam como transações, ao contrário de outras redes, portanto a velocidade real da rede é menor do que a divulgada.

Fonte: Plataformas e The Block

Outro dado importante para analisarmos é o tamanho da comunidade, e um dos indicadores para medir isso é o número de seguidores no Twitter. Podemos observar na tabela abaixo que a Solana é uma das maiores entre as layer1s alternativas, atrás apenas da Binance Smart Chain. Quanto maior uma comunidade maior o seu alcance para promover novas iniciativas, anúncios e maior o engajamento potencial para novos projetos.

Fonte: Twitter

Em relação ao número de desenvolvedores a rede é uma das que mais cresce, com crescimento próximo a 400% em 2021. Além disso, é uma das que possui o maior número de desenvolvedores também.

Fonte: Eletric Capital Devs Report 2021

Apesar do bear market iniciado no final de 2021, atualmente o número de carteiras ativas na rede é superior ao do final do ano passado. Isto mostra que a adoção por parte dos usuários finais segue crescendo, independente das condições adversas de mercado.

Fonte: Solscan

Na tabela abaixo podemos observar alguns dados financeiros e de atividade da rede no último trimestre. Apesar da queda na receita, que saiu de U$ 20 milhões no 4Q21 para U$ 6 milhões no 2Q22, uma redução de 68%, os dados de atividade continuam sólidos, com o número de novos NFTs crescendo mais de 50% e o número de contas que pagaram por pelo menos uma transação por dia mais do que dobrando nesse mesmo período.

A média de transações totais por dia caiu cerca de 17% no período, com as transações não votantes (que representam a atividade real da rede) caindo 54%. Podemos atribuir parte dessa queda de receita, portanto, à queda superior a 60% do token SOL, que é a moeda utilizada para pagar as taxas de transação na rede e vem sofrendo como todo o mercado.

Fonte: Messari

As principais fontes de receita / clientes da Solana são provenientes do ecossistema da Serum, que fornece o backend para trades de alta frequência com book de ordens similar ao modelo da Nasdaq. Na tabela abaixo podemos observar os 8 projetos que fizeram mais transações em 2022 — desses, a Serum DEX, “111”, Mango Markets, Raydium e Jupiter são plataformas de trading que utilizam a Serum; Pyth e Switchboard são oráculos e o Token Program é relacionado ao mint de tokens e NFTs.

Para avaliar a sustentabilidade da Solana é importante entender que, antes de mais nada, ela é uma empresa que vende espaço nos blocos e precisa em contrapartida remunerar os validadores para garantir a segurança da rede. Para que seja sustentável no longo prazo, a receita gerada precisa ser suficiente para pagar a taxa mínima de retorno exigida pelos nodes. Na tabela abaixo observamos o retorno nominal e real (nominal — inflação) recebidos pelos validadores de cada uma das principais blockchains do mercado.

No caso de Solana, o retorno nominal está em torno de 6,6% a.a. — como a inflação é de 5% a.a. atualmente, o retorno real é de apenas 1.6% a.a., o mais baixo do mercado, e isso pode ser explicado pelas baixas taxas cobradas pela rede. Esse retorno é sustentável a longo prazo? Entendemos que não, pois está um pouco acima da taxa média de juros real americana e, portanto, não seria suficiente para compensar o risco de carregar SOL. No entanto, a Solana é uma startup em seus anos iniciais e em uma indústria ainda pouco madura e com muito potencial de crescimento, portanto acreditamos que a rede tem potencial para multiplicar sua receita muitas vezes no futuro e se tornar autossustentável.

Fonte: Delphi Digital, 24/04/22

Em termos de valuation, a rede negociava próxima de 600x lucro no fechamento do 2º trimestre, assumindo uma margem de lucro de 100% (pois os custos de processamento são dos validadores), cerca de 50% das receitas são distribuídas para os validadores (dividendos) e os outros 50% são queimados, com efeito semelhante a um “buy back” (recompra de ações). Apesar de parecer um múltiplo bastante esticado, entendemos que o potencial de crescimento nos próximos anos é muito grande, conforme mencionado anteriormente.

5. Governança

A Solana Labs, fundada por Anatoly Yakovenko e Raj Gokal, é a instituição responsável pela criação da blockchain da Solana. Atualmente estão focados no desenvolvimento de novos produtos, ferramentas e melhorias para desenvolver o ecossistema. Em abril de 2020 anunciaram a criação da Solana Foundation e transferiram a maior parte dos ativos em tesouraria para ela.

A Solana Foundation é uma organização sem fins lucrativos dedicada à descentralização, segurança e crescimento da blockchain da Solana. Dentre as principais iniciativas podemos destacar o “Delegation Program” em que a fundação delega seus recursos em tesouraria para validadores pré-selecionados no intuito de aumentar a descentralização e o “Grants Program”, que oferece funding para projetos que possam contribuir com o desenvolvimento da rede. Além da Foundation, a Solana Ventures também participa do financiamento de projetos — juntas, levantaram um fundo de U$ 100 milhões em jun/22; em dez/21 já havia levantado um fundo de U$ 150 milhões em parceria com a Griffin Gaming e em nov/21 outro de U$ 100 milhões em parceria com a FTX, todos com foco em games.

As pessoas chave do ecossistema da Solana são os fundadores Anatoly Yakovenko e Raj Gokal, ambos com sólido background no setor de tecnologia, e Sam Bankman-Fried, fundador da FTX e da Alameda Research (VC que investe na Solana) e uma das figuras mais influentes do universo cripto.

A Solana têm sido pouco transparente em relação aos próximos passos de seu roadmap. De acordo com seus desenvolvedores, apesar de ainda estar em fase beta, a rede já está 100% operacional, mas ainda em fase de desenvolvimento. Através de seu GitHub podemos observar as principais atualizações em que estão trabalhando (já explicadas na sessão de Arquitetura) e seus respectivos status (em 19/07/2022):

QUIC: Transição do protocolo UDP para QUIC — Em fase de testes, expectativa de entrar em produção em breve.

Execução priorizada pelos fees: Em desenvolvimento.

Transações priorizadas por stake: Em desenvolvimento

6. Tese de Investimentos

Acreditamos que a Solana é atualmente uma das blockchains mais bem posicionadas do mercado e uma das potenciais vencedoras em um futuro que acreditamos ser multi-chain. Podemos destacar as seguintes vantagens competitivas que corroboram com nossa visão:

(1) Tecnologia: a Solana possui tecnologia de ponta, com inovações como o Proof of History que a tornam uma das blockchains mais rápidas e com o menor custo do mercado. Além disso, é a única dentre seus concorrentes que utiliza a arquitetura monolítica (Ethereum está migrando para modular), que possui diversos benefícios relacionados a composabilidade — como a execução ocorre toda dentro de uma única cadeia, as aplicações podem interagir com as outras de forma mais sincronizada, o que gera efeito de rede dentro do ecossistema. Dessa forma, a Solana se torna praticamente um monopólio nesse nicho.

(2) Funding: possui um dos maiores fundings dentre as layer1s (U$ 335 milhões) e têm como investidores VCs de peso como a16z, CoinShares e Alameda Research de Sam Bankman Fried (também dono da FTX), que é hoje um dos principais nomes do universo cripto e um grande defensor de Solana.

(3) Desenvolvimento: a Solana é uma das redes que possui o maior número de desenvolvedores e uma das que mais cresce, tendo um dos ecossistemas mais maduros dentre as layer1s alternativas com mais de 400 projetos.

(4) Comunidade: possui uma das maiores comunidades dentre as redes alternativas à Ethereum, o que é muito importante para o engajamento/adoção de novos projetos e iniciativas.

Conforme apresentado nos gráficos abaixo, um dos segmentos mais relevantes e que mais crescem atualmente é o de blockchain games. Acreditamos que esse setor será um dos líderes do próximo bullmarket e um dos potenciais catalisadores de novos usuários no ecossistema cripto nos próximos anos pelos seguintes motivos: (a) facilidade em ganhar tração — a maior parte dos gamers são jovens e possuem facilidade de adotar novas tecnologias; (b) independência de regulação; (c ) resolve um problema real que é a propriedade digital sobre os ativos dentro dos jogos (e possibilidade de realizar transações no mercado secundário) e (d) é um dos segmentos que têm mais atraído a atenção dos VCs, que investiram bilhões de dólares nos últimos meses para desenvolver novos jogos em blockchain — o resultado disso deve começar a aparecer ao longo dos próximos anos, a medida que os jogos sejam entregues ao mercado.

Fonte: State of the DApps, Morgan Stanley Research

Entendemos que a Solana está muito bem-posicionada para capturar parte do fluxo gerado por esse segmento por ser uma das blockchains mais rápidas e com menor custo do mercado, o que é essencial para o bom funcionamento dos games. Além disso, a rede possui um baixo custo de onboarding para novos usuários e cerca de U$350 milhões em fundos de VCs direcionados para fomentar o desenvolvimento de novos jogos em seu ecossistema nos próximos anos.

Dentre os principais games sendo desenvolvidos na Solana atualmente podemos destacar o Aurory, jogo japonês de RPG que levantou mais de U$100 milhões e possui parceiros relevantes como a Animoca Brands e GenBlock Capital e uma comunidade muito ativa no Twitter, com mais de 180 mil seguidores e que mintou os primeiros 10.000 NFTs em apenas 3 segundos no final de 2021. Outro destaque é o Star Atlas, um dos projetos mais ambiciosos do universo de cripto games com mais de 300 mil seguidores no Twitter e que pretende criar um metaverso que se passa no espaço no ano de 2.620.

Outro segmento que têm ganhado bastante destaque é o de NFTs voltados para artes e música, com crescimento exponencial ao longo de 2021 e que assim como os games se beneficia de uma rede com taxas de transação baixas como a Solana, que pode ser uma das blockchains vencedoras nesse segmento também — recentemente vimos usuários pagando mais de U$ 40 mil (totalizando mais de U$180 milhões) de gás para tentar mintar NFTs do Bored Ape na rede Ethereum. No início de 2022, a plataforma descentralizada de música e streaming Audius, que possui mais de 7 milhões de usuários, anunciou sua migração da rede Ethereum para a Solana, pois as taxas da rede Ethereum estavam comprometendo o crescimento da plataforma — acreditamos que essa tendência pode continuar ao longo dos próximos anos.

A tabela abaixo apresenta o ranking de volume negociado e transações de NFTs por blockchain dos últimos 30 dias e corrobora com nossa tese, com a Solana liderando em quantidade de transações e ficando em segundo lugar em volume de transações, atrás somente da rede Ethereum.

Já o gráfico abaixo mostra que, apesar do bear market, o volume de novos NFTs na Solana segue crescendo, o que também é muito positivo. Um reflexo disso é que o Magic Eden, plataforma de negociação de NFTs da Solana, chegou a ultrapassar o Open Sea em número de transações por algumas vezes ao longo dos últimos meses.

Além dos NFTs e GameFI, a rede surge também como uma forte candidata no segmento de trading de alta frequência devido à sua alta velocidade de processamento e baixos custos. Um dos principais projetos sendo desenvolvidos nesse ecossistema é a Serum, que fornece o backend para que outras plataformas possam oferecer trades no modelo de book de ordens similar ao da Nasdaq. Esse modelo é muito mais eficiente do que o de pools de liquidez que se consolidou em outras blockchains e têm como principal player a Uniswap, que é o maior gerador de receitas da Ethereum. Atualmente o ecossistema da Serum (ex: Mango Markets) é o maior gerador de receitas da Solana e esse projeto possui grande potencial para fornecer a infraestrutura necessária para corretoras tradicionais e bolsas de valores penetrarem no mundo cripto. A FTX pode ajudar a catalisar esse processo, pois é um dos principais parceiros e investidores do projeto e possui uma alta capacidade de atração do público de varejo.

A alta velocidade de processamento da Solana também é fundamental para os desenvolvedores, que são os clientes imediatos das blockchains — em outras redes eles acabam por usar o mínimo possível de espaço nos blocos para reduzir os custos de transação através de uma arquitetura bem mais complicada do que o necessário, com as redes offchain e sidechains/layer2s — isso aumenta o tempo de desenvolvimento e adiciona limitações à funcionalidade dos protocolos. O crescimento expressivo no número de desenvolvedores da Solana é reflexo disso.

Outros dois importantes vetores de crescimento no futuro são a Solana Pay e a Solana Saga. A Solana Pay é um projeto desenvolvido em conjunto com a Circle e que irá permitir que comerciantes aceitem pagamentos em criptomoedas como o USDC e a SOL sem a necessidade de intermediários por uma fração do custo atual e de forma instantânea — é bom lembrar que a blockchain Terra estava ganhando tração na Coréia do Sul com seu sistema de pagamentos CHAI, que tinha uma ideia parecida com o da Solana Pay e chegou a ter mais de 2 milhões de usuários até o colapso da stablecoin UST. Como é mais rápida e possui custos menores que as demais blockchains, com volume de transações por segundo (‘TPS’) inclusive superiores à Visa e Mastercard (em teoria), a Solana se torna também um dos principais players para tentar disruptar o setor de meios de pagamentos.

Já a Solana Saga, primeiro smartphone voltado para a web3, surgiu para endereçar o gap dos telefones atuais que não se conectam de forma nativa com as blockchains — com isso, a maior parte dos Dapps são criados para rodar apenas em computadores. Como a maior parte dos usuários da internet estão hoje nos celulares, a adoção de aplicações cripto no mundo mobile pode ser muito maior do que em computadores. Além do telefone, a Solana irá oferecer também a Solana Mobile Stack, que é um kit para auxiliar os desenvolvedores a criarem seus Dapps, e uma Dapp Store, loja de aplicativos descentralizados.

Segundo Anatoly a intenção não é competir com outros players como a Apple no mercado mobile, mas forçá-los a adotar a integração com o mundo cripto no futuro. Entendemos que a iniciativa é muito positiva e se bem-sucedida têm um potencial enorme de trazer novos desenvolvedores e usuários para a rede.

O market cap diluído da Solana é de cerca de U$20 bilhões, apenas 10% do marketcap da Ethereum e, por todos os motivos citados acima, acreditamos que o potencial de ganhar market share e de valorização no longo prazo são grandes.

7. Riscos

Conforme comentamos, um dos principais desafios enfrentados pela Solana atualmente é endereçar o problema de queda da rede que ocorreu com frequência nos últimos meses. Entendemos que uma blockchain de sucesso precisa ser confiável e casos esses problemas não sejam solucionados dificilmente a rede vai ganhar tração no futuro.

Outro desafio importante a ser endereçado é o aumento das receitas, que depende do aumento da adoção, e garante a sustentabilidade da segurança da rede. Em redes de consenso PoS, quanto maior o valor do token nativo e quanto mais valor depositado para validação, mais caro/difícil se torna atacar a rede. Existe um efeito reflexivo importante destas variáveis:

○ Quanto maior a segurança da rede, mais aplicações serão desenvolvidas sobre a Solana

○ Quanto mais aplicações rodando na Solana, maior a demanda por Token SOL e maior a receita da rede

○ Quanto maior o valor de SOL e maior a receita da rede, maior a segurança

Atualmente o múltiplo P/E de Solana é muito alto (600x) e o retorno real de se investir em SOL é muito baixo, existe uma armadilha. Os usuários e investidores de SOL estão subsidiando o crescimento da rede neste momento, dado que os validadores devem realizar altos investimentos iniciais de maquinário e não operariam com um retorno real negativo. Os investidores estão dispostos a subsidiar a rede (validadores), pois acreditam no potencial dela de crescimento e atração de usuários e desenvolvedores que, em consequência, valorizam o ativo SOL. Tempos de bear market são importantes para que as equipes desenvolvedoras do projeto possam se provar e entregar resultados, caso a expectativa de entregas não se concretize, os investidores podem desistir desta aposta e buscar concorrentes que entreguem um modelo com maior sustentabilidade econômica e alta performance.

Outros riscos relevantes para a tese são:

(1) Concorrência: o ambiente de layer1s alternativas está extremamente competitivo e o surgimento de novos players com tecnologia melhor e mais capitalizados é um risco. No entanto, entendemos que a Solana já está em um estágio mais avançado de desenvolvimento, o que mitiga um pouco esse fator.

(2) Equipe: uma eventual saída de membros chave da equipe de desenvolvedores em um mercado cada vez mais competitivo pode ser um fator negativo para o futuro da rede. Isso é parcialmente mitigado pelo fato de a Solana estar muito bem capitalizada no momento.

(3) Adoção: assim como qualquer aplicação cripto, a rede só terá sucesso caso tenha adoção no futuro — para isso, é fundamental o desenvolvimento de aplicações que resolvam problemas da vida real.

(4) Centralização: a Solana ainda é uma blockchain muito centralizada, o que traz riscos em relação às empresas que estão por trás do seu desenvolvimento.

(5) Regulação: como a regulação das criptomoedas ainda não é bem definida, esse é sempre um risco relevante para qualquer tese envolvendo ativos digitais.

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Disclaimer: Este conteúdo possui caráter estritamente educacional e não constitui recomendação de compra ou venda de ativos.

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