Dica da Bere #74 Durval Discos

Porque não cansamos de dizer que tem muito cinema nacional de qualidade por ai

É difícil compreender como um ganhador de sete Kikitos de Ouro no Festival de Gramado, incluindo o de Melhor Filme e Melhor Direção, tenha caído em um certo esquecimento entre o público.

Lembramos quase sempre de grandes filmes como Tropa de Elite e Cidade de Deus e esquecemos de outros menos famosos mas igualmente bem executados.

É o caso da Dica da Bere de hoje: Durval Discos, de Ana Muylaert, responsável pelo mais recente e maravilhoso Que Horas ela Volta.

Durval mora com a mãe no local onde também funciona uma loja de discos nomeada — não fica claro por quem — em sua homenagem. Devido ao cansaço da mãe, já contando mais anos de idade do que momentos lucidez, eles contratam uma empregada doméstica de nome Célia (Letícia Sabatella) que aceita, misteriosamente, trabalhar por apenas 100 reais mensais.

Quando tudo parecia caminhar para o clichê óbvio da comédia romântica em que surge uma mulher na vida do protagonista para muda-la para melhor, o roteiro milimetricamente calculado joga todas as expectativas do público para o alto. No momento em que Célia desaparece, deixando para trás uma menina e um bilhete, pedindo para que eles cuidem da garota que seria sua filha por dois dias, da-se início ao pesadelo de Durval e ao deleite dos que apreciam um bom conflito nas telas.

Coisas para prestar atenção:

Os Cenários

A direção de arte conjura um ambiente antiquado, recheado de cultura pop, sem esquecer de criar uma separação clara entre a casa típica da classe média baixa paulista dos bairros afastados do centro e a loja de discos/santuário da musica que, entre outros signos, simboliza a nostalgia óbvia de uma geração inteira.

A Música, claro

A trilha sonora, recheada de clássicos da música underground brasileira, mereceria — e terá — uma análise só dela. De Tim Maia aos inesquecíveis Sá, Rodrix e Guarabyra, passando por Gil, Caetano e os Novos Baianos, sem deixar de causar uma sensível percepção de desgosto aos que percebem a decadência da musica popular que atualmente faz a cabeça dos jovens.

Vale a pena garimpar por ai, visto que o filme não está em nenhum serviço de streaming em qualidade razoável. Existe no youtube uma versão com a imagem mais ou menos aceitável.